[Ed. #49] Discovery Hemp: Maconha - A Porta de Saída do Crack!

por Dr. Moura Verdini

Nas semanas anteriores abordei o jargão da maconha como "a porta de entrada para o mundo das drogas" utilizando argumentos dos contextos químicos, biológicos e sociais numa tentativa de mostrar que, na maioria dos casos, essa sentença é falsa. Hoje, abordaremos a questão sob um outro ponto de vista, exatamente o oposto do que estamos acostumados a ouvir. Hoje, lhes apresento a maconha como a porta de saída, se não de todo o mundo das drogas, pelo menos na recuperação dos pacientes viciados em crack

Em um estudo realizado na periferia de São Paulo, vinte pacientes do sexo masculino dependentes de crack foram acompanhados por um período de cerca de nove meses. Inicialmente, tais pacientes eram acompanhados por um psicólogo e eventualmente algum paciente dizia ter fumado maconha como automedicação numa tentativa de diminuir os sintomas da abstinência. Quando os pacientes relatavam o uso de maconha entravam no programa do tratamento onde nenhuma outra droga poderia ser usada para diminuição dos efeitos da abstinência.

Foi observado um padrão no uso de Cannabis por estes pacientes dependentes de crack. No início do tratamento, utilizavam Cannabis intensivamente, fumando diariamente cerca de três a quatro baseados durante os três primeiros meses. Nos meses subseqüentes, houve uma redução espontânea do uso de maconha em 14 pacientes (dos 20 que entraram no programa, 4 desistiram antes do final do programa, então seriam 14 em 16), podendo classificá-los como usuários recreacionais ao final dos nove meses. Esta redução espontânea do padrão de uso ocorreu já que muitos pacientes declaravam que o uso pesado de maconha acarretava em alguns efeitos indesejáveis.

O uso de maconha se mostrou eficaz no tratamento da dependência do crack. Os pacientes relataram que sentiam redução na ansiedade e nos sintomas de "fissura" decorrentes da abstinência. Além disso, tiveram um importante ganho de peso, melhora na qualidade do sono e sentiam menos vontade de sair para procurar outras drogas. Além disso, alguns pacientes citaram que o ritual de preparo do baseado simulava o ritual de preparo do cachimbo de crack, já que este também é fumado. Este fato contribuiu para o controle da abstinência nestes pacientes.

A maconha é uma droga que possui efeitos psicoativos bastante diferentes do crack, sendo que a maconha é um relaxante enquanto o crack deixa o usuário mais eufórico. Este fator biológico por si só poderia explicar a eficiência do uso de maconha no tratamento de dependência por crack, porém, a diferença nos rituais sociais de uso das duas substância, que também são bem diferentes, ajudaram na recuperação dos pacientes que alegaram terem se tornado mais caseiros, passando mais tempo com a família do que na rua à procura da droga. Será que além do crack, a maconha pode ser usada no tratamento de dependentes por outras drogas? Esperamos que nossos cientistas e políticos atentem para a importância deste tipo de estudo, cujos resultados influenciam grandemente na nossa sociedade.