[Ed. 22#] DiscoveryHemp: Os Efeitos no Cérebro Humano!

por Dr. Moura Verdini

Nas últimas décadas, aliado ao aumento do interesse em conhecer os efeitos do uso de cannabis no organismo, principalmente no sistema nervoso central, o avanço tecnológico permitiu o desenvolvimento de técnicas de neuroimagem,  como tomografia computadorizada e ressonância magnética. Tais técnicas são importantes para avaliar o funcionamento estrutural e fisiológico do sistema nervoso central (SNC) e inferir possíveis anomalias e distúrbios causados pelo uso de drogas como a maconha.

Em um artigo de revisão sobre o assunto, um grupo de pesquisadores brasileiros pesquisaram artigos já publicados que tiveram como objetivo quantificar e qualificar através de técnicas de neuroimagem os efeitos provocados no sistema nervoso central devido ao uso frequente e infrequente de Cannabis.

Muitos desses artigos tiveram resultados contraditórios. Isso é comum na ciência, principalmente quando se trata de disciplinas de interesse recente e com poucos estudos. Porém, na maioria dos estudos não foram encontradas diferenças significativas entre as estruturas do  SNC de usuários e de não usuários de Cannabis. Alguns estudos encontraram diferenças entre usuários e não usuários porém, tais trabalhos não diferenciaram usuários somente de maconha de usuários de outras drogas e, a maioria dos voluntários,  também faziam uso de outras drogas, como álcool, cocaína e crack, por exemplo.

Na atual fase de conhecimento sobre o assunto, não existem evidências de que o uso de maconha pode acarretar mudanças prejudiciais no SNC sendo provável que suas estruturas sejam iguais em usuários e não usuários. Fatores importantes que devem ser levados em considerção em estudos do tipo são a idade com que se inicia o uso da droga, intensidade e frequência do uso. Foi encontrado para usuários pesados (em média 5 baseados por dia) pequenas diferenças estruturais, como menor tamanho de ventrículos no encéfalo. Estas  estruturas são responsáveis pela pressão cerebral e pela circulação do líquido encefálico. Mudanças maiores ainda foram encontradas para usuários que iniciaram o uso antes dos 17 anos de idade como por exemplo, maior proporção de massa cinzenta e menor proporção de massa branca e menor tamanho nos ventrículos. Isto se deve aos possíveis efeitos dos canabinóides sobre glândulas importantes no desenvolviomento do cérebro. Isto reforça a idéia de que adolescentes estão mais expostos aos possíveis danos causados pelo uso de maconha. Lembrando que durante a adolescência o SNC ainda está em formação e a alteração das condições fisiológicas normais pode levar a um mal desenvolvimento.

Além disso, foram detectadas mudanças fisiológicas como aumento da circulação sangúinea e do metabolismo em algumas partes do SNC, enquanto ocorreu a diminuição de ambos em outras partes do SNC. Isso provavelmente se deve a presença de mais receptores canabinóides em umas regiões e menos em outras. Estas mudanças fisiológicas podem ser responsáveis por alguns dos efeitos causados pelo uso de maconha como a mudança na percepção do tempo, devido a alterações fisiológicas no cerebelo.

Semana que vem o Discovery Hemp abordará o funcionamento do sistema endocanabinóide de receptores e neurotransmissores. Após isso, um aprofundamento sobre o tema descrito acima, explicando o porque das mudanças fisiológicas citadas e como foram feitos alguns desses estudos, mostrando os seus resultados.