sexta-feira, 13 de agosto de 2010

[Ed. 76#] THCélebre: François Rabelais e a Maconha Pantagruelion!

Não é qualquer um que tem um adjetivo feito com seu nome. “Rabelaisian”, em inglês, significa 1- relacionado ou característico de Rabelais e seu trabalho ou 2- marcado por um humor grosseiro, caricaturas extravagantes ou um naturalismo arrojado. (Webster’s New Collegiate Dictionary, 1976 – traduzido)

Estamos falando de um monge franciscano, médico, botânico e um dos primeiros autores europeus a ler em grego. Os livros de Rabelais foram banidos pela Igreja Católica, condenados por Sorbonne e pelo parlamento e mencionados como “livros sujos” na peça “The Music Man”, de 1957. Naturalmente, eles são insuportavelmente populares depois de tanta repressão.
 
A erva “pantagruelion” no épico de Rabelais, "Gargantua e Pantagruel" foi identificada como sendo maconha em 1854, por M. Leon Fay em sua monografia “Rabelais, botânico” (Angers, 1854). Fay mostrou que a descrição de Rabelais para Pantagruelion é, não só botanicamente correta, como também “tão cheia de vida quanto a erva propriamente dita” (In: Marijuana Papers, ed. David Solomon, p. 145). No prólogo do autor para Gargantua, o primeiro livro da série (sobre o pai de Pantagruel), Rabelais escreve:
 
“Nobres bebedores e queridos amigos... quando Alcibíades, naquele diálogo de Platão chamado "O Simpósio", louva seu mestre Sócrates, sem dúvida nenhuma o príncipe dos filósofos, ele o compara, entre outras coisas, a Sileno. Agora, um Sileno, naquela época, era uma caixinha, do tipo das que se veem em boticários, pintada por fora com figuras alegres e cômicas como aves de rapina, patos, bodes voadores... e outras coisas desse tipo inventadas para dar alegria, como era o Sileno o mestre do deus Baco. Mas dentro dessas caixinhas existiam drogas raras como bálsamo/erva-cidreira, âmbar cinzento, cardamum, almíscar, civeta, essências minerais e outras coisas preciosas. Esse tipo de objeto, de acordo com Platão, era Sócrates... uma vez que você abre aquela caixa, você encontrará uma droga paradisíaca e impagável: um entendimento sobre-humano, virtude milagrosa, coragem invencível, sobriedade incomparável, contentamento infalível, confiança perfeita, e um incrível desprezo por todas as coisas que o homem tanto espera, busca, navega e briga..."
 
E a tradução da obra vai além... veja: "Você deve abrir esse livro, e pesar cuidadosamente seus conteúdos. Você vai descobrir que a droga no interior é muito mais valiosa do que a caixa prometida; isso quer dizer que os assuntos aqui tratados não são tão bobos como o título na capa sugeriu. Mas você pode  até supor que no sentido literal você vai encontrar uma alegria sem sentido, em perfeita harmonia com o título, você também não pode ser intimidado, como pela canção das sereias, mas deve interpretar o que você pode ter pensado de primeira, num sentido mais sublime”.
 
“Você já viu um cachorro – que é, como diz Platão, em seu Segundo livro da República, a criatura mais filosófica do mundo – encontrar um osso humano? Se sim, você deve ter notado como ele olha para isto com devoção, como guarda com cuidado, como segura bem, como ele começa a roer com cuidado como ele lambe e como quebra isso. O que o induz a fazer isso tudo? Que esperança ele tem no seu trabalho? Que benefício ele espera? Nada mais do que uma pequeno osso..."
 
“Agora você deve seguir o exemplo desse cachorro e ser esperto cheirando, experimentando e saboreando estes livros interessantes... através de uma leitura diligente e meditação frequente você deve quebrar o osso e lamber a medula – esse é o significado que eu quero passar através desses símbolos de Pitágoras – na esperança e garantia de me tornar mais sábio e corajoso com tal leitura. Aqui você vai encontrar um sabor individual e ensinamentos abstrusos que vão lhe iniciar em certos altos sacramentos e medonhos mistérios que dizem respeito não só a nossa religião como também a nossa vida pública e privada.”
 
Todo esse mistério é parcialmente resolvido na obra quanto Rabelais começa a revelar o que é a Pantagruelion, já nos últimos capítulos do terceiro livro.
 
Capítulo 49
"A erva pantagruelion tem uma raiz pequena, embora arredondada, e termina numa ponta, branca, com poucos filamentos e não cresce mais profunda que um cúbito. Da raiz vem um único tronco, arredondado, parecido com cana, verde por fora, esbranquiçado por dentro, oco... cheio de fibras. Sua altura varia entre 1,5m e 1,8m aproximadamente. Às vezes excede o tamanho de uma lança, o que acontece quando o solo é doce, úmido, claro, sem frio... é uma erva que perece a cada ano e não uma árvore com raízes, tronco, casca e galhos que resistem”
 
"Do tronco, saem galhos fortes e compridos. As folhas são três vezes mais longas do que grossas, sempre verdes... e presentes em toda sua extensão como uma foice e como uma betônia, terminando em pontos... as folhas são igualmente espaçadas por todo o talo em anéis, por número – cinco ou sete. Ela é tão querida pela natureza que foi dotada em suas folhas por esses dois números assimétricos tão divinos e misteriosos. O cheiro é forte e pouco agradável a narizes delicados."
 
“A semente aponta para a ponta do talo e para baixo. É tão numerosa quanto a de qualquer erva existente, esférica, rumbodial, amarelo-acastanhado, dura, coberta com uma casca frágil, deliciosa para todos os passarinhos cantores como
pintarroxos, tentilhões, cotovias, canários, serins, tarins, e outros... Nesta erva tem o macho, que não dá flores, mas tem abundância de sementes, e uma fêmea, que abunda em pequenas flores esbranquiçadas, é inútil, e não dá sementes utilizáveis e como outras, se assemelha, tem uma folha mais larga, porém menos rígida que a do macho e não cresce a uma altura comparável." [Ele confunde os dois sexos]
 
“Alguém semeia o pantagruelion na volta das andorinhas. Pode ser colhida quando os gafanhotos começam a crescer.”
 
Capítulo 50: Como preparar e usar a tão celebrada Pantagruelion
“Pantagruelion pode ser preparada durante o equinócio de outono de diversas maneiras, de acordo com o desejo das pessoas e a diversidade das terras. A primeira instrução de Pantagruel foi sobre o talo para separar as folhas e sementes, amolecer em água parada por cinco dias se o tempo estiver seco e a água morna; por nove ou doze dias se o tempo estiver frio, aí deve-se secar ao sol, então separar na sombra as fibras (nas quais, como já dissemos, consiste todo seu preço e valor) da parte do tronco, que é inútil, exceto para fazer tochas luminosas, acender o fogo, e para o encantamento de crianças pequenas, inflar bexigas de porco. Os frades às vezes a usam em segredo como sifões para sugar
o vinho novo da rolha. [Esta é uma descrição clássica de amolecimento em água, para separar a parte fibrosa do córtex interno]”
 
No capítulo 51, Rabelais resolve falar das diversas utilidades da planta à época. Veja só:

“Sem isso não daria para levar o grão pra moagem na usina, nem trazer de volta a farinha. Sem ela, como seriam as defesas dos advogados nas audiências? Como seria sem ela carregado o gesso até oficina? Sem ela, como iriam tirar a água do poço? Sem ela, o que fariam copiadores, secretárias e escritores? Não iam acabar as taxas de pedágio e os formulários de aluguel? Não ia se extinguir a nobre arte da impressão? Onde seriam feitas as pinturas? Com ela, as sacerdotisas de Isis são enfeitadas, os pastores vestidos, toda a humanidade coberta primeiramente. Todas as árvores de lã, as árvores de algodão de Tylos no mar da Pérsia, os cisnes dos Árabes, as videiras do Malta não vestem tantas pessoas quanto veste essa erva sozinha. Protege os exércitos do frio e chuva com mais comodidade do que o fazem as peles; cobre os teatros e anfiteatros do calor, protege o bosque e as matas dos prazeres de um caçador, dissolve na água, é tão cativante quanto o mar, pra felicidade dos pescadores. (...)”

"E digo mais. Com esta erva, substâncias invisíveis são visivelmente presas e detidas, como se colocadas na prisão; com a sua captura, as pedras de moer são usados em benefício da vida humana. E me admiro como a invenção desse uso foi, por muitos séculos, escondida dos filósofos antigos, vendo a utilidade inestimável que isso provê, vendo o trabalho intolerável que, sem a erva, passaram em suas fábricas. (...)"

A obra é muito extensa, e por se tratar de algo muito antigo, está um pouco fora do contexto, mas mesmo assim é interessante observar como a erva foi identificada e marcou a cultura dele, que viveu supostamente entre os anos de 1484 e 1553. Ele não fala de consumo fumado da erva, mas por ter dedicado um livro inteiro a ela, acho que Francois Rabelais merece um espaço na nossa lista.

4 comentários:

  1. Esses textos dos séculos passados nos deixam mais aliviado, sabemos que ela sempre esteve na humanidade mais tentaram esconder a semente que brota da terra.
    MAIS ELES NÃO CONSEGUIRAM, ELES NÃO VÃO CONSEGUIR!!

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  2. ´´USARAM E ABUSARAM DE TODAS AS FORMAS E AGORA QUEREM BOTAR A CULPA NELA´´
    A ERVA ESTA E SEMPRE ESTEVE NO MEIO DA HUMANIDADE OS HIPOCRITAS E QUE FECHAM OS OLHOS PARA A REALIDADE.
    LEGALISE JA !!!!!!!!GANJA!!!!!!!!!!
    ANTONIO BH

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  3. gente ignorante não sabe nada sobre isso, kkk por isso eles falam besteiras sobre a santa kaya kaneh bosm!!!

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