[Ed.#107] Baseado na Lei: 8ª Edição – Uma Reflexão Sobre Tráfico, Crime e Violência!

 

por Cacá R. Müller

 

A violência é fator atrelado amplamente ao tráfico de drogas no imaginário coletivo. De fato, a violência sempre acompanha o tráfico de drogas. Mas não é o tráfico de drogas que ínsita a violência, mas a própria violência que acompanha a ilicitude da atividade.

 

Existem bastantes diferenças entre os traficantes de drogas. Desde àquele pequeno traficante, que vende para manter o próprio vício e juntar pequena quantia para sua subsistência, como também há o megatraficante internacional que age na atividade ilícita como se administrasse uma grande companhia.

 

 

No Brasil, os traficantes, via de regra, estão inseridos em um contexto social desfavorável, ao passo que falta o básico em saúde, segurança, educação e dignidade. Nesta conjuntura, o Estado (leia-se Governo em todas as suas esferas) não se aproxima do povo para propor uma possibilidade de subsistir. Enquanto faltam oportunidades, restam os “empregos” menos valorizados e sobra publicidade que faz desejar aquilo que a maior parcela da população não tem acesso. A criação desta necessidade de consumo, combinada com a impossibilidade de consumir (já que faltam as oportunidades de empregos bem remunerados), gera a luta pelo desenvolvimento econômico.

 

Assim, um dos métodos mais fáceis de angariar poder econômico é através do tráfico de drogas, o qual não é explorado pelo rico empresário “do asfalto” (pelo menos nas esferas mais expostas). Negócio rentável, mas ilegal. Entretanto, não há como cobrar “obediência” às leis daqueles que foram esquecidos pelo Estado. Traficar é ilegal, mas aquele que disse que não pode vender drogas é o mesmo que deixou faltar o básico.

 

Logo, o tráfico passa a ser combatido pelo Estado, em patente guerra civil. O sistema que cria o traficante é o mesmo que o condena e o executa.

 

É claro que a criminalização das sagradas substâncias consideradas por uns como tóxicas e entorpecentes (por outros consideradas enteogênicas) atrai a violência como forma de proteção na guerra civil instituída. Mas a guerra civil apenas é maquiada pelo tráfico de drogas. Outrossim, até mesmo a guerra civil seja meramente financiada pelo tráfico destas substâncias, como ocorre com as FARC, por exemplo. Não é, portanto, o tráfico que gera a violência, mas sim a própria violência que se serve do tráfico para seu financiamento.

 

Enquanto mantivermos esta disparidade social, é melhor castrar de antemão a liberdade daqueles que não podem consumir. Enquanto mantivermos a proibição do fornecimento de certas substâncias, a violência irá utilizar deste comércio. Vale lembrar que Al Capone traficava bebidas alcoólicas, e atualmente a venda destas bebidas é realizada por empresas sérias e que geram inúmeros empregos.

 

Não basta, destarte, proibir as drogas, prender os traficantes e estocá-los em presídios de segurança máxima. Sem a criação de um país digno e igualitário, para sempre continuarão a nascerem indivíduos que buscarão atender aos desejos criados pelo sistema publicitário (babilônico) atual através de formas rápidas e fáceis. Que não apenas acabe o tráfico, mas que junto sejam dadas oportunidades iguais e dignas a todos, para então haver um país digno, justo e igualitário.

 

Observe, reflita, pense, critique, evolua e mude o mundo.