[Ed. 92#] Adão e Erva: Enquanto quem fuma Maconha pede Paz - Quem Incinera, faz a Guerra!

Não se tratava de tirar pai da forca, mas era agora ou nunca. Assim como há tempos atrás, na época da inquisição, a Erva iria para fogueira e exatamente como antes, um tom de: "vejam, que sirva de exemplo!". Destino traçado, mas a queima não poderia ser em praça pública, afinal 40 toneladas de maconha incomodam muita gente, e em brasa, incomodam muito mais.

 

 

Informação não falta, mas varia: alguns disseram 43, outros 42 e teve até 33 toneladas, uma diferença que... bem, é considerável, né? Mas o destino era certo, embora sem horário divulgado, para dificultar que Adão e outros fanáticos impedissem essa execução, mas com endereço confirmado. Adão correu para a porta da CSN, a Companhia Siderúrgica Nacional, localizada em Volta Redonda.

 

Era lá mesmo. Adão se vestiu de mendigo pra disfarçar e apurar toda a movimentação pela manhã. Por volta das 15 horas chegou o comboio. Então devidamente fantasiado de jornalista, Adão entrou na empresa, a maior indústria siderúrgica da América Latina, junto com a coletiva formada por membros da imprensa e 3 caminhões de lixo, que transportavam toda a droga.

 

 

Siderurgia, para quem não sabe, é o ramo industrial que cuida da fabricação do aço. A primeira siderúrgica do nosso país, segundo o Instituto Aço Brasil, foi criada em 1587 por Afonso Sardinha, que descoriu magnetita na atual região de Sorocaba, interior de São Paulo, e assim inciou produção de ferro a partir do minério. De lá pra cá, essa produção que serve muito bem ao capital mundial, cresceu bastante. Mas, Adão ficou curioso pra saber porque escolheram justo a CSN pra queimar a Erva.

 

A mídia disse que foi pelo proximidade da apreensão e também pela tecnologia do alto-forno que chega a 1.400 graus. Outro veículo disse que não é a primeira vez que a empresa se oferece para fazer a queima. Adão foi conferir a poeira por baixo do tapete do hall central e descobriu que a CSN nasceu em 1946, durante o Estado Novo, num decreto de Getúlio Vargas após um ato de diplomacia chamado Acordos de Washington. Conhecido como "Pai dos Pobres", Getúlio foi o presidente que institucionalizou a repressão e estabeleceu pena de prisão para os usuários de maconha no Brasil. E sentado com o presidente Roosevelt, dos EUA, fez o acordo de  criar a CNS com dinheiro americano para fornecer aço para os aliados durante a Segunda Guerra Mundial, a intenção era também impulsionar a indústria brasileira.

 

 

Clareou... era o início do fogo queimando forte. E Adão voltou pra redação antes do fim da incineração, que deve ter durato até o fim da madrugada de hoje. Se é que ainda não tem gente queimando aquela diferença por aí. Mas Adão foi irredutível. Assim como todos os cameras e equipe técnica, além de boa parte dos repórteres, nosso personagem assistiu e cobriu a penalização da espécie cannabis cheio de lágrimas nos olhos. Mas não parou por aí.

 

Que a guerra às drogas é uma forma de continuar fazendo guerra e vendendo armas - ou matéria prima para elas - nós já entendemos. Mas aproveitando que a empresa de mais de 14 mil funcionários tinha um dia de chapação especial, Adão foi virando cada corredor em busca de informações até que encontrou a sala do presidente: Benjamin Steinbruch, um empresário brasileiro, filho de Mendel Steinbruch, que ao lado de Jacks Rabinovich foi fundador do Grupo Vicunha, nada mais nada menos que o maior grupo têxtil  da América latina. Esse grupo tem um banco, o Banco Fibra. A família é uma das mais ricas do país e além do ramo de têxtil, também investe na fabricação de concreto. Ou seja, a família Steinbruch além de não gostar de maconha, também deve odiar uma palavra pouquíssimo difundida no Brasil: o cânhamo, matéria prima capaz de por em cheque setores conservadores da indústria mundial. Enquanto isso, guerra por guerra, a CSN explora nosso minério e faturou, só em 2007, uma bagatela de 2,92 bilhões de reais.

 

Os policiais ficaram dizendo que a apreensão foi um sucesso. A população disse que nunca viu tanta maconha junta. O chefe da polícia civil, Alan Turnowsky, disse: "Então, eu acredito que essa vá ser a maior apreensão de armas e drogas da história de todas as polícias do Rio de Janeiro e das forças federais". Mas não caro amigo, não... em 2004, durante a semana nacional de combate às drogas, houve uma apreensão total de 75 toneladas que, na época, foram incineradas adivinha onde? Na CSN. Depois é o maconheiro que perde a memória, além de ser culpado, claro, até pela Terceira Guerra Mundial no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.