[Ed. 92#] Aspilão: Gerardo Xavier, Marcelo D2, Luiz Eduardo Soares, Tico Sta Cruz, Marcelo Freixo, Gustavo Barreto e Carlos Latuff - sobre o Complexo da Guerra às Drogas!

O leitor fiel desse espaço sabe que às quartas, quando dá 4e20 da tarde, é hora de Aspilão, um post curto com uma citação sobre drogas, seja a favor ou contra, de alguém famoso ou não. Hoje vamos fazer um post especial para tentar refletir muito mais do que discurso televisivo proporciona sobre o novo fenômeno midiático de cobertura massiva, a Guerra no Rio de Janeiro, aleatória e covarde.

 

"A única solução estrutural para a crise da segurança pública é mudar a política criminal. Colocar um ponto final a essa insanidade que é a “guerra às drogas”. Legalizar imediatamente a maconha, que é de longe a substância proibida mais usada, e mudar o foco em relação às outras drogas, trocando a ótica policial pela ótica da saúde pública. Parar de gastar o dinheiro dos contribuintes em imensos aparatos repressivos corrompidos e ineficazes, e direcionar esses recursos para campanhas educativas, clínicas e investimento social nas comunidades carentes hoje dominadas por criminosos."
Gerardo Xavier Santiago, advogado

no texto Rio de Sangue e um Mar de Erros

"Fumo maconha e não tenho nada a ver com essa guerra, trabalho honestamente e nunca peguei em uma arma. Alguém já pensou em legalizar? Eu nasci em uma favela e sei o quanto essa guerra atrapalha pessoas de bem que querem fazer alguma coisa boa e essas pessoas são a maioria. Eu tenho minha opinião formada, vocês de dentro dos seus condomínios não sabem de nada. Só porque assistiram Tropa de Elite. Não me venham com esse discurso do capitão Nascimento. Enquanto não entrarem com educação, saúde, vai continuar essa m... Droga é caso de saúde e não de polícia. Realmente ainda se pensa que vão matar 'todos' os traficantes e acabar com as drogas do mundo, e quem vai fazer isso Papai Noel ou o coelhinho da Páscoa?

Marcelo D2, músico e maconheiro nato

de acordo com o Vírgula

"Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.

Luiz Eduardo Soares, escritor, antropólogo e ex-secretário Nacional de Segurança

no texto A Crise no Rio e o Pastiche Midiático

 

"Há que se considerar que o interesse financeiro na manutenção de guerras e sistemas falidos como o nosso é que promove lucros estratosféricos para todo tipo de empresários e políticos."

Tico Sta Cruz, ativista e vocalista da banda Detonautas

no texto Estou Falando Besteira?

 

"Fica uma pergunta: quantas vezes a polícia do Rio de Janeiro, em parceria com a Polícia Federal, em parceria com a Marinha, em parceria com quem quer que seja, fez ações de enfrentamento ao tráfico de armas na Baía de Guanabara? Quantas vezes a Baía de Guanabara foi palco das ações de enfrentamento ao tráfico de armas e ao tráfico de drogas? Nunca! Não é feito porque não interessa o enfrentamento ao tráfico de armas, o que interessa é o enfrentamento aos lugares pobres, que são mais fáceis, mais vulneráveis para que essa coisa aconteça, e ficam “enxugando gelo”. Quem é que vende esse armamento para esses lugares? São setores que passam por dentro do próprio Estado, todo mundo sabe disso."

Marcelo Freixo, professor e deputado federal pelo PSOL

no texto  Violência é Questão de Inteligência

 

 

"Por que muitos militantes pelos direitos humanos condenamos o que o Secretário de Segurança do Rio José Mariano Beltrame e o Governador Sergio Cabral insistem em chamar de “efeito colateral”? Por um simples motivo: Para quê a Polícia Militar e seus grupos especiais (como o BOPE) “reagem” a incursões dos traficantes “na mesma moeda”? Por que, para resumir o argumento repetido insistentemente sem qualquer reflexão, “os ataques precisavam de resposta” por parte do Estado? O que seria uma “resposta” a queimas de carros pela cidade? Por que simplesmente esquecer o trabalho de “inteligência” – que, lembremos, não é entrar atirando em favela – e partir para a velha política burra de confronto, pondo em risco centenas de pessoas inocentes?"

do texto Você Trocaria um Parente
por Duas Toneladas de Maconha?

"Pouco importa para o jornalismo desonesto: o que está em questão é reafirmar o discurso vazio do “A que ponto chegamos!” e o elogio ao “endurecimento” das leis e das ações vingativas, como forma de alívio do medo criado. Não adianta nada [...]"

do texto O Jornalismo Desonesto
e o Mito do Crime Organizado

Gustavo Barreto, jornalista

 

 

Além dos intelectuais e formadores de opinião, porque não ouvirmos também o lado dos moradores da comunidade? Aqui um vídeo de um relato de abuso de poder por parte das autoridades policiais do Rio de Janeiro, veja só:

Em matéria da Rede Globo foi informado que a Secretaria de Segurança se pronunciou sobre os casos de abuso e... sabe que medida será tomada? A criação de um núcleo da polícia para queixas dos moradores. Quem vai lá na polícia reclamar dos crimes praticados pela própria polícia?

 

Vamos também citar o sempre genial Carlos Latuff, que pintou a charge sobre a guerra no retrato midiático:

 

 

Agora é a sua vez. Se tem opinião, caia na roda do debate.
Munidos de informações, temos que pensar como levar isso além.

É literalmente caso de vida ou morte o tema da legalização das drogas no Brasil e em boa parte da América Latina.