[Ed. #37] Discovery Hemp: Efeitos no Sistema Circulatório!

por Dr. Moura Verdini

Semana passada analisamos o caso de um paciente que sofreu uma taquicardia e algumas lesões no sistema circulatório que, segundo os médicos, teria ocorrido devido ao uso de maconha. Além disso, um estudo post mortem realizado em seis cadáveres cuja causa da morte súbita foi infarto indicou uma possível relação desses infartos com o uso da maconha. Hoje o Discovery trás os efeitos do uso da maconha sobre o Sistema Circulatório.

O uso da maconha aumenta a taxa de batimentos cardíacos substancialmente, ocorrendo, em geral, um aumento de 50% a 60% da taxa normal. Este aumento é dose-dependente e pode alcançar valores tão grandes quanto um aumento de 100% dependendo da dose utilizada. Ocorre também um aumento modesto da pressão sanguínea. Respostas circulatórias a estresses como equilíbrio de diferenças de temperatura (como quando colocamos nossas mãos em água muito gelada) e pressão (durante vôos ou mergulhos) também são diminuídas. Ocorre também uma diminuição da resistência dos vasos sanguíneos associado com um aumento do fluxo sanguíneo principalmente nas extremidades do corpo. Em animais, a administração de THC causou vasodilatação. Se esta vasodilatação for confirmada também em humanos pode explicar a diminuição da resistência dos vasos.

O uso de maconha se configurou importante no aumento da neuroproteção em alguns casos. Por exemplo: os canabinóides diminuem a perda neuronal do hipocampo cerebral após uma isquemia global do cérebro e redução do volume de infarto depois de uma isquemia cerebral focal causada pela oclusão da artéria central cerebral. Porém, estes resultados foram encontrados em animais e ainda não foram confirmados para humanos

Além de um aumento significativo da taxa de batimento cardíaco,os efeitos do uso de maconha sobre o coração são bem moderados como um aumento do rendimento (força de bombeamento do sangue) entre 4% e 9% um pequeno aumento na velocidade de encurtamento das fibras cardíacas, um aumento na pressão da sístole e diástole(movimentos da batida do coração para expulsar e receber o sangue que chega). Porém, em um estudo no qual foram ministradas doses diárias de maconha a pacientes masculinos ocorreu o desenvolvimento de tolerância a estas modificações no sistema circulatório, ou seja, os efeitos tiveram sua expressão diminuída e até mesmo a taxa do batimento cardíaco que aumentava em mais de 44.6 batidas por minuto passou a aumentar cerca de apenas 6.6 batidas por minuto em apenas 18 dias de uso consecutivos.

O Sistema Circulatório é controlado pelo Sistema Nervoso Autônomo (SNA), constituído por nervos simpáticos e parassimpáticos, os quais tem efeitos opostos e controlam o funcionamento normal do sistema circulatório. Neste caso, a via simpática é responsável pelo aumento das taxas cardíacas e a via parassimpática pela sua diminuição. Portanto, o aumento das taxas cardíacas após o uso de maconha se dá pelo aumento da atividade simpática e redução da atividade parassimpática. A tolerância desenvolvida é confirmada pela relativa diminuição da atividade simpática e aumento da parassimpática. Isto evidencia que o sistema circulatório também é influenciado pelo sistema endocanabinóide. O receptor CB1 é o responsável pela mediação entre canabinóides e sistema circulatório. A anandamida, um canabinóide endógeno, tem efeitos contrários ao THC, diminuindo a taxa cardíaca e a pressão sanguínea. A administração de antagonistas ao THC após o uso de maconha normalizou as condições do sistema circulatório em cerca de 2 horas após o uso.

Esta discussão ainda não terminou e continuaremos em outras edições, mas enquanto isso podemos nos perguntar: será que estes efeitos são suficientes para causar a morte súbita por mal funcionamento do Sistema Circulatório como infartos e isquemia? Até as próximas edições!