[Ed.106#] Adão e Erva: Quem não Muda de Opinião Mal pode Mudar de País!

Todo mundo tem um tio mais cascudo, com filosofias sólidas e chapadas como uma rocha, pútrido e pétreo de tanto tradicionalismo, pois então… Tio Aldo é o parente de Adão mais velho e também mais rabugento. Esse carnaval ele foi visitar a família pelos lados de lá, achou que o velho já tivesse batido botas, mas não. Pelo contrário, comprou um celular moderno e arrumou um novo hobby: fotografar maconheiros fumando na praça pra mandar pra polícia. Com todo respeito… mas é um filho da puta, não?

 

Quando soube disso na mesma hora Adão fez revolução no sítio e perguntou que história era aquela. Na mesma hora que ele pegou o celular pra mostrar a foto de dois ou três usuários, Adão sacou do bolso um baseado e da mente a tirada: “Galeria de Imagem não, Tio… prepara a câmera que eu vou tacar fogo é aqui mesmo pra fazer um ensaio!”. Nisso o velho quase cai da cadeira de balanço e num grito de emergência chamou toda a família.

 

 

A prima de Adão já chegou pegando o beck da mão dele e passando para sua boca, o que fez com que Tio Aldo apagasse não só a tela do motorola, mas toda sua consciência ao ver a filha fumando mota. A tia gritou socorro e então Adão, a prima e o caseiro gelaram o beck para ligar o carro e correr para o hospital público mais próximo onde o coroa já era conhecido e logo foi atendido. Acontece que demorou para sair da maca, amigo, foram no total quase 3 dias inteiros de internação. Adão foi visitar Tio Aldo, a pedido do próprio, e talvez esse tenha sido o ponto forte de seu carnaval.

 

Aldo pensava algo básico: “Aqui dentro aquele maluco não vai acender baseado, nem ousar me desrespeitar, então vou aproveitar minha fragilidade de saúde, pedir ajuda da equipe médica para convencer meu sobrinho de vez que não se deve fumar maconha”. Foi divertido. Logo ao chegar, Adão foi conduzido até o quarto por um médico com quem acabara de fumar um careta na porta do hospital. Então antes que ele tentasse qualquer argumento, Adão tratou de devolver o isqueiro que havia pegado emprestado, bem na frente do velho, que viu sua estratégia por água abaixo.

 

Um tanto quanto desesperado, Tio Aldo começou a falar alto e dizer que o Brasil é esse país de merda só por causa do consumo abusivo de maconha, isso desde os negros escravos que vieram pra cá – é claro que além de proibicionista o puto ainda era racista. E pra finalizar, ele bateu na mesinha de cabeceira dizendo que tava decidido a volta para Portugal, seu país de origem. Adão não quis ser chato, mas sincero e disse: “Olha, Tio… não sei não, mas se o problema for esse… você sabia que Portugal descriminalizou todas as drogas desde 2002?”, perguntou falando baixo.

 

Ele não gostou, mas o que mais precisam os caretas é aprender a lidar com a realidade. Aldo então pediu para que chamasse a sua esposa, e com ela presente ele jurou que assim que saísse da cama iriam em  nova lua de mel para Espanha. Adão na mesma hora disse: “Não! Espanha não! Tio, o senhor por ir pra Holanda, mas não para a Espanha! Eles são simplesmente os maiores consumidores de maconha de toda a Europa”.

 

Ele não aguentou. Via-se na cara dele que ele queria levantar da cama e me dar um murro, mas se ele conseguisse levantar o braço, Adão já teria pulado o muro. “Seu moleque! O mundo vai acabar então! E o problema deve ser essa erva maldita!”, dizia ele – a essa hora todo mundo já ouvia os berros – e mais: “Eu vou fugir desse inferno! Nem que eu jogue uma bomba na Jamaica!!! Eu vou pedir ajuda pro seu Tio Arthur, Arthuuuurr!”. Achando que ele endoidou de vez, Adão pergunto para sua tia, que tentava acalmar Aldo com umas balinhas de açúcar: “Quem é Arthur?”. E ela respondeu em voz baixa: “Seu outro tio, veterano da Guerra, auto exilado na Argentina”.

 

Adão explanou: “Porra, Aldo! Argentina, hermano? Ele foi pro lugar certo! Vetereno de guerra não quer outra coisa, tá plantando e colhendo numa boa, com erva na varanda… lá ninguém liga! Argentina o cultivo bomba!”, festejou Adão a realidade da Argentina como se fosse gol do Brasil. Então o Tio Aldo não falou mais nada, ficou quieto. Não mudou de opinião, mas talvez tenha dado uma bela opção ao destino. Resolveu que ia mesmo era para os EUA.

 

Adão não falou nada dessa vez. Pelo contrário, pegou o laptop e ajudou o velho a comprar passagem de ida, sem volta. Adão pensou rápido: “Os EUA merecem um cidadão escroto como meu tio. Vai com Deus viajar nas asas do Tio Sam!”. Então Adão, a prima e o caseiro, saíram nessa quarta-feira do sítio com tudo pronto para tirar o Tio Aldo do hospital e levá-lo diretamente para o aeroporto. Deu tempo de nada, só de pegar o número do telefone dele. Minutos antes de decolar, Aldo recebeu uma mensagem de Adão: “19 estados dos EUA já legalizaram a Maconha Medicinal!  Boa viagem, Tio!”.