[Ed. 48#] Discovery Hemp: A Questão Social sobre a Maconha como Porta de Entrada!

por Dr. Moura Verdini

Semana passada começamos a discutir a questão de como a maconha pode funcionar como porta de entrada para outras drogas e vimos que, biologicamente, isto não faz sentido. A explicação poderia ser, então, social. Nos fizemos a seguinte pergunta: Se a maconha não é porta de entrada porque muitos usuários de drogas pesadas começaram com a maconha?

Este fenômeno poderia então ser explicado socialmente. A maconha funciona como uma porta de entrada para um submundo no qual as relações que os indivíduos tem entre si e o ambiente que os circunda neste submundo leva a uma necessidade de experimentar drogas cada vez mais pesadas, com efeitos bem próximos. Geralmente, drogas que causam dependência e tornam do hábito uma necessidade. Mas por que a maconha? Talvez seja porque é a droga mais abrangente em todo mundo e tenha os efeitos menos nocivos dentre as outras drogas, pode funcionar melhor como uma iniciação no uso de substâncias psicoativas. Esta afirmação, porém, tem um erro. A droga mais abrangente e mais utilizada no mundo é o álcool e geralmente é a primeira droga experimentada por quase todas as pessoas, inclusive as que buscam outras drogas. Estamos acostumados a dizer que a maconha é a primeira droga porque classificamos todas as drogas ilícitas em um mesmo saco e o álcool separado em outro.

Um estudo realizado recentemente mostrou que o álcool está muito à frente da maconha como causas de desajustes sociais e psicológicos, com danos irreparáveis para o indivíduo e para a sociedade que o circunda mais proximamente. Desta forma, indivíduos que utilizam álcool estariam mais sujeitos a entrarem por um submundo desajustado do que usuários de maconha e estariam teoricamente, psicologicamente mais propensos a experimentar outras drogas. Além disso, os efeitos do álcool são mais semelhantes ao de drogas pesadas, causando agitação e euforia, porém em menor intensidade. A busca por maior intensidade nestes efeitos por parte de um usuário de álcool seria mais provável do que por parte de um usuário de maconha. Se este fosse o caso, a porta de entrada para drogas pesadas seria o álcool e não a maconha. Porém não acredito nisso e defenderei a curiosidade individual e o ambiente diretamente circundante como principais responsáveis. 

A proibição, porém, faz com que o usuário tenha um maior contato com outras drogas ilícitas, já que geralmente são vendidas juntas. A entrada nesse tipo de ambiente poderia aproximar o usuário de maconha de outras drogas, despertando eventualmente a curiosidade de usá-las. Porém, a maioria dos usuários de maconha não são usuários de outras drogas. Além disso, o tempo que um usuário se expõe a ambientes em contato com outras drogas é pequeno demais para que haja uma pressão social para o uso de outras drogas. A exceção a este fato são as pessoas de classes baixas que vivem em ambientes dominados por traficantes, como as favelas do Rio de Janeiro, por exemplo. Neste tipo de ambiente, existe uma fortíssima pressão social para o uso de drogas já que estas estão presentes no cotidiano de tais comunidades e fazem parte de sua economia e política. Nestes tipos de ambientes, o uso de drogas pesadas se daria independentemente do uso anterior de maconha.

Como uma pequena parcela de usuários de maconha usam outras drogas ilícitas mais pesadas, como o efeito da maconha difere muito do efeito de outras drogas e como não existe nenhuma pressão social ou biológica aparente para que a maconha realmente funcione como porta de entrada de outras drogas, esta relação de causa e efeito não pode ser confirmada. A razão de indivíduos procurarem tais drogas, até que se apresente dados confiáveis que mostrem porque tais indivíduos busquem drogas pesadas é meramente a curiosidade individual e a vontade de se experimentar novas sensações que fogem ao comportamento natural do organismo. Para estes indivíduos é mais sensato que se comece com a maconha, já que é a droga ilícita mais fácil de se encontrar e com menos efeitos nocivos ao organismo. Apesar disso, muitas pessoas experimentam cola, anfetamina e éteres (Como a loló) sem jamais terem experimentado maconha.