[6#] bONG: Colírio na garganta dos outros não é refresco

por Marco Hollanda

Tudo bem que fumar maconha é proibido. Mas em certos casos, a negligência da guarda responsável ao coibir esse ato atinge um nível de ilegalidade superior a simples queima da erva.

Antes que você solte o trago, vamos aos fatos:

Famosa pelo seu modelo de planejamento urbano e bem-estar social, Curitiba (PR) é uma cidade que causa inveja a muitas outras. Mas ao que parece, a cordialidade policial no Estado do Paraná não é muito diferente daquela apresentada pelas polícias de Rio e São Paulo nas páginas dos mais importantes jornais do Brasil.

Um bom lugar para incendiar a palhoça é dentro carro. Como na música de Marcelo D2 apresentada na HempSong eram “dois moleques sentados, tramando contra o mundo e fumando um baseado”, com as janelas fechadas para fazer aquela panela de pressão e aquele som legalized. Tudo ia muito bem. A onda vai se formando, crescendo, e quando vira aquele tsunami que derruba até o Boi Bandido, você toma um caixote que lhe deixa em um barato perdido. Era a meganha paranaense batendo na janela. Já que aquela ponta, que insistia em apagar, não poda fazer frente diante de uma pistola, a solução foi a rendição.

A hospitalidade dos responsáveis por zelar pela ordem da nossa cidade modelo não poderia ser pior. Logo de início, mamãe já vira puta. A ponta que sobrava é forçada a descer goela abaixo como se fosse orégano. Junto com ela, foi para o estômago o asqueroso saco plástico derivado de petróleo que transporta nossa querida erva ainda em seu estado pré-consumo.

Pensa que acabou? O espetáculo de negligência da guarda ainda guardava mais um capricho. Em uma revista pelo carro, um frasco de colírio foi encontrado. Como colírio nos olhos dos outros é refresco, o espírito de porco da guarda obrigou o clareador de olhos vermelhos a descer pela garganta dos dois “moleques sentados, tramando contra o mundo e fumando um baseado”.

Como de costume, o recado final é fingir que tudo isso simplesmente não aconteceu, embora tenha acontecido e narrado em comentário por um de nossos leitores. É o famoso “isso foi só um pesadelo”. Mas o bONG veio para acabar com essa imposição de silêncio. Você já sabe como funciona: tomou tapa na cara, perdeu dinheiro, sofreu algum tipo de humilhação que não está prevista nas regras desta guerra? Conte sua história. Se for escrita, nós escrevemos; se for em áudio, nós tocamos; em vídeo, nós executamos.

Mande sua história para hempadao@gmail.com