[Ed. #99] bONG: O Abuso Sobrevive Mesmo sem o Flagrante!

por Marco Hollanda

A triste repetição das histórias contadas neste bONG faz a repressão abusiva caminhar para o perigoso caminho da banalidade. Mas nada disso pode ser mais banal que o silêncio diante da insanidade de uma lei. Quem sabe o registro dos casos aqui relatados possa servir para que futuras gerações não cometam o mesmo erro dos puritanos do século 20.

 

 

Tão urgente como a reforma da Lei de Drogas é a recuperação da estrutura policial brasileira, que em quase todos os Estados infelizmente ainda funciona do modus operandi da Ditadura Militar. Da cidade capixaba de Vila Velha recebemos um relato que mostra um pouco da falência deste aparelho repressivo.

 

É possível dizer que o Pedrão é o pico mais conhecido da comunidade canábica da cidade. O local é ponto fixo de quem deseja apreciar o THC em espaço aberto e distante de quem possa ficar incomodado com a marola. Naquela noite era possível contabilizar cerca de 20 pessoas espalhadas em pequenos grupos. Todos compartilhavam do mesmo gosto e baixa luminosidade permitia apenas enxergar a brasa da ponta dos cigarros.

 

A viatura que passou pelo pé do morro totalmente apagada não chegou a assustar os presentes. Afinal, os tiras apenas passaram em velocidade reduzida e seguiram viagem. Alguns resolveram bater em retirada quando a viatura se afastou do local. Mas por acreditar que aquilo não representava um perigo maior, um grupo de quatro amigos resolveu permanecer no local.

 

O baseado que era o único flagrante da noite já tinha chegado ao seu fim quando um dos presentes resolveu acender um cigarro daqueles que causam câncer. Foi quando os homens de farda surgiram da parte mais alta do morro com lanternas apontadas na direção do único grupo que ficou no local.

 

Sem encontrar nada de ilícito para sustentar a repressão, os guardas resolvem liberar os quatro. Mas o ambiente isolado e distante de qualquer testemunha não permitiu uma história de final feliz. Durante a revista, um dos tiras furtou 20 reais que estavam na carteira de uma de suas vítimas. Sem dinheiro, mas sem sofrer nenhum tipo de agressão física, os quatro desceram o morro e tomaram o caminho de casa.

 

Se você alguma vez sofreu nas garras da Guarda Negligente, conte sua história pra gente pelo endereço: redacao@hempadao.com