[Ed. #73] Adão e Erva: Ninguém me Contou a História da Maconha - Por quê?!

Pra começo de conversa Adão nunca conseguiu digerir essa história de "erva do demônio" e, se Deus existe, certamente isso não lhe agrada. Teria Deus errado na criação da Erva? Não... diz a tradição cristã que o Maldito teria se apossado de algumas espécies na terra e a cannabis seria uma delas. Mas isso desde quando? Porque todo mundo sabe que a primeira impressão da bíblia se deu em papel de cânhamo, a época um suporte sagrado.

Religião é assunto recorrente nas análises de Adão, mas hoje o assunto é outro, é a Erva. A marginalização cultural da planta e sua proibição fazem com que diariamente, no mundo, milhões de pessoas produzam conteúdo e ratifiquem a cultura de seu uso e plantio natural. Adão, homem milenar e vivo na sabedoria do homem comum, já ouviu diversas vezes dizerem que tal como Cristo, crucificado, a cannabis só se fortalece como cultura, a cada ato de proibição.

Mas a pior das censuras não é a lei, que essa mal consegue impedir o beck aceso na mão do leitor, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. O pior é a simples abstração da história. Qualquer criança de 12 anos já deveria ter ouvido falar em cânhamo na escola, seja pela história do Brasil, da colonização ou até mitologia. Mas o que acontece é que as informações a respeito da cannabis são simplesmente subtraídas de seus contextos. Na universidade fala-se em Baudelaire, o livro Flores do Mal, mas não citam o Poema do Haxixe.

É sempre grande surpresa para os alunos de sociologia quando se diz que os grande nomes como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda fizeram uso da maconha. Isso sem falar nas propriedades medicinais que foram simplesmente eliminadas do geral do conhecimento popular, substituida por uma história muito mal contada de ineficiência e drogadição. Muitos autores se auto-censuraram, claro, assim como hoje muitos artistas ainda o fazem, ou não.

Uma notícia de terça da Tribuna do Norte, fez reviver a questão. Segundo o escritor Moacy Cirne, a editora Global de São Paulo teria cometido um crime ao relançar uma adapatação muito mal feita da obra de Câmara Cascudo, o "Dicionário do Folclore Brasileiro, original de 1954. O corte e descontextualização da obra foi total e caiu até o nome de Homero, poeta maior da grécia e amigo querido de Adão, é claro que caiu a Erva. Veja você:

"Além da inserção de textos inéditos, ainda houve a exclusão de trechos, que Moacy considera ter sido realizada a partir do juízo de valor da revisora. A exclusão do termo “Maconha” é um bom exemplo. No original constava o verbete acompanhado de sua definição, mas não havia nenhum tipo de informação mais apaixonada, que justificasse a retirada do termo. “Cascudo não fazia apologia à maconha. Suponho que a supressão do termo tenha sido uma questão de preconceito”."

Preconceito... aquele que demitiu Soninha da Tv Cultura. E o que fez Fernando Henrique Cardoso perder a eleição de prefeito de São Paulo contra Jânio Quadros, em 1985. Do Diário do Grande ABC, reportagem de Guilherme Russo: "durante a campanha, o oponente de FHC repetia aos quatro ventos que o sociólogo era "maconheiro".

"A única vez que senti o cheiro de maconha foi nos Estados Unidos, no PJ Clarke, um bar famoso que tem lá. Eu estava com uns primos meus e alguém estava fumando maconha. E eu achei horrível (cheiro da erva queimada)", conta. O ex-presidente deu essas declarações em uma entrevista. E Jânio Quadros tripudiou o quanto pôde.

Foi nessa eleição que FHC também pegou a fama de ateu. Mas foi Deus ou a maconha que lhe tirou a cadeira de prefeito?
"Isso (ser chamado de maconheiro) foi muito mais grave. Essa história toda é mal contada. O Jânio ganhou porque foi mais competente do que eu na campanha. Ele tinha muito mais experiência do que eu", conclui com bom humor o ex-presidente."!

Independentemente de qualquer coisa, esse ano o FHC permanece impedido de falar, simplesmente porque pega mal. Ninguém fala sobre maconha para as crianças e elas são educadas sobre drogas vendo o que diz a televisão, que ora glamouriza ora pinta o cão no noticiário ou personagem fonte oficial da idade média. Se no campo do conhecimento a censura incomoda e alimenta essa insatisfação, imagina quando Adão lembrar da renúncia industrial por trás de nossa potencialidade com o cânhamo.

Não se pode dizer que Jack Herer fez apologia dizendo que a maconha vai salvar o mundo, embora isso possa parecer completamente absurdo aos olhos até dos usuários. Mas também não é de hoje que condenamos nossos profetas. Adão pede um minuto de silêncio pela falta de liberdade, mas só um minuto. Porque o que ninguém aguenta mais é ser discriminado em silêncio.