[Ed. 72#] bONG: Não Tem Flagrante, mas Ódio...

por Marco Hollanda

O expresso de combate à repressão negligente viaja até Suzano (SP) para contar mais uma história sem flagrante, mas com violência policial.

Naquele dia de céu azul os três amigos embarcaram na viagem que leva ao paraíso de Jah. Na beira da lagoa, eles cometeram o crime de fumar um, nadar e se divertir durante toda a tarde.

A festa acabou com o por do sol. A larica batia de forma intensa e corpo pedia desesperadamente por comida. Era o sinal para levantar acampamento e tomar o rumo de casa.

Foi no caminho que uma blazer da polícia passou pelo grupo pela primeira vez. Como de costume, a viatura passou direto. Já temendo o pior, a última das bombas – que estava guardada no bolso de um deles – foi rapidamente dispensada.

Bastaram alguns segundos para que a premonição se concretizasse. Pelas costas, um dos guardas obriga que o grupo pare imediatamente a caminhada. Por se tratar do primeiro enquadrado a tensão atingiu um nível bem elevado. Mas até esse ponto era possível manter o controle emocional transmitido pelo poder do THC.

Depois de uma revista minuciosa e nenhum flagrante para o enquadro, a guarda adota outra tática. Foi cheirando o dedo de cada um que um dos tiras sentiu o doce aroma da erva que bastou para despertar a fúria negligente.

Os ataques começaram com socos na nuca e seguiram com uma truculência de dar inveja aos porcos de Estados ditatoriais. Os pedidos para que a tortura terminasse pareciam alimentar a fome de maldade dos tiras. Somente o cansaço conseguiu vencer a negligência da guarda, que dispensou suas vítimas com um recado de que aquilo não passava de um pesadelo.