[Ed. #111] Chapa 2: Quem defende os traficantes de drogas?

Boa parte dos leitores manifesta uma compreensível revolta quando ocorre a prisão de um usuário de drogas. Mas quando é o traficante que vai parar atrás das grades a comoção é quase nula. Ontem, na faculdade de direito da UFF, a juíza Maria Lucia Karam provocou o público ao questionar a falta de solidariedade com quem nos fornece, muitas vezes na porta de casa, o prazer proibido.

 

A figura criminal do sujeito que vende drogas ilícitas é uma novidade perto do tempo que utilizamos essas substâncias. A proibição do início do século 20 criou dois tipos de criminosos que até então não existiam: o usuário e o traficante. Com o passar do tempo o primeiro teve sua pena abrandada em alguns países (inclusive o Brasil) e o segundo tornou-se o inimigo numero um da sociedade, recebendo penas cada vez maiores.

 

É triste observar que dentro do próprio ativismo canábico ainda é possível encontrar aqueles que defendem a tese do Usuário Inocente de um lado e do Traficante Safado do outro. Esta linha de pensamento pouco difere do discurso utilizado para sustentar a sangrenta política de guerra às drogas com conflitos intermináveis e terrivelmente mortais.

 

Diariamente a mídia oferece uma farta quantidade de reportagens sobre a prisão de perigosos traficantes. Em grande parte são negros, vestindo roupas velhas e pouco esclarecidos sobre o crime que cometeram. Jornais sensacionalistas estampam o rosto do "vagabundo" que agora vai apodrecer na prisão. O que nunca é questionando é se esses são aqueles que verdadeiramente lucram com a venda de mercadorias tão valiosas quanto o ouro.

 

A construção do discurso da legalização pode ser pautada pela defesa do fim da figura do traficante de drogas, que seria transformado em comerciante varejista. Formalizado, este poderá vender suas drogas da mesma forma que o Seu Manoel vende cachaça em seu bar. Afinal, a legalização para o usuário já existe há muito tempo.