Zé Celso chega ao Oficina para a entrevista já avisando: “Antes de tudo eu preciso fumar um baseado para ficar lúcido”.
Ficar lúcido?
Claro, o estado mais lúcido é o de transe... Não posso mais tomar alucinógeno, porque é vasoconstritor e eu sou cardíaco. Só posso fumar maconha e tomar vinho, porque ambos abrem as artérias. O momento de mais lucidez minha, de preparação, é queimar um baseado e tomar um banho. Aí vêm as melhores sacações. Só acordo depois que fumo um baseado e tomo guaraná em pó. Tum! Pluguei, tô no ar! Antes eu não estava, quando cheguei aqui.
Por quê?
Estava chapado, desligado...Esta santa erva, que chamam de Santa Maria, ela faz isso muito rapidamente. Você pode fazer isso simplesmente respirando, meditando. Mas a maconha acelera a lucidez...
Então não há antagonismo entre lucidez e drogas?
Não, esse é o conceito de lucidez da velha sociedade positivista, cartesiana, lógica, que acredita numa organização do mundo em torno de um princípio. Eu não acredito em nada disso. Não é o cartesiano, penso logo existo. É existo, logo estou, estou! Antigamente os antropólogos chegavam às tribos, viam tudo de fora e não entendiam nada. Quando passaram a tomar a ayahuasca, as poções mágicas, compreenderam um outro tipo de lucidez, que é a lucidez do pensamento selvagem, que o Lévi-Strauss disse que é a única coisa universal. E o teatro é um ritual arcaico. Eu me lembro nos anos 60 quando a gente começou a fazer as peças viajando de ácido, de cogumelo, a plateia toda embarcava! Dava pra perceber no ar as partículas lisérgicas.
O ser humano tem necessidade de perder o controle?
Eu não perco o controle. É como um computador... Eu fico muito mais, digamos, no meu estado pré-lógico, tenho uma lógica muito maior que no meu estado careta. Reflito mais, crio mais, organizo, faço as ligações das coisas. O descontrole é você permanecer careta. É perigoso! Você careta está atrás de uma máscara, está sendo manipulado, obrigado a ficar sujeito àquele papel que tem na sociedade. O que houve na cultura no Brasil até os anos 60, com exceção dos anos 20 do século passado, é que estava tudo programado. Nos anos 60 houve uma desprogramação. Houve de repente uma percepção do aqui e agora, em 1968... Em 67, quando da montagem de O rei da vela, pela primeira vez os conceitos de Oswald de Andrade viraram carne. Ao mesmo tempo no cinema acontecia o Terra em transe; nas artes plásticas o Hélio Oiticica tirava da parede o quadro, vestia no corpo e dançava; o Caetano compunha “Tropicália”; o Gil usava guitarra elétrica; o Plínio Marcos falava palavrões... Essa sincronia que houve em 67 no Brasil antecedeu em certo sentido o que viria a explodir em 68, na França. Quando fomos para lá com O rei da vela, já em 68, não tinha legendas em francês e o público ria e chorava do começo ao fim. Passava uma coisa que ninguém conseguia explicar. Uma sintonia com um retorno ao paganismo. Por que eu não posso ocupar isso? É meu! Que piração é essa de ficar esperando sei lá o quê? Nós tivemos uma sorte enorme de ter acontecido isso. Foi uma terra em transe que fez isso como lava de vulcão, pôs pra fora essa geração, que foi massacrada nos sanatórios, lobotomizada, cortaram a ligação com o cérebro arcaico, com o cérebro frontal, pra pessoa não sonhar, não viajar, ficar desligada.
O ex-presidente Fernando Henrique está levantando a questão da descriminalização da maconha...
Mas ele tem um lado extremamente absurdo, que é o de legalizar o usuário e punir o traficante. Se a maconha é legal, então é um comércio como outro qualquer. É uma coisa de Clinton, de fumou e não tragou... Eu acho pouco. Muita hipocrisia. Mas é legal ele falar, deixa ele falar! E pra ele é muito bom queimar uns baseados, está numa idade boa pra isso. Se os velhos fumassem, seriam tão mais felizes. Reativa a memória...
Reativa?! Todo mundo diz o contrário...
Imagina! Reativa a memória mais proustiana, o cérebro arcaico, pré-lógico, ela (des)civiliza. Porque a civilização recalca a memória, faz você selecionar a memória e fazer uma imagem de si extremamente construída. E a maconha desconstrói tudo. Você entra de novo em contato com o cosmos, em estado quase de inocência, de virgindade. E redescobre tudo. Eu quero propor uma lei que seria muito sensata. Quero propor não somente a descriminalização como a produção e a comercialização, e o imposto viria para a área cultural. Sou a favor do plantio de uma maconha de alta qualidade, sem noia, sem amônia, sem aquela carga toda que ela carrega hoje. Tudo supervisionado pelos ministérios da Saúde e da Cultura. A única coisa que estimula a violência é a proibição, só isso, mais nada! Se você proíbe sabonete, ai você vai ver, vai surgir criminoso atrás do sabonete.
E essa crise do crack, que vicia logo de cara...
Parece que a cura é a maconha, junto com outras coisas pode recuperar muito. E o teatro, a arte. Porque a arte é mais excitante que o crime. Talvez essas pessoas sejam as mais próximas da arte, as mais desesperadas, que não encontram mesmo lugar neste mundo. Você trabalhar com arte no sentido radical é uma coisa que pira. Precisamos colocar essas pessoas em espaços onde elas possam criar, colocar pra fora suas angústias. Que recebam cultura de vida. O que motiva você? O maior motivo de tudo é sempre o tesão. A gente tem uma tendência ao outro, uma tendência a procriar também... Sejam filhos carnais ou objetos, obras de arte, que são como filhos... Esse teatro, é como se eu fosse o bisavô dele. O padre Vieira disse uma frase muito bonita: “Só existimos quando fazemos. Quando não fazemos, somente duramos”.
em entrevista à TRIP
genial!
ResponderExcluirPorra, que bonito isso!
ResponderExcluirMuito loko...
ResponderExcluirbY:Dig
carai vei growroom ta fora do ar
ResponderExcluirqueria que ele fosse meu pai *-*
ResponderExcluirmuiiitoooo massa a hemportagem ehuaisusa
ResponderExcluircarai vei growroom ta fora do ar
ResponderExcluirx2
Sabe tudo!
ResponderExcluir[]ões
Realmente, Beserra, bonito à beça...
ResponderExcluirAinda tô aqui( "...Você entra de novo em contato com o cosmos, em estado quase de inocência..."), onde parei exatamente pra exclamar: lindo!
Esse cara é muito inteligente, cada idéia genial. Qualquer um, fica de cara...
ResponderExcluirO debate já está ganho, e vai se completando cada vez mais, mas e agora, pra faze-los ouvir?
ResponderExcluirKudo
Os loucos não ouvem. Os mal intencionados não querem ouvir. Ao STF, a única chance
ResponderExcluirBixo, que texto doido!!
ResponderExcluirPreciso fumar outro para rever se é isso mesmo.
GÊNIO
ResponderExcluirSensacional. Este cara tem a visão. A erva é tudo isso e muito mais. Me liberta a cada trago, me faz lembrar situações perdidas da infância, ligar os pontos, entender meu passado, meu presente e minhas frustrações e problemas desaparecem, são quase nada, pois compreendo muito bem suas causas e o seu desdobramento. Vivia em crise existencial, em guerra comigo mesmo e com o mundo. A erva me curou! Salve Jah!!!!
ResponderExcluirSem palavras sobre o texto HEMPADÃO sempre aumentando o nosso conheçimento
ResponderExcluirGENIAL
ResponderExcluirSó não gostei do título do post "Zé Celso dá aula sobre consumo consciente de Maconha"
"consiscente"? Ele fala do consumo de maconha, agora, essa história de "consumo consciente" acho que é piada!
Mas... Parabéns pelo post!
Genial
******TAVA NO TWITTER DO GROWROOM******
ResponderExcluir"Tivemos um problema no servidor do @Growroom e estamos fora do ar. Estamos trabalhando no problema. Agradecemos pela paciência"
muito foda!!
ResponderExcluirGENIAL !
ResponderExcluirpoha o cara é incrível, tinha q ser mais um Celso. \o/
ResponderExcluirc todos q usam maconha fosse kara limpa q nem o ze celso a nossa causa ja estaria ganha....legalize jha_\|/_!!!!
ResponderExcluirmuito foda , a melhor materia do hempadao .clareza e vida .
ResponderExcluirfalou tudo, genial.
ResponderExcluiresse cara é incrível....suas ideias me inspiram...
ResponderExcluiro cara falo e disse! refrescou meus pensamentos.. na verdade, ele explicou coisas que eu sabia mas nao conseguia expressar.
ResponderExcluirTomara q o GROWROOM volte logo *-*
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirE esse lance da cultura ai é a alavanca da coisa!
o problmea de tudo é que vivemos num país ainda infelizmente de pouca culrura em muitos aspectos, pois um exemplo duma novela onde tem apologia a ignorância como o funk daquela personagem filha do cara que bate na mulher, letra que diz "na escola eu tiro 0(ZERO) mas de popozão eu tiro 10", é o retrato da ignorância do povo que axa isso o máximo!
Mostrando o controle que sofremos exercido pelo senso de falça cultura da mídia nacional que prefere mostrar bundas a "buds"...
Esse cara é genial, mostra realmente o construtivismo cultural que sofremos pela influência da falsa moral e lógica!
Hempadão de parabéns por mais essa!
#FREEGANJAH
Hierba Santa/RS
Genial!
ResponderExcluirc todos q usam maconha fosse kara limpa q nem o ze celso a nossa causa ja estaria ganha....legalize jha_\|/_!!!! [4:20]
ResponderExcluirGENIAL
ResponderExcluirO SITE SEMENTES DE MACONHA EH CONFIÁVEL??
ResponderExcluirE C EU COMPRA COM CARTÃO DE CRÉDITO APARECE NA FATURA O SITE "SEMENTES DE MACONHA"???
GRATO DESDE JAH!
aprendizado pelo hempadão !!! por issu chamamos de larica de informação ... como é bom ler essas matérias, principalmente de pessoas experientes qe contam seus climax e suas historias canabbicas mundo a fora ...
ResponderExcluirlegalizeeee jah !!!
tem o conhecimento geral da arte da magia.
ResponderExcluirISSO!!!!
ResponderExcluirinspirador!
ResponderExcluirmeu !!!muito fera
ResponderExcluirgenial!
ResponderExcluirMaravilhoso!!! Virei fã!!!
ResponderExcluirConcordo com tudo o que o Zé disse. E concordo com o anônimo que discordou do consumo "consciente".
Abaixo a hierarquia que coloca a consciência no altar!!! Consciência e razão deveriam ser recursos cognitivos usados ao nosso favor, para além de todos os outros..., e não servir para nos escravizar.
que foda , mas me lembrei q não tenho erva de cali e só vou receber daqui a um mês #bolado :(
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