[Ed. 74#] Discovery Hemp: Maconha, Álcool e Direção Combinam?

por Dr. Moura Verdini

Uma das principais causas de acidentes no trânsito se deve ao estado alterado da consciência dos motoristas. O álcool é, de longe, o maior vilão desta história e seu uso associado à direção transforma automóveis em armas que matam milhares de pessoas todos os anos mundo afora. O foco não é, porém, o efeito que o álcool tem sobre as habilidades no volante, mas sim os efeitos que o uso de maconha pode ter sobre motoristas que após fumar, se aventuram no volante. Quantos dos leitores já dirigiram após fumar um baseado? Qual a sua opinião a respeito do assunto partindo do principio da experiência própria? Será que o uso de maconha prejudica as habilidades do motorista em conduzir um veículo, afetando suas capacidades psicomotoras e cognitivas, aumentando as chances de envolvimento em acidentes de trânsito? Existe alguma relação entre a dose utilizada e a piora da performance no trânsito? O uso combinado de cannabis e álcool possuem efeito de sinergia na redução da capacidade de conduzir um veículo?

O Discovery Hemp discutirá hoje o assunto tendo como base estudos norteamericanos sobre o comportamento de seus motoristas no trânsito e as principais causas dos acidentes de trânsito. A preocupação das autoridades governamentais em relação ao efeito prejudicial de diversas drogas sobre a direção levou estudiosos a avaliarem a porcentagem de motoristas que estão sob o efeito de drogas, incluindo a maconha e se, este número é estatisticamente significante para implicar numa comprovada redução da capacidade de direção dos motoristas, além de testes em laboratório avaliando a performance dos motoristas enquanto dirigem sob o efeito e sem o efeito das drogas.

Cerca de 4 a 14% dos motoristas envolvidos em acidentes de trânsito com feridos ou que tenham sido fatais estavam sob o efeito de maconha. No entanto, desses mesmos motoristas, entre 50 a 80% também estavam sob o efeito de álcool, o que pode potencializar os riscos de acidentes automobilísticos. Além disso, nestas situações reais existe a falta de um grupo controle no qual nos baseamos comparativamente os efeitos negativos das drogas sobre o organismo durante o ato de dirigir. Epidemiologistas tentam driblar esta falta de grupo controle analisando a “culpabilidade” dos motoristas sobre o efeito de maconha, envolvidos em acidentes de trânsito, ou seja, se os motoristas foram culpados pelos acidentes ou se não tiveram culpa. Os motoristas considerados culpados são os casos e os motoristas inocentes são o grupo controle. Nestes casos, é interessante notar que a culpabilidade de motoristas sob o efeito de maconha é semelhante a motoristas que não estão sob o efeito de nenhuma droga.

Estes estudos que levam em consideração a culpa do motorista no acidente em questão, chegaram a conclusão de que o álcool apenas ou o álcool associado a maconha aumenta significativamente as chances de envolvimento em acidentes de trânsito. Na maioria dos casos, o efeito de álcool e maconha juntos parece ser sinérgicos no que se trata das chances de envolvimento em acidentes. O uso de maconha sozinha, no entanto, não aumenta as chances de acidentes no trânsito. No entanto, estes estudos mostram que a dose de maconha utilizada pode estar relacionada com o aumento gradativo da culpabilidade. Nos casos estudados, motoristas com maiores concentrações de THC no sangue forma considerados culpados em uma taxa significativamente maior do que aqueles com baixa concentração de THC. Uma dose estimada de 5ng de THC por ml de sangue aumentou a culpabilidade em 6.6 vezes quando relacionada a motoristas livres de
drogas em um estudo realizado na Austrália.

O Discovery Hemp voltará a este assunto discutindo os casos controlados do uso de maconha sob a capacidade de direção dos motoristas. Até lá, gostaríamos da opinião do leitor sobre o assunto, principalmente de quem já utilizou maconha e álcool, seja isolados ou em combinação ao dirigir. Lembrem-se que direção necessita do máximo de concentração e que envolve vidas de várias pessoas. Neste caso, o Discovery recomenda o máximo de sobriedade para desempenharmos funções de tal risco. Até a próxima semana!