Texto por Ramon Ribeiro
Fotos por Christian Huygens
Lá vou eu. Cabeça feita. Nada nos bolsos. Um helicóptero da polícia sobrevoa os arredores da UFRN. Pô, a polícia vai botar pra foder! Será que vai aparecer alguém? Olha lá uma turma reunida. Não são mil pessoas. Talvez a metade. Mas a galera apareceu.
Na concentração não se sabe quem seguirá com a Marcha da Maconha, a primeira desse tipo no Rio Grande do Norte. A galera está espalhada, mantendo certa distância. O Pau e Lata chega, inicia aquela batucada característica. Uns se animam, aos poucos os manifestantes estão se juntando. A organização dá algumas informações sobre a erva. Também atentam para que todos se comportem. Sem usar, vender, portar! Olho ao redor, começo a mexer a cabeça no ritmo da batucada. Os olhos vermelhos e baixos, a boca seca, a cara de chapado, perco a vergonha. Puxo o cartaz e o levanto. “Deixa eu plantar em paz!”.
A Marcha tem início. Os manifestantes seguem o percurso, caminham por entre os visitantes da 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que de início não entendiam o que acontecia, até lerem os cartazes e ouvirem: “Arroz, feijão, maconha e educação”. Alguns dão risadas, tiram fotos, negam a manifestação com um gesto de cabeça, outros deixam o preconceito de lado e passam a acompanhar a Marcha.
No meio da aglomeração alguns manifestantes comentam entre si, questionam, refletem. Falam dos malefícios do álcool e do tabaco, que são legalizados. “A erva causa menos danos que a birita!”. Falam da visão penal com que o usuário é tratado. “Usuário não é bandido!”. Falam das consequências ocasionadas pelo tráfico. “A proibição gera o tráfico!”, “A maconha leva ao crack? Por que?”, “E os benefícios científicos da maconha? isso não deve ser levado em consideração?”, “Pô, a erva tem ajudado no tratamento do câncer!”, “Maconha contra a anorexia!”, “Maconha não faz mal!”.
Paises da América Latina como a Argentina e México descriminalizaram a maconha para uso pessoal no ano passado. O Chile avalia a possibilidade de descriminalizar o consumo coletivo da erva em espaços privados. Na Holanda, o uso é permitido há mais de 30 anos. A guerra às drogas começa de fato a perder a força. Debates acontecem no país, políticos se posicionam sobre o assunto. A imprensa abre cada vez mais espaço para debates, faz cobertura de movimentos em pró da descriminalização. O Brasil parece estar evoluindo quanto a esse assunto. E Natal, com essa Marcha, demonstra que segue o mesmo caminho.
Se antigamente quem fumava era tido como marginal, hoje, muitos que fumam, cantam para todos ouvirem: “Eu… Sou maconheiro, com muito orgulho, com muito amor!”. E continuam marchando ao som do Pau e Lata e de uns Dubs chapados que rolam no carro de som que acompanha a manifestação. A galera segue no ritmo. Não se intimidam com as câmeras e com os jornalistas que acompanham a movimentação.
Jovens e coroas estão vestidos com camisas verdes e levantam suas faixas e cartazes. Eles estão aqui, claro, os policiais. Sempre atentos, fotografando alguns cartazes, acompanhando a Marcha. Mas estão se comportando direitinho. Não houve problemas, nem mesmo com a provocação de alguns manifestantes. “Hei, polícia, maconha é uma delícia!”. De repente estamos na UFRN, no maior evento científico do hemisfério sul, com milhares de acadêmicos e estudantes discutindo os mais variados temas. Há artistas por todos os lados. É ano de eleição para Presidente da República. O cenário não podia ser melhor. Paramos em frente a Reitoria. Alguém pega um microfone. Seu nome é Leilane, uma transsexual potiguar doutoranda em Ciências Sociais (a segunda no Brasil a realizar tal feito), com 10 anos de UFRN, usuária de maconha, uma das organizadoras da Marcha.
Ela fala emocionada sobre as dificuldades de realizar a manifestação. Vê centenas de pessoas reivindicando a descriminalização da maconha. “Isso é algo
inédito no estado! Nos faz acreditar que em Natal não são todas as pessoas que são acomodadas. Há quem vá às ruas lutar pelo que acredita!”. Os cartazes levantados, os aplausos… É, os tempo são outros.
Se antes a questão da descriminalização era algo de uma parcela isolada da população, agora nós temos cientistas do nosso lado, se posicionando a favor, aprofundando a discussão. Há boas perspectivas para um debate maior, envolvendo outras setores da sociedade, o assunto vai deixando de ser levado na brincadeira, deixa de ser uma utopia de maconheiro lombrado, começa-se a levar a questão das drogas a sério.
Falta pouco, é preciso um último pique. Vamos andar para onde tudo começou. Setor II da UFRN. Setor das Ciências Humanas. O espaço dos estranhos, dos marginais, dos diferentes. Os manifestantes estão chegando e se juntando à roda. As faixas e cartazes estão expostos no chão. Agradece-se a todos os presentes, a todos os que ajudaram. Celebra-se o fato de não ter havido confusões de nenhum tipo. O Pau e Lata puxa o ritmo. Dança-se uma ciranda. Esta é a Marcha da Maconha em Natal!
Durante todo o percurso da manifestação o que se viu foi organização. A galera tava ligada. Queria que tudo desse certo. E deu. Era a primeira Marcha desse tipo no Rio Grande do Norte. Eram esperados erros. Houveram. Faltou uma divulgação maior de informações sobre os diversos usos da maconha, assim como estatísticas de países que discriminalizaram ou legalizaram a erva, faltou números que mostrassem que a guerra às drogas está falida, faltou mais informações científicas, estudos sobre a relação da maconha na sociedade brasileira. Uma sugestão seria a leitura de dados entre uma música e outra que rolava no carro de som. Mas nada disso tira a importância do dia 30 de julho, o dia em que houve uma Marcha da Maconha em Natal. Esse evento entrou para a história da cidade. Demonstrou que os potiguares começam a se interessar por assuntos complexos, cheios de pontos de vista. Que não quer fugir do novo. Que não parou no tempo. Que quer debater e quebrar tabus.
*Esse texto foi enviado por um leitor. Caso queria enviar seu texto: redacao@hempadao.com
é isso aé diretamente dos corredores do setor II para a marcha!!!
ResponderExcluirpara sentir mais o clima da marcha vale conferir a videozinho ao som de uma banda super chapada o "dosolto" pq eles não são prensados,rs.
http://www.youtube.com/watch?v=yaYaBqsWScs
caraca galera, é impressionante de ver, mais concordo, quando ele diz que não é mais utopia de apreciadores de ganja lombrados, realmente hoje em dia, não é levado tão a sério quanto deveria, mais esse dia chegará, enfim, espero que tudo de certo!
ResponderExcluirLEGALIZE IT!
Jah Tribe
Hustla Crew Ltda®
Parabens potiguares!!!
ResponderExcluirGanja livre...
To fumando white widow, cheguei da pos graduaçao e to tomando o meu remedio relaxante que eu mesmo cultivo. Que crime ha nisso.
Legaliza Brasil
Os olhos vermelhos e baixos, a boca seca, a cara de chapado, perco a vergonha. Puxo o cartaz e o levanto. “Deixa eu plantar em paz!”.
ResponderExcluirÉ ISSO MESMO IRMÃO!! USUÁRIO SAIA DO ARMÁRIO!!!!!
sem limite pra viver, sem limite pra me ver irmão, eu sou igual você, que anda sempre pela rua em direção rumo ao mar, mas já sabendo que a única opção é fumar !
ResponderExcluira fumaça que nós soltamos exala o cheiro da PAZ _\|/_, tão precisando fazer uma Marcha da Maconha aqui em Goiânia
ResponderExcluirParabéns galera potiguar!
ResponderExcluirÉ uma alegria imensa ver a Marcha se espalhando pelo país!
Cannabis Ativa o mais novo membro da família Marcha da Maconha!
Dá-lhe Natal!
ResponderExcluirSanta Catarina está com vocês à favor da LIBERDADE!
Parabéns à todos os envolvidos, até mesmo a polícia, que no nosso país tanto recrimina nossa prática diária.
Evoluir é natural.
Galerinha, nossos parabéns para voces! Sinceramente, RN dando exemplooooooo como todos os outros estados que estao lutando por esse direito!
ResponderExcluirParabens gurizada!
Que lindo!
ResponderExcluirParabéns, Natal!
ResponderExcluirAvançar é preciso!
Parabens Natal!!
ResponderExcluirParabens! Temos que lutar pelo nosso livre arbitrio, o direito de fazermos o que quizermos com nosso proprio corpo, nossa propria vida. a vida é minha e o estado, o governo é meu funcionario, e não meu dono
ResponderExcluirsabe o que é mais triste? a pessoa precisar da maconha. #sóisso
ResponderExcluirvelho, muito foda seu texto.. eh noix natal!
ResponderExcluirCaraca, foi exatamente isso! A Marcha foi linda, e antes mesmo de sair de casa eu já sabia que aquele dia ficaria pra história! Espero que a marcha só venha a crescer a cada ano, e que sirva de exemplo para outras capitais que ainda não começaram a lutar pelos seus direitos.
ResponderExcluirOrgulho de ser potiguar! Orgulho de ser maconheiro!
vlw pela mídia favorável, e nas próximas edições vamos fazer o que foi dito de sujestão, falar mais sobre esses pontos sitados no texto como falhos, vlw pela ótmia crítica construtiva!!!!
ResponderExcluircanabis na ativa---membro incentivador
http://www.flickr.com/photos/pedrograndepedro/4862286585/
Texto muito bem escrito. Parabéns ao autor.
ResponderExcluirSó uma pequena ressalva para deixá-lo melhor: Haver se conjuga no singular quando significa existir, no último parágrafo. ;D
foi tudo lindo! Mas isso é so o começo, pois muitas virão!
ResponderExcluirTemos que continuar lutando por essa causa até o fim! não podemos desistir de reeinvindicar nossos direitos, por isso, que venham novas marchas! estaremos lá.
ResponderExcluireh isso ai...eu so de natal..e naum podia perder...foi muito legal sim..legalize ja...
ResponderExcluirse for preciso saio de sao luis de montes belos-go pra levantar a bandeira pro maconha
ResponderExcluirPlantar SIM
Traficar NÃO