[Ed. #95] bONG: Quando a Dura Policial acaba em Teatro e Pizza...

por Marco Hollanda

Na mão dos bandidos a erva acaba virando um negócio violento e selvagem. Na ponta deste problema é possível colocar grande parte da violência urbana que a política hipócrita teima em não relacionar a  importância na mudança da política de drogas. Do Rio de Janeiro recebemos o relato de mais um caso de abuso de autoridade digno de ser eternizado nesse "museu da corrupção policial".

 

Os dois amigos que saiam de uma comunidade da Zona Sul carioca portavam aproximadamente 20 gramas de maconha cada. Um optou por esconder o flagrante dentro da cueca e outro, menos cauteloso, deixou a paranga no bolso.

 

A viatura estacionada a cerca de 50 metros parecia inofensiva. Sendo assim, os dois seguiram a caminhada tranquila pela calçada até que um dos guardas decidiu interromper a viagem. O primeiro questionamento foi sobre o fato de os dois estarem saindo de dentro da comunidade. A resposta veio como afirmativa, mas com o argumento de que ali morava a namorada de um deles.

 

Mas o Tira não se convenceu e questionou os dois sobre o porte de alguma droga ilícita. Diante de uma negativa, o homem de farda obrigou os dois a caminharem para parte de trás da viatura para realização de uma revista corporal. E foi justamente o fato de ter deixado o flagrante no bolso que facilitou o trabalho da guarda negligente que às gargalhadas se preparava para mais uma operação abusiva.

 

Com agressões verbais de todos os tipos os dois foram colocados dentro da viatura com o argumento de que seriam conduzidos até a delegacia. No caminho os policiais realizaram um interrogatório completo, questionando sobre a vida pessoal, profissional e familiar de cada um. Foi quando um dos jovens usuários perguntou sobre como a situação seria resolvida que o caminho para a delegacia ficou mais distante.

 

Sem nenhuma cerimônia um dos guardas apresentou uma proposta mínima de dois mil reais para o fim da repressão. Diante de uma recusa, o policial - que já sabia da existência de um cartão de crédito na carteira de uma de suas vítimas - questionou sobre o saldo bancário.

 

O homem de farda não acreditou quando ouviu que o jovem não guardava mais do que 100 reais na conta. Os dois teriam que ir até agência e retirar um extrato para que a guarda negligente tivesse certeza da quantia que poderia arrecadar aquela noite.

 

Na estratégia adotada no momento de desespero uma das vítimas resolveu bancar o usuário de drogas problemático ao dizer que fumava para curar uma depressão. A proposta que assuntou a própria guarda veio com o pedido de receber um tiro na cabeça. Percebendo que o teatro estava funcionado nosso amigo insistiu no arriscado desejo de morte. Felizmente a guarda seguia recusando o pedido e prosseguia a viagem até a agência bancária.

 

Como o banco ficava em uma rua de contramão a guarda negligente deixou suas vítimas na esquina e combinou um prazo de cinco minutos para a entrega de todo dinheiro disponível na conta.

 

A cartada final daquele dia começou quando a viatura virou na esquina seguinte para contornar o quarteirão e parar na frente da agência. Os dois amigos perceberam o bom momento e entraram em um supermercado, onde aproveitaram para comer uma pizza e esperar o tempo passar. Ambos ficaram sem a erva comprada, mas o saldo bancário e a integridade física foram preservados.