domingo, 13 de setembro de 2009

[#11] FENACUCA - Prosa: Orgasmo Em Tempos Ruins!

O tempo é um velocista, e me sinto fora de forma demais pra acelerar a vida e ultrapassar a morte me cronometrando nesse tiquetaquear por alguns malditos e rápidos segundos sobre os ponteiros da história. Tudo que preciso nesse momento é lamber a boceta de Virgínia e selar o último baseado da noite com seu gozo úmido, só para enrolar este agora em nossos horizontes de seda. E dar um nó. Então acender o melhor dessa juventude passageira no fogo alto de nossas entranhas, e arder. E arder tragando fundo, sentindo bem lá no fundo o tempo passar apressado pelo sossego de cada baforada.

Virgínia estava quieta, quase imóvel, mas ofegante com aqueles longos e suados cabelos negros esparramados em meu peito, ainda mais ofegante. Em breve o sol viria esbofetear nossa cara e a gente sabia que não tinha chance, era o mundo inteiro contra nós e por isso nos escondíamos na sombra daqueles lençóis tão conhecidos. Mas eu não estava nem um pouco preocupado com essas coisas de onde e como, Virgínia era uma silhueta serpenteada me protegendo dos porquês, e essa era a única interrogação que me preocupava de verdade. Puxei a primeira nevoa do baseado e senti o doce da boceta de Virgínia queimando entre meus dedos, saboreando a língua, eu conheço bem esse gosto, é gosto de uma paz que é só minha, e que flutuando vai embora dentro de mim, assim como fui dentro dela.

Lá fora, tudo é a mesma segunda-feira, a mesma queixa berrada por ais e uis sem paixão, mas não aqui debaixo dos cachos de Virgínia, não enquanto o despertador armar em silêncio seu bote infeliz em nosso silêncio. Assim, sussurrei com a brisa entre os alvéolos, meu amor, e passei logo após o segundo pega, como sempre fazemos. Com o baseado ainda em meus dedos, Virgínia o enlaçou com os lábios e puxou chorando, mansa. É duro resignar os sonhos à ciranda triste do mundo, que recomeça e recomeça e nessa bossa essa moça cheia de esperanças vai e vai e vai e de repente foi. Virginia foi, e agora só quer voltar. Mas ela não sabe voltar. Nem eu.

Na verdade, Virgínia tem certeza que um dia, de alguma forma, encontraremos juntos o caminho certo, e parecia convicta disso quando segurou meu rosto próximo ao dela enquanto tragava com suavidade o baseado e cochichava A Las Barricadas, só para ver a fumaça dançar nas partituras da revolução, assoprando com carinho aquela poesia enevoada até minha boca. E sorrindo. Porra, é muito bom ver essa garota sorrindo. 

Então o despertador gritou alto, muito alto, tão alto que tive pena daquele safado antes socá-lo na parede onde os primeiros raios já avançavam contra a cama pelos flancos do quarto. Virgínia os observou cheia de coragem, mordeu delicada o meu queixo, respirou e, sem pressa, disse: “que tal mais cinco minutos de eternidade?!”.

Autor: Junior Bellé
Idade: 25
Profissão: Jornalista 
São Paulo / SP

7 comentários:

  1. curti pra caralho!!
    quero uma Virginia pra mim! :D

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  2. foda ! sem palavras.
    parabéns

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  3. parabéns.
    continue escrevendo

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  4. me deu uma puta vontade de fumar!

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  5. Dá para votar vááárias vezes?
    Super gostei
    Dêda

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  6. Muito bom. Excelente. Acabei de fumar um e, como você já deve bem saber, a sensação de ler um ótimo texto como esse só adocicou a minha mente ja completamente lesada.

    Vou curtir a brisa agora, com a ótima mensagem que você passou.

    Valeu, fiquem na paz.

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