por Lucas Kastrup
Estudos mais aprofundados sobre o uso da cannabis entre os rastafaris jamaicanos podem estimular outras conclusões sobre o ethos rastafari. Sabe-se que em diversas montanhas jamaicanas apenas os homens fumam a “ganja”, restringindo mulheres e crianças para o consumo do chá. De acordo com as palavras de um entrevistado:
“o chá vai para a corrente sanguínea e de lá para o coração, representa a parcela naturalmente feminina do corpo humano, enquanto a fumaça vai para o cérebro e o cérebro é a parte masculina do corpo”
Dessa forma os homens fumam, conversam e tomam as decisões para o desenvolvimento cotidiano de suas comunidades. Quando indaguei meu entrevistado mais uma vez sobre esse fato, tive a resposta de que algumas mulheres costumam fumar escondidas na ausência de seus maridos.O evento descrito acima parece estimulante para várias áreas de pesquisa antropológica, pois apresenta a noção rastafari (jamaicana) do corpo e de suas “funções” e a relação bipolar que fazem entre natureza e hierarquia: “decisão-cérebro-homem / emoção-coração-mulheres e crianças”. Este exemplo aponta para a classificação “nativa” acerca dos papéis sociais entre os gêneros e de um possível desejo encubado na vontade das mulheres ascenderem socialmente, manifestando essa inclinação no ato de “fumarem escondidas”.
Esse mesmo evento fala também do consumo infantil da “ganja” - na forma de chá e junto com as mulheres - e também comprova a minha hipótese introdutória de que o uso cannabis, entre os rastafaris, não é uma realidade estática e reduzida sendo um objeto de estudo privilegiado capaz de desvendar outros aspectos desta visão de mundo. Um estudo comparativo entre as três realidades: rastas no Brasil, na Guiana e na Jamaica, poderia mostrar o caráter de resignificação que o “rastafarianismo” permite - pela ausência de instituição religiosa rígida e/ou estatuto de normas. As alteridades que influenciam o consumo da “ganja” aqui e ali e entre os rastafaris por todo o planeta nos mostram a existência de um espaço para reinvenções locais em uma cosmologia permanentemente “em construção” (Araújo 1999).
Lucas apresentou esse trabalho no Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, PPCIS-UERJ.O trabalho na íntegra você pode reler aqui.
nada melhor que acordar, consagrar a ganjah em jejum e poder lê um texto como esse.
ResponderExcluiralias...um tema muito interessante abordado pelo Lucas.
parabéns!
"we'll be forever loving Jah"
Jah Bless!
viva a cultura rastafari se dissipando mais e mais
ResponderExcluirÉ inútil restringir. A Erva faz efeito em corpo, mente e espírito, de homens e mulheres, fumando ou ingerindo. Cada Ser sabe do seu equilíbrio, se não houver harmonia entre esta trindade pode ser perigoso, tanto homem quanto mulher, desequilibrados, não estarão aptos à consumi-lá.
ResponderExcluirParabéns Lucas e Hempadão
fumando ou tomando a maconha da um feito positivo, always!
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