[Ed. #83] THCélebre: Um dos Maiores Cientistas do Século XX era Maconheiro? Que viagem - Carl Sagan!

Hoje o THCélebre vai celebrar um dos nomes de maior peso da cultura canábica mundial. Isso porque ele é considerado um dos mais geniais e queridos cientistas de todo século XX! Carl foi nada mais que um astrônomo dos EUA que teve a sagacidade de popularizar a ciência.  Foi o pioneiro da Exobiologia e promoveu a Pesquisa por Inteligência Extraterrestre (SETI). Ele é famoso mundialmente pelos seus livros de ciência e pela série de TV Cosmos, da qual ele era coautor e apresentador.

Você deve estar se perguntando... será? E a resposta é: sim, Carl Sagan era maconheiro. Porém ele nunca admitiu isso publicamente em vida. Mas a maconha aparece numa nota de rodapé que pode mudar a vida de qualquer estudioso sobre drogas. Em seu fascinante livro "Os Dragões do Éden: Especulações sobre  a Evolução da Inteligência Humana", de 1977, Sagan apresenta uma analogia que foi originalmente feita por   Robert Ornstein do Langley Porter Neuropsychiatric Institute em São Francisco que falava que a nossa consciência da função do hemisfério direito do cérebro é como a nossa habilidade de ver estrelas durante o dia.

“O sol é tão brilhante que as estrelas são invisíveis, apesar do fato de elas estarem tão presentes no céu quanto estão à noite. Quando o sol se põe, conseguimos perceber as estrelas. Da mesma maneira, o brilho do nosso crescimento evolutivo mais recente, as habilidades verbais do hemisfério esquerdo, obscurece nossa consciência das funções do intuitivo hemisfério direito, as quais, em nossos ancestrais, foram o principal meio de perceber o mundo.”

Então Sagan coloca a nota: “A maconha é geralmente descrita como algo que melhora a apreciação e habilidades em música, dança, artes, padroniza e sinaliza o reconhecimento e nossa sensibilidade à comunicação não-verbal. Pelo que eu saiba, nunca foi relatada como melhorando nossa habilidade de ler e compreender Ludwig Wittgenstein ou Immanuel Kant; para calcular as tensões em pontes; ou para computar transformações de Laplace. Geralmente o sujeito tem dificuldade até de escrever seus pensamentos de maneira coerente. Eu me pergunto se, ao invés de melhorar alguma coisa, os canabinóides (ingredientes ativos da maconha) simplesmente não suprimem o hemisfério esquerdo e permitem que as estrelas apareçam. Esse também deve ser o objetivo dos estados de meditação de muitas religiões orientais.”

Ele continua: “O hemisfério esquerdo processa informações em sequência; o direito acessa, simultaneamente, várias informações. O hemisfério esquerdo trabalha em série; o direito, em paralelo.” Sagan propõe que o “dream state” seja a libertação do hemisfério direito do cérebro e a supressão do esquerdo, e percebe que, ao mesmo tempo em que os sonhos não são lineares, são bastante perceptivos. Ele escreve: “Existem poucos, mas confiáveis relatos de problemas intelectuais difíceis que foram solucionados durante o sono.” [Daí a expressão em inglês ‘I’ll sleep on it’]. O sonho mais famoso foi o de um químico alemão chamado Friederich Kekule von Stradonitz em 1865 no qual fio de átomos dançantes uniam sua cabeça a sua cauda, revelando a estrutura anelar não-linear do benzeno (que é parte do THC, a propósito).

Ainda no mesmo livro, porém mais pra frente, Sagan escreve que um amigo seu que passou um tempo com os Pigmeus lhe disse que “para certas atividades que exigem paciência como a perseguição e a caça de mamíferos e peixes, eles se preparam com uma intoxicação de maconha, que lhes ajuda a fazer das longas esperas, entediantes para qualquer um mais evoluído que um dragão de Komodo, pelo menos toleráveis. A ganja é, ele diz, a única plantação que eles cultivam. Seria ironicamente interessante se na história humana o cultivo de maconha levasse à invenção da agricultura e, desse modo, à civilização.”

Vale a pena lembrar que estamos falando de um dos mais respeitados nomes da ciência e só para destacar o currículo completo, não pode faltar na lista que o livro Cosmos foi a publicação científica mais vendido de todos em língua inglesa. Durante sua vida, Sagan recebeu o Prêmio Pulitzer (*O Prêmio Pulitzer é um prêmio estadunidense outorgado a pessoas que realizem trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e música.) e 18 menções honrosas de universidades americanas por suas contribuições para a ciência, literatura, educação e preservação do meio ambiente. Sagan teve um papel importante nas expedições das sondas espaciais Mariner, Viking e Voyager, pelo qual ele recebeu medalhas da NASA por Conquista Científica Excepcional e Serviço Público Significativo. Dr. Sagan era reconhecido não somente pelas suas conquistas científicas, mas também por dividir seu amor pela ciência com milhões de pessoas.

Então se prepara que agora vem pala forte. Sagan morreu em 1997, mas escreveu um romance em 1985 chamado "Contact" que versava sobre comunicação interplanetária no ano 2000. No livro, ele descreve uma tarde em Paris de Dr. Ellie Arroway  e seu colega indiano Devi Sukhavati. Depois de comentar sobre a diversidade étnica da cidade, Sagan escreve: “Do lado de fora de uma tabacaria tinha uma fila longa, ordenada e poliglota atraída pela primeira semana de venda legalizada de cigarros de cannabis dos EUA. Pela lei francesa eles não poderiam ser vendidos ou consumidos por menores de 18 anos. Muitos na fila eram de meia idade ou mais velhos. Alguns pareciam ser algerianos ou marroquinos naturalizados. Variedades especialmente potentes de cannabis foram plantadas, principalmente na Califórnia e Oregon, para exportação. Em destaque aqui estava um strain novo e admirado que tinha sido criado sob luz ultravioleta, convertendo alguns dos canabinóides inertes no isômero 1-delta. Isso foi chamado de ‘Sun-Kissed.’ O pacote, exposto numa vitrine com um metro e meio de altura tinha o slogan em francês ‘Isso será deduzido da sua parte no Paraíso’ [a frase que Dr. Jacques Joseph Moreau usou quando deu a Teophile Gautier sua dose no Les clubs des Hashishins]”. Infelizmente isso ainda não aconteceu. Mas o melhor modelo também não seria esse... né?

De qualquer forma, Sagan se mostra visionário em relação a legalização da maconha. E olha só... recentemente foi revelado que, usando o pseudônimo Mr. X, Sagan escreveu sobre fumar maconha em um ensaio publicado no livro Reconsidering Marijuana de 1971. O editor do livro, Lester Grinspoon, revelou o segredo ao biógrafo de Sagan, Keay Davidson e ele, um escritor do San Francisco Examiner, revelou o uso de maconha num artigo publicado na revista do jornal em 20 de agosto de 1999.

No ensaio, Sagan disse que a maconha inspirou alguns de seus trabalhos intelectuais. “Me lembro de uma ocasião, tomando banho chapado com minha esposa, no qual eu tive uma ideia sobre as origens e invalidades do racismo nos termos da distribuição de curvas gaussianas,” escreveu o ex-professor da Cornell University. Sagan também escreveu que a maconha melhorou sua experiência com comida, particularmente batatas, música e sexo!

O melhor amigo de Sagan por 30 anos, Grinspoon, disse que o  de maconha por Sagan é uma evidência contra a ideia de que a maconha torna as pessoas menos ambiciosas. “Ele era certamente muito motivado a trabalhar, a contribuir,” disse Grinspoon, um professor de psiquiatria da Universidade de Harvard. E pra fechar o papo, acho que basta dizer que a ex-mulher de Sagan, Ann Druyan é simplesmente a diretora da NORML, sigla em inglês da Organização Nacional para a Reforma das Leis sobre a Maconha, dos EUA).