[Ed.102#] Baseado na Lei: Preconceito e Drogas!

por Cacá R. Müller

 

Peço licença aos leitores do Blog para nesta edição falar diretamente com vocês. O Baseado na Lei é uma editoria que busca uma abordagem jurídica e sociológica das questões relacionadas à Maconha e outras substâncias enteogênicas. Contudo, hoje ela serve como certo desabafo.

 

Recentemente foi veiculada na mídia a notícia de que o ex-comandante do Corpo de Bombeiros Militares do Paraná estava envolvido em cerca de 9 (nove) homicídios. Estes crimes foram praticados contra “usuários de drogas”. O delito foi decorrente de suposta vingança pelo assassinato do filho deste militar, ocorrido em 2009, e supostamente cometido por dois “usuários de drogas”.

 

 

Ao passo que a notícia foi ao ar, busquei na internet mais informações, para servir de substrato para escrever um texto para o Baseado na Lei. No entanto, fiquei surpreso e receoso do que li na internet. Em diversos sites em que a notícia foi publicada, havia espaços para que os leitores deixassem comentários sobre o caso. Nestes comentários pode-se encontrar uma verdadeira “caça às bruxas”. Ofensas gratuitas e desejos sanguinários de violência contra os “usuários de drogas” deixaram-me assustado com o preconceito existente. São diversas as mensagens de apoio, não ao ex-comandante, mas ao crime imputado a ele. Naquele momento em que li tais ofensas pela primeira vez, recordei-me de quando meu pai descobriu que eu sou um “degustador da cannabis” e da imagem que a sociedade constrói de nós.

 

Existem diversos tipos diferentes dos usuários destas substâncias chamadas enteogênicas. Há quem use as “drogas” só por recreação, ou como mola propulsora para a prática de delitos, entretanto também existem os “apreciadores”, que usufruem com respeito e responsabilidade estas substâncias. A marginalização atinge a todos, indiscriminadamente. Quem “mostra a cara” na sociedade é visto como drogado, ou seja, uma pessoa alienada e com problemas de vício. Mas poucos param para pensar que a diferença entre o vício e a virtude é tênue.

 

A violência não é culpa da Maconha. A Maconha não atira em ninguém, não assalta, não ameaça, não sequestra, nem mesmo se candidata a qualquer cargo político para desviar verbas muitas vezes destinadas à saúde ou à educação. A Maconha existe antes mesmo de existirem os desvios de conduta por parte do ser humano. A violência é apenas a reação natural da parcela da sociedade que é marginalizada, que está distante do mínimo de dignidade necessária para viver.

 

O ódio e o preconceito generalizam. Invadem lares e fazem pais se decepcionarem com filhos, mesmo que tudo na vida deles esteja dentro de um contexto bom e harmonioso. Não é a maconha que me faz um mau filho, mas o olhar de meu pai. Olhar que vê um cidadão, mas enxerga um usuário de drogas. Usuário este que fuma maconha só para ficar em paz, acalmar a mente e viver com tranquilidade. Mesmo assim, para a maior parte da sociedade, sou apenas um maconheiro. Continuemos a luta. Luta pacífica. Vamos dar o exemplo. A jornada é longa, mas a vitória é inevitável. Observe, reflita, pense, critique, evolua e mude o mundo.

 

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