Amor Imoral [Hempovão 130# – Seção dos Leitores!

texto enviado pelo leitor Luiz de Queiroz

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Te conheci quando tinha 14 anos. Saí da escola com os amigos e lá estava você, sorridente e disposta a conversar comigo. Flertamos por alguns minutos, enquanto eu considerava os riscos de beijá-la, fitava seus olhos em brasa e antes de tê-la já me apaixonava. Uma, duas, três vezes você se ofereceu pra mim, acabei por tomá-la nos braços. Te segurava com força enquanto sucumbia aos seus sabores e aromas. Entregue. Seu.

 

A partir daquele dia eu soube que deveria tê-la pra sempre. Te puxei pelos braços até minha casa, excitado em te apresentar pra minha família. Sua aparência rebelde e seus cabelos verdes assustaram minha mãe, mas, mais ainda, assustou- a pensar em mim como o tipo de rapaz que se daria pra você. Mal e mal ela te aceitou, cheia de ressalvas e censuras. Em minha irmã você despertou curiosidade, lembro que ela te olhava com ares de admiração e medo.

Na escola, fomos inseparáveis. Assistíamos, entediados, as aulas de história, geografia, língua portuguesa e biologia. Acabávamos fugindo juntos pro banheiro e ficávamos por lá durante um ou dois períodos. Quando voltávamos, eu entrava na sala dissimulado, relaxado e algo mais disposto a ouvir e aprender.

Alguns dos meus amigos já te conheciam, pra outros te apresentei. Entre eles você foi quase unânime, era difícil alguém não apreciar sua companhia. Ficávamos horas sentados em lugar nenhum, fazendo nada senão jogar conversa fora. Você atraía pequenos grupos e multidões, hipnotizava a todos com seu olhar profundo, incentivando-os a olhar pra dentro e pra fora de si mesmos.

Você também já me trouxe boa dose de problemas. Com sua forma de agir e pensar você dizia muito sobre si mesma, mais do que alguns estariam dispostos a aceitar. Mais de uma vez já fui barrado na entrada de uma festa quando sua extravagância saltava aos olhos de um segurança mal intencionado. Também já levei umas boas porradas da polícia, quando, exaltada por sua própria existência você falava mais do que devia sobre mim.

Aprendi a ser cauteloso sobre você e o bem que você me faz. Não falo mais sobre isso pra qualquer um. Apesar de todas suas qualidades, é enorme o número de pessoas capaz de detestá-la sem nem mesmo te conhecer.

Então é assim que hoje você vive em mim: como o segredo e a solução da minha alma. Porque você me traz paz e me faz querer levá-la adiante. Já chegou o tempo de declarar abertamente o meu amor por você e louvar sem medo seu nome: Cannabis Sativa, musa incompreendida dos meus sonhos mais sutis.