[Ed. #79] Adão e Erva: A Suprema Corte Latina do Ativismo pela Legalização da Maconha!

O Rio de Janeiro amanheceu com um clima mais ameno, após um veranico de assustar os estrangeiros que visitavam a cidade durante o inverno. Naquele sábado, o ponto de encontro era o bairro que faz a transição entre o Centro e a Zona Sul da cidade. Aos poucos, sotaques latinos de todos os tipos foram se misturando com a língua portuguesa e europeus que dominavam o espanhol. Ali se formava a Suprema Corte pela Legalização da Maconha. Sentados em volta de uma grande mesa estavam brasileiros, uruguaios, chilenos, argentinos, peruanos, colombianos e mexicanos, ingleses e holandeses que passaram a tarde debatendo estratégias de guerra.

A reunião foi feita em uma sala localizada no primeiro andar do prédio e podia ser vista por quem passava pela rua olhando pelas janelas coloniais. Difícil era imaginar que ali estavam reunidos ativistas de todo mundo discutindo sobre como reverter a história de quase um século de política proibicionista. A aparência e as vestimentas da maioria dos que se sentaram à mesa em nada lembra o estereótipo dos usuários de drogas.

A reunião começa com uma pequena apresentação da experiência holandesa na construção de uma lei de drogas. A legislação do país que conquistou fama mundial por regulamentar a venda e o consumo de maconha dentro de coffe shops era motivo de inveja para a maioria dos presentes. Mas todos concordaram que o modelo holandês ainda é recheado de contradições que precisam avançar. Um dos principais problemas está no fato de que todo comércio que abastece os estabelecimentos autorizados a vender maconha ser ilegal. Apenas o comércio entre a loja e o usuário foi regulamentado.

A organização desse tipo de articulação internacional ganhou ainda mais força quando uma informação preciosa foi dita. Um membro do movimento que possui estreita ligação com um famoso milionário financiador da causa falou da necessidade de uma articulação em nível nacional ou internacional para manter viva a linha de crédito. Mais do que nunca, todos perceberam a importância de se construir um elo mais forte entre todos os grupos presentes.

O almoço

No instante que entravam no restaurante a televisão transmitia o horário eleitoral gratuito. Naquele exato momento estava em exibição o programa do PSOL com candidatos a Deputado Federal no Rio de Janeiro. Foi quando Renato Cinco, famoso militante da Marcha da Maconha, surgiu no plasma por preciosos quatro segundos para alegria de alguns presentes que observavam a televisão.

As cores da culinária brasileira exerceram um enorme fascínio sobre estrangeiros. O inglês que mora nos Estados Unidos e fala espanhol se esforçava para decifrar o cardápio em português. Com um pouco de ajuda opta pela opção mais saudável: um frango grelhado com salada. Ao escolher a bebida, escolhe aleatoriamente um excêntrico suco de mamão para acompanhar a refeição.

Voltamos ao debate com o desenvolvimento de estratégias de guerra para aumentar a participação da sociedade na luta pela legalização. Após desenvolver uma longa tese um dos participantes aponta para Igreja como um dos principais inimigos da causa.

Tradicionalmente contra o uso de qualquer substância entorpecente, os líderes religiosos foram condenados pela demonização da maconha. A estratégia de combate foi pautada essencialmente pela produção de um elemento capaz de derrubar qualquer tipo de preconceito: a informação.

Olho no relógio

O primeiro encontro da Suprema Corte seguia de forma bem democrática ao longo daquela tarde de sábado. Apesar de algumas divergências quanto a estratégia de ativismo, houve um momento em que todos concordaram: a realização de uma pequena pausa na reunião. Conforme combinado previamente, às 16h20 o trabalho é interrompido e todos seguiram em direção ao belo jardim de inverno localizado na cobertura prédio.

Com uma bela paisagem do Aterro do Flamengo ao fundo, o ato de louvor a marijuana foi feito em uma grande roda. Enquanto os baseados circulavam de mão em mão, teve início uma troca de experiências sobre a qualidade da maconha consumida em cada canto da América Latina. Os brasileiros, coitados, lamentavam o domínio de mercado do prensado paraguaio de péssima qualidade. No entanto, aquela tarde foi salva por camarões de primeira linha.

Como proposta final, ficou definida a formação de uma rede latino-americana de ativismo canábico. Foi criada uma lista de e-mails que começa aos poucos a construir uma organização internacional!

A Suprema Corte Latina pela Legalização da Maconha terminou seu primeiro encontro em um bar do mesmo bairro. Lá, a famosa torre de chopp que tomou conta dos bares cariocas deixou alguns gringos fascinados com a possibilidade de tirar a própria bebida da torneira.