[Ed. 92#] WeedNews: O Conflito Complexo em Guerra com o Discurso da Banalidade!

por Marco Hollanda

Na semana em que qualquer fato ou problema perdeu importância diante dos confrontos no Rio Janeiro, o WeedNews não poderia fugir desta temática. Afinal, trata-se de uma legítima guerra às drogas em que o único foco de combate ocorre nas favelas, local onde as substâncias ilícitas apenas chegam ao final da cadeia de produção e destruição.

O clima de constante tensão na cidade, somado a uma lamentável expansão de um sentimento fascista impede a realização de uma análise com a complexidade exigida. Também é preciso destacar o pífio trabalho da imprensa, que despreza quase todos os ensinamentos da faculdade de jornalismo ao aceitar e divulgar apenas o discurso oficial. Não quero dizer que também é preciso dar voz aos bandidos, mas não precisa ser um especialista na área para saber que este confronto é acima de tudo um projeto de poder. Os jornais falham ao aceitar um combate ao tráfico de drogas limitado apenas a repressão ao varejista.

 

Nem mesmo na euforia causada pela apreensão de armas e drogas ocorre um debate sobre como tudo isso consegue entrar nas favelas. É bem verdade que as forças policiais precisavam combater o domínio territorial de região abandonadas pelo poder público. Mas o grande pecado ocorre ao classificar o resultado deste confronto a uma vitória da atual política de segurança pública do Rio de Janeiro.

 

Se o Estado não está interessado em investigar a estrutura do tráfico de drogas e de armas com toda a sua complexidade, cabe a imprensa o papel de questionamento. Acreditar que a lavagem de dinheiro do tráfico limita-se a uma mansão com hidromassagem dentro da favela não é apenas uma ingenuidade, mas uma estupidez. Se o dinheiro arrecadado com o comércio de drogas ficasse dentro das comunidades, é bem provável que o Complexo do Alemão tivesse uma paisagem semelhante à de Mônaco.

 

Com bem representou o filme Tropa de Elite 2, a polícia do Rio de Janeiro é gravemente contaminada pelo câncer da corrupção. Se no passado as atividades criminosas se limitavam a propina que permitia a circulação de armas e drogas, hoje a polícia corrupta lucra com a ocupação territorial de regiões abandonadas pelo Estado. O tráfico de drogas passou a ser apenas uma entre as muitas atividades ilegais (gato-net, transporte alternativo, segurança privada, etc) realizadas por grupos que receberam o nome de Milícia.

 

Como bem lembrou o sociólogo Jose de Souza Claudio em seu artigo “Violência no Rio: a farsa e a geopolítica do crime”, algumas perguntas fundamentais estão sendo desprezadas. Qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e áreas pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do  bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos a tanto tempo, que nos faz esquecer que ela tem outra finalidade e não a hegemonia no controle do mercado do crime no Rio de Janeiro?

 

Falar em legalização da maconha em um período marcado por excessos ainda soa de forma extremamente ofensiva para parte da população. O argumento de que esta é uma guerra às drogas que se presta a objetivos nefastos infelizmente é entendido com a defesa de maconheiros preocupados apenas com o próprio baseado. Por isso, a linha de ação do ativismo canábico deve ser muito bem estruturada antes de qualquer manifestação pública. É fundamental que se faça um posicionamento sobre o que está acontecendo no Rio de Janeiro, pois, no papel de usuários de drogas ilícitas estamos diretamente inseridos nesta questão. Mas o momento é de profunda reflexão e cuidado com a disseminação de ideias de caráter individualistas e preconceituosas.