[Ed. #65] Chapa2: Marcha da Maconha de São Paulo 2010! Marcha, Soldado!

Ano passado a Marcha da Maconha não aconteceu. O Gandhia foi proibido. Esse ano o organizador conseguiu o Habeas Corpus, mas uma liminar na justiça novamente disse não ao debate pela legalização. São Paulo reluta usando forças obscuras não contra a droga, mas contra a tentativa de uma mudança no esquema, nas leis e formas de obtenção da maconha. Será crime debater idéias? Porque a capital econômica do país tem tanto pavor da nossa cultura e informação?

Dois manifestantes foram presos porque seguravam diferentes cartazes. Um dizia: “Não fumo, não planto, não compro, não vendo. Não condeno!” e o outro reverberava a famosa frase do Planet Hemp: “Não Compre, Plante”. Ambas parecem contra o crime organizado por trás da droga. Muitos policiais apontavam com raiva para os adesivos do GrowRoom, mandando tirar, por causa da folha e do dizer: “Você sabia que o cultivo caseiro enfraquece o crime organizado?“. E o comandante lia em voz alta e dizia depois: “O crime caseiro é crime!”. E nós nos perguntávamos: Pois é, porque? E porque não se pode questionar essa proibição?

A equipe do Hempadão foi a primeira a chegar no local. Viu a faixa ser aberta com todo esmero e cuidado. Ameaçou, não choveu. Os punks apareceram, fizeram faixas. Aos poucos manifestantes de todos lugares começavam a aparecer e o ato a tomar forma. Cadê a polícia? Era a pergunta na cabeça de qualquer militante que já participou de mais de uma Marcha. É claro que ela ia aparecer. Chegaram antes os megafones e então começou a fumaça de idéias marolar a marquise. Aquele senhor barrigudo de jaqueta preta que olhava ao longe toca o rádio, guardas do parque fazem a ronda e só interferem para mandar descerem da árvore. De repente vem de moto uma tropa de pelo menos oito.

Documentos, argumentos. Nada disso serve diante da truculência da guarda. Quem viu as fotos da Hempada deve ter notado o humor de grande parte dos militares. Nada de Marcha, mas isso não se impede. É como querer proibir o fumo pondo algemas na fumaça, só nebula. Disfarçada de Marcha pela Liberdade de Expressão, a multidão formada por pelo menos 400 pessoas queria mais do que isso, queria era a legalização da maconha, como disse qualquer mídia que cobriu o evento.

Falharam em proibir. E também falharam ao proibir. A Marcha da Maconha aconteceu com muita polícia ao redor, mas também com a presença importante do Deputado Paulo Teixeira, além do militante Renato Cinco e a Soninha Francine, que marcou presença pela segunda vez. A polícia gravou toda a Marcha, focando no rosto de cada militante através de uma câmera especial da polícia. Mas os manifestantes andam pelo parque, e gritaram de tudo, até que maconha era uma delícia. Embora a polícia não tenha se rendido, nem ao movimento de abraços grátis que deu de encontro com o caminho seguido pela nação maconheira.

Não calaram a voz de ninguém. Não conseguiram abafar o movimento e muito menos que cada um dos manifestantes saíssem do Parque do Ibirapuera e fosse para suas casa meditar em paz. Que fique claro que a galera provou mais uma vez que qualquer ato de proibição é vago. Prender dois deu mais mídia. Spray de pimenta na boca do jornalista deu raiva da polícia aos jovens indecisos. Proibir a Marcha é dar ainda mais visibilidade à Maconha.

Quem tava lá, ou quem conhece de perto essa cultura, sabe que a raiva, arrogância e violência não vem da parte do usuário. Estão todos os organizadores de parabéns, assim como cada um que apareceu e marchou junto! Foi uma honra participar e um prazer conhecer a militância paulista! Vamos juntos passo a passo construindo essa revolução! Podíamos ter cantado: “Marcha soldado, cabeça de papel…”, só não ia chamar pro quartel de portão vermelho… que pegou fogo!