[Ed. 88#] Discovery Hemp: A Maconha como Medicina!

por Dr. Moura Verdini

A Cannabis possui, historicamente, um uso bastante diversificado como agente terapêutico e medicinal, tendo sido usado por diversas culturas tradicionais ao longo de mais de 5000 anos. Recentemente, o interesse da medicina moderna sobre os efeitos benéficos da maconha sobre a saúde e seu potencial como erva medicinal tem aumentado bastante. Por um lado, o fato de a maconha ser a droga mais consumida no mundo após o álcool e o tabaco gera um interesse do meio científico em termos de saúde pública, no que se trata de benefícios versus malefícios provocados pela cannabis. Por outro lado, os diversos artigos e livros escritos por populações tradicionais têm aberto os olhos da ciência moderna para uma erva cujo potencial de cura pode ser maior do que muitos remédios atualmente utilizados.

De fato, as pesquisas têm avançado rapidamente nas últimas décadas, e diversos usos terapêuticos têm sido confirmados como tratamento de glaucoma, redução de dores em pacientes com câncer e AIDS, redutor de stress físico e mental, tratamento de asma, entre muitos outros que já foram citados mais detalhadamente aqui no Discovery Hemp. O fato de uma única erva proporcionar tantos benefícios à saúde e possuir um uso tão diversificado no tratamento de doenças leva a discussão da legalização da maconha para o campo científico, ao menos no que se trata da legalização medicinal. Como todo remédio, os benefícios são pesados contra os efeitos colaterais antes de serem aprovados e liberados para uso do público mediante receita médica. No que diz respeito à maconha, o embate da legalização no meio científico gira em torno exatamente desta questão. Por um lado, a maconha pode ser usada como tratamento de diversas doenças por outro, cientistas e médicos se preocupam com os efeitos psicotrópicos da erva, tratando-os como efeitos colaterais indesejáveis.

Diante desta discussão, pesquisadores da Califórnia, um dos primeiros estados norte-americanos a legalizar o uso medicinal da erva, descobriram que um agente químico utilizado em inseticidas pode bloquear os efeitos psicotrópicos da maconha sem afetar o seu potencial medicinal. Como já foi explicado aqui em posts mais antigos, o THC age no organismo interagindo com os receptores canabinóides encontrados em células de diversos tecidos e sistemas do nosso organismo, incluindo os órgãos que compõem o sistema nervoso central. Segundo os pesquisadores da Universidade da Califórnia, o organofosfato, quando se combina com o THC, bloqueia seus efeitos psicotrópicos, sem interferir nos efeitos medicinais. Esta combinação foi testada com sucesso em ratos e os pesquisadores estão animados com os resultados que abrem novos caminhos para a pesquisa de novos agentes que podem bloquear os efeitos não desejados do uso da maconha sem alterar os usos medicinais desejados.

No entanto, é necessário cautela ao utilizar tais combinações como a do organofosfato citada acima. "Se você começa [a pesquisa] com algo derivado de um pesticida, você precisa ter um cuidado especial", disse ao site da revista científica New Scientist o toxicologista John Casida, que liderou a pesquisa. A combinação da substância com o THC pode bloquear os efeitos psicotrópicos da maconha, mas pode trazer novos efeitos colaterais indesejáveis, talvez mais perigosos e nocivos do que os efeitos do THC puro.