[Ed. #21] DiscoveryHemp: Esquizofrenia e Maconha!

por Dr. Moura Verdini

Algumas semanas atrás o Hempadão levantou a bola e a galera entrou na roda com fervor, além disso um leitor pediu esclarescimento sobre a possível relação de causalidade entre o uso de maconha e o desenvolvimento de esquizofrenia. O Discovery Hemp não podia ficar de fora das discussões científicas sobre o caso e traz uma hempada cheia de informações.

É importante saber que a esquizofrenia é uma doença que se manifesta geralmente no início da fase adulta. As bases neuroquímicas da esquizofrenia são um hipofuncionamento da via dopaminérgica (dopamina é um neurotransmissor importante, ou seja, responsável pela transmissão de estímulos através do sistema nervoso) mesocortical (uma região do sistema nervoso central - SNC) e um hiperfuncionamento da via dopaminérgica mesolímbica (outra região do SNC). Acredita-se que a esquizofrenia é uma doença desencadeada por predisposição genética e/ou fatores ambientais de risco relativos ao meio social e biológico. Tem-se considerado que o uso de Cannabis é um desses fatores de risco.

Temos três teorias diferentes para esta relação entre maconha e esquizofrenia: A primeira aponta para uma causalidade, alegando que o uso de maconha é um fator de risco e aumenta as chances de desenvolvimento de esquizofrenia. A segunda assume que o uso de substâncias psicoativas funciona como uma auto-medicação para evitar o desconforto dos sintomas da doença. A última teoria propõe que seja apenas uma coincidência entre duas patologias (dependência e esquizofrenia) que se desencadeiam na mesma época da vida (adolescência e início da fase adulta ) e a mesma etiologia (fatores genéticos e desregulação do sistema dopaminérgico de reforço e recompensa).

O debate não poderia ficar só na teoria e muitos trabalhos investigaram a relação corroborando a primeira teoria. Estudos feitos com mais de 50.000 jovens, alguns se estendendo por mais de 15 anos revelaram que existe aumento das chances do aparecimento de esquizofrenia após o uso de maconha. Importante salientar que alguns estudos foram feitos com usuários apenas de maconha e que iniciaram seu uso pelo menos um ano antes do aparecimento dos sintomas da esquizofrenia. A probabilidade de desenvolver esquizofrenia aumenta em média 2 vezes para usuários da hempa. Porém, outro grupo de estudos mostrou que esta causalidade ocorre geralmente em indivíduos que começaram o uso de maconha prematuramente, durante a adolescência. Como a maconha é uma substância psicoativa e durante a adolescência nosso organismo ainda está em crescimento, os efeitos da maconha podem prejudicar o desenvolvimento natural do sistema nervoso através das alterações biológicas e químicas que acarreta.

Existem evidências biológicas de que o uso de maconha pode levar a esquizofrenia. recentemente foi descoberto a existência de um sistema canabinóide no nosso organismo, com receptores para canabinóides internos. Seria através destes receptores canabinóides que substâncias como o THC agem no nosso organismo (em breve uma edição apenas para explicar o funcionamento do sistema endocanabinóide). As evidências de que o sistema endocanabinóide está relacionada com a esquizofrenia são: As partes do sistema nervoso onde ocorrem receptores canabinóides são implicadas na esquizofrenia; foi encontrado um nível elevado de endocanabinóides em pacientes esquizofrênicos; aumento de receptores canabinóides em regiões do SNC relacionadas com alguns sintomas da esquizofrenia; abuso de maconha piora os sintomas em pacientes; similaridades entre os prejuízos cognitivos das psicoses e os efeitos da maconha; uma administração prolongada de THC diminui a neurotransmissão de dopamina mesocortical e aumenta a neurotransmissão mesolímbica, como ocorre no sistema nervoso de pacientes com esquizofrenia.

Lembrando que os resultados acima mencionados são para pacintes com predisposição genética. Muito pouco se sabe sobre os efeitos da erva em indivíduos sem predisposição.