[Ed. 64#] bONG: Guarda Negligente também tem Medo!

por Marco Hollanda

Esta semana vamos viajar até São José dos Campos (SP) para contar sobre o dia em que um Guarda Negligente trocou a velha truculência pela covardia.

Antes de seguir para uma festa, nosso personagem havia reforçado seu estoque de diamba e um pequeno – mais poderoso – microponto de doce. A noite de viagens transcendentais foi de um agito perfeito. Nada parecia ter poder para estragar aquela onda. E assim foi até o final da festa.

A volta para casa ocorre de maneira pouco comum. De bicicleta, os amigos seguem o caminho de casa. Com um deles estava o verdadeiro kit de sobrevivência do maconheiro. Na mochila havia um bong e um dichavador. No bolso um isqueiro e um livreto de seda. Na carteira, além do dinheiro, portava 10 gramas da erva. Pra completar, a camisa que vestia era da genial ConeCrewDiretoria.

Já passava das 3h da madrugada e os dois seguiam pela rua deserta. Foi quando cruzaram com uma viatura da polícia com faróis apagados que parecia seguir seu rumo no outro sentido. Ao chegar à esquina, a sirene é acionada, os pneus cantam, e ela volta com uma instinto animal à caça de suas vítimas. Ainda sob o efeito do doce, o carro parecia derreter quando chegou à frente dos dois.

Depois de muito interrogatório um dos guardas abre a mochila e pega o dichavador. Diante do desconhecimento desta importante ferramenta para o mundo dos consumidores do prensado, o guarda questiona;

- Que porra é essa?

- Serve para tritura remédio (santo remédio!)

Ao pegar o bong ele decide recorrer ao superior que do alto de seus conhecimentos solta a pérola:

- Isso é para fumar crack!

Temendo uma repressão ainda pior, nosso personagem decide explicar a verdadeira finalidade daquele cilindro de vidro.

Quando tudo indicava que o clima ia ficar mais tenso, a guarda retorna ao interrogatório e em busca de mais informações sobre a vida pessoal de cada um. Ao perguntar sobre a profissão do pai, houve uma demora na resposta. Após uma profunda respiração a bomba foi solta:

- Meu pai é delegado federal.

- Tudo isso é medo de dizer? – questiona o guarda.

- Não, é cuidado mesmo.

O bote termina sem mais perguntas, mas sem deixar de ser negligente. O bong de vidro despencou da mão do soldado e virou pó no chão. Cacos de uma convivência incômoda e ácida.