terça-feira, 23 de novembro de 2010

Simpósio em Salvador discute os desafios em redução de danos dos usuários de drogas

texto e fotos por Cebola
ilustração de Hkoblitz

 

A abertura do Simpósio Nacional “Drogas: Notícias do Campo, Lei e Movimentos Sociais” reuniu, na manhã desta terça-feira, 23, em Salvador, atores sociais diversos que trabalham a partir de perspectivas anti-proibicionistas com o uso de drogas na sociedade brasileira. Os pronunciamentos do encontro realizado na Faculdade Politécnica da UFBA foi dividido em mesas temáticas e contemplou em seu pprimeiro momento os principais desafios surgidos do contato direto com os usuários de substâncias psicoativas, em especial no trabalho de instituições ligadas à redução de danos e qualificação do consumo de drogas no país.

 

 

Abrindo os trabalhos, o coordenador da ABESUP Edward MacRae destacou a importância do evento contemplar uma diversidade de campos do conhecimento, em que se constitui uma oportunidade dos atores envolvidos diretamente ligados ao tema contribuírem para o debate social sobre o consumo de drogas na história da humanidade.

 

Em seguida, representando respectivamente o Ministério da Saúde e o Ministério da Cultura, Ana Pitta e Mônica Trigo manifestaram o apoio que o governo federal vem exercendo na tentativa de agendar o assunto das drogas na sociedade. O momento contou com a leitura de uma carta enviada pelo ministro Juca Ferreira, em que destacava o amadurecimento acadêmico brasileiro no assunto e os avanços conquistados com a regulamentação de usos ritualísticos de substâncias psicoativas no país. “A Bahia vem representando bem o Brasil, em especial pelos trabalhos de referência no campo da saúde mental”, destacou Ana Pita. A mesa contou ainda com a fala de João Sampaio Martins, coordenador do Conselho Estadual de Entorpecentes da Bahia (CONEN/BA) que pontuou a conquista de mais cinco cadeiras representativas da sociedade civil no órgão e a importância de que os usuários passem a ser ouvidos os no processo de construção do conhecimento, seja ele farmacológico, cultural ou jurídico.

 

Em clima de boas-vindas e muito aplaudida, a mesa de abertura contou ainda com o pronunciamento do psicólogo Antônio Nery Filho, coordenador do CETAD, que convidou o público presente a refletir sobre os caminhos e desafios vividos em campo pelos grupos sociais na atuação como redutores de danos. “É preciso dar mais voz aos usuários de substâncias psicoativas para conhecer tanto as suas dificuldades e traumas quanto os seus prazeres e usos. De modo que assim possamos constituir uma lei para as pessoas e não para as drogas.”, afirmou o Nery.

Direto do fronte - A primeira mesa de trabalhos “Crack: notícias do campo” contou com a representação de membros que trabalham como redutores de danos em diversas capitais do país: Igor Zinza do Centro de Convivência “É de Lei” que atua na Cracolândia em São Paulo; Luana Malheiro do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA; Marco Manso - foto - da Aliança de Redução de Danos Fátima Cavalcanti que atua nas comunidades do Pelourinho em Salvador e Raquel Martins do Centro Mineiro de Toxicomania. Cada um dos agentes desenvolveu em cima do seu campo de atuação para depois promover um dialogo sobre as principais dificuldades encontradas pelo trabalho de abordagem psicossocial desenvolvido com os usuários de drogas, que permeiam questões da qualificação dos profissionais, bem como o contexto social complexa em que o consumo aparece envolvido. “O grande desafio é transformar o exótico em familiar, de modo que a participação direta na vida dos usuários seja um parâmetro na construção do conhecimento”, afirmou o antropólogo Marcos Manso.

Violência e Movimentos Sociais – A programação do Simpósio Nacional “Drogas: Notícias do Campo, Lei e Movimentos Sociais” teve continuidade durante a tarde desta terça-feira, 23, ampliando a discussão sobre o uso de substância psicoativas na sociedade para questões relativas ao enfrentamento da política proibicionista vigente com a mesa “Significado e Usos da Violência no Tráfico de Drogas” com os sociólogos Eduardo Paes Machado da Faculdade de Filosofia da UFBA e Mechel Misse da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A mesa tratou da construção das violência dentro do tráfico de drogas a partir da proibição de seu consumo, em que a disputa pelos pontos de distribuição, bem como a sua proteção militar, configuram o atual contexto de guerra social vividos nas comunidades pobres dos grandes centros urbanos brasileiros.

 

Encerrando o primeiro dia de atividades, foi realizada a mesa “Redução de danos e Movimentos Sociais”, marcada pela pluralidade de seus membros: Sérgio Vidal, ativista membro da comunidade de cultivadores Growroom; Marcelo Andrade, professor e coordenador do Coletivo BaLaNCe de Redução de Riscos e Danos; Samantha França da médica da família que atua na ONG Viva Rio; Sandra Lúcia do NEIP de São Paulo e Thiago Calil do Centro de Convivência É de Lei.

 

mesa_2

 

Seja como agente redutor de danos ou ativistas sociais, cada um dos convidados apresentou as descobertas pessoais colhidas na experiência de buscar políticas públicas para trabalhar o consumo de drogas sob o viés antiproibicionista. A soma dos relatos pessoais resultou num mosaico de posicionamentos em busca da regulamentação desta prática na sociedade. Algumas destas transformações, inclusive jurídicas, vem sendo aplicadas pelos próprios usuários, como no caso, relatado pelo antropólogo Sérgio Vidal, da prisão e posterior soltura do baixista da banda Ponto de Equilíbrio Pedro Pedrada que ganhou notoriedade midiática ao comprovar seus hábitos de cultivo da planta. “Agora os usuários estão tomando as rédeas do processo, em que prender um sujeito que cultiva uma planta se tornar uma ação de pouco valor para os operadores da lei. Se a Constituição é maior do que a lei, então a Lei de drogas vigente é inconstitucional. A lei de drogas é criminosa e não o cultivador”, afirmou Vidal.

Encontro - O simpósio é um evento realizado pela ABESUP em parceria com o CETAD, grupos de pesquisa do programa de pós-graduação em Antropologia da UFBA e o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP) e está na sua segunda edição. Todas as mesas do dia de hoje foram transmitidas on line por diversas mídias virtuais que atuam no campo de informação sobre o uso de drogas, inclusive no Hempdão. Neste primeiro dia, a transmissão contou com uma audiência média de 70 usuários que acompanharam continuamente a programação.

 

A troca de conhecimentos segue nesta quarta-feira, dia 24, com três novas mesas temáticas para receber as contribuições também de atores do campo jurídico, da comunicação e das organizações sociais. Durante o intervalo, em cortesia do Minc, serão distribuídas edições do livro “Drogas e Cultura: Novas Perspectivas”. No fim do dia será realizada ainda uma plenária em que serão analisadas as contribuições trazidas pelo encontro.

7 comentários:

  1. infelizmente eu nao fui um desses 70 usúario que viram a transmissao.
    muito bom isso espero que continue tendo mais, e em varios lugares do Brasil.
    Que bom que o país está caminhando a favor da liberdade, isso é aos poucos mesmo. Eu sinceramente acredito que em 2020 nossos filhos vão estar mais abertos a informação, e terão meios de informação decente como este blog.

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  2. Depois dizem que maconheiro é vagabundo. Galera da redação canábica não pára de escrever, mermão! É uma matéria atrás da outra. Parabéns, Hempadão e muito obrigado.

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  3. Depois dizem que maconheiro é vagabundo. Galera da redação canábica não pára de escrever, mermão! É uma matéria atrás da outra. Parabéns, Hempadão e muito obrigado.2

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  4. Mal posso esperar pela Marcha da Maconha de 2011!

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  5. Massa Hempada,Perdi o Primeiro Dia,Vou Ver Se Consigo Ver O D Hoje.

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  6. assiste uma parte ao vivo, mas não pude acompanhar na integra, obrigado hempadão.. sempre salvando aquela informação de qualidade, abraaço!
    #pipiripom..
    paz, justiça e liberdade!

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