[Ed.#107] Adão e Erva: Que País é Esse? Não somos Nós a Porra do Brasil?

Uma legião de leitores se rebelam com notícias tristes que não cansam de chegar. A esperança sobe e desce como um termômetro, sem febre. Só há o calor dos cigarros e o pavor dos mortos e presos, vítimas da lei que não respeita a decisão pessoal de consumir uma erva. Quando Legião cantava essa música e a plateia gritava no refrão: “é a porra do Brasil”, Adão – que não é de seguir o coro – parava para pensar. E a pergunta retoma sempre suas reflexões, ainda mais quando até países vizinhos já plantam e colhem alguma evolução.

 

 

Que país é esse em que vivemos? Onde pedaços de papel, carregados de informação ou conteúdo sobre uma planta, ainda geram mazelas e sequelas profundas, muito mais danosas que o uso da erva em si.  Um livro sendo processado – não na gráfica – mas pelo Estado. Panfleto do Planta na Mente também respondendo por apologia. O problema é que Adão enxerga perfeitamente que a porra do Brasil, até se for pensar o sentido estrito ou extenso, somos nós, sobreviventes ou não dessa luta eterna sem vencedores. Legalizar e regulamentar é o mínimo e para isso é preciso que muita gente dê a vida, muita gente perca a vida.

 

A mídia tem papel fundamental nisso tudo, afinal de contas, ela é quem dita aquilo que a população entende como verdade. E a grande verdade da mídia é a droga ligada ao sofrimento, porém, ah porém: será que é essa a verdade da maioria dos leitores? No caso Moqueca, por exemplo, nenhum veículo se retratou pelos comentários absurdos. Laboratório de maconha? Isso faz é labirinto de ideias enquanto isso são 4 meses de cadeia. E é claro que Adão não esquece o Complexo do Alemão, invadido e sacodido, “pacificado”. Na obscura silhueta do Caveirão de Guerra o que a população filtra é o maniqueísmo de polícia contra traficante – como se fosse o tráfico o crime que exige arma de fogo para ser combatido e não o porte ilegal de armas e as desviantes condutas criminosas danosas a sociedade ou ao outro. Que merda de país é esse, de fato?

 

Em 1987, quando Legião lançou a música, uma das primeiras imagens do clip era a Sapucaí, lugar onde desfilam as escolas de samba. Trocaram seus presidentes, mas não seus divertimentos. A ditadura cultural predomina e ensina Adão a arte mais doce da subversão. “Que País é Esse” é de 3 décadas atrás, mas parece completamente atual. A máxima de Santo Agostinho nos é necessária, portanto, veja: “Conheça-te, aceita-te, supera-te”. É preciso conhecer nossa realidade como nação, é extremamente perigoso ser patriota e não admitir nosso fracasso evidente, por isso é preciso aceitar nossa derrota, pois só assim conseguiremos abrir portas e buscar superação.

 

Os meios de comunicação tem uma dívida com a cannabis sativa. Ao propagar o comum, a guerra às drogas, aos poucos e ao longo de décadas ele ensinou um olhar de desespero em relação à maconha. Porém mais do que eles, nós! Nós! Que cada experiência com ganja passe a ser um compromisso com a sua história e militância, já que hoje é possível propagar informação de forma muito mais simples e eficaz. Se é pela paz, porque não faz? Enquanto isso Tiririca goza da nossa cara. A porra do Brasil jaz.