[Ed. #83] Portas da Percepção: Leary Descobre o LSD!

por Fernando Beserra

Vamos fechar a novela learyana em bom estilo e, ao mesmo tempo, nos relacionando com uma coluna aqui do Hempadão: o “bONG”. Ao longo do post os leitores hão de entender.

Pois bem, já sabemos que Leary tinha um tesão todo especial em desafiar a autoridade e fomentar a autonomia das pessoas. Até o último post Timothy Leary ainda não tinha um problema mais radical com as autoridades, mas a situação em Harvard começou a piorar, aguçada por ciúmes em relação ao projeto da psilocibina, amado pelos estudantes. Mas isso não bastava, o buraco era mais embaixo, o principal rival de Leary em Harvard, o professor Herbert Kelman também trabalhava com psicodélicos no “Fundo Ecologia Humana”, como revelou mais de 10 anos depois para o Boston Globe, após as operações da CIA de estudo de lavagem cerebral com LSD terem sido reveladas a público – o famoso projeto MK Ultra, onde a CIA investiu mais de 25 milhões de dólares.

Todo este contexto desfavorável só iria ser potencializado após Leary travar contato com Humphry Osmond, médico em Nova York, um dos criadores do termo “psicodélico”. Osmond havia conseguido 10.000 doses de LSD com a Sandoz para estudar seus efeitos na estrutura circular das teias de aranha. Após provar acidentalmente o LSD em uma colher, consumindo aproximadamente 100x mais que qualquer indivíduo na história da farmacologia, Osmond deu adeus ao projeto das aranhas para “ligar” o mundo. Entre estes “ligados” estava Timothy Leary que com sua experiência de LSD abandonou a psilocibina e o LSD logo seria o principal psiquedélico do projeto de Harvard e depois da IFIF (International Foundation for Internal Freedom).

Os aventureiros dos psiquedélicos mudaram o projeto para o México conseguindo verba externa. Após a saída de Harvard e criação da IFIF os pesquisadores e ativistas se engajaram na criação do periódico Psychedelic review. No IFIF o objetivo era estabelecer centros em todos os EUA para que neles fossem conduzidas sessões de treinamento com drogas psicodélicas.

Após o problema com as autoridades, professores, chegando ao ponto de acadêmicos de Harvard ameaçarem alunos de perderem recomendações por participarem do projeto de Leary, tudo poderia ainda piorar quando pais raivosos começaram a reclamar com a direção que seus prodígios filhos, a elite intelectual dos EUA, estava tendo comportamentos excêntricos como prática de meditação, ioga e fazendo viagens a Índia. Os principais pesquisadores do projeto resolveram cancelá-lo e levaram-no para fora da academia com a IFIF. Mas, após uma saída temporária do diretor de psicologia de Harvard, o maior rival do projeto, Brendam Mahem, entrou no comando e demitiu Timothy e Richard Alpert da renomada universidade, o que só tinha acontecido até o momento com Ralph Waldo Emerson.

Mas o tempo das expulsões e perseguição do governo americano apenas havia começado. Leary e Cia foram expulsos do México pelo próprio presidente, depois da República Dominicana, etc. Finalmente a IFIF se instalou numa mansão dos Hitchcock em Milbrook. Os ativistas chamaram sua operação de Fundação Castália, imitando a sociedade de cientistas místicos de “O jogo das contas de vidro” de Herman Hesse.

Milbrook passaria por uma série de espionagens e riscos de invasão pelos federales, mas foi em conflitos internos que o paraíso terráqueo acabou. Neste tempo muitas idéias inovadoras surgiram, mas não teríamos tempo para explorá-las. Um ótimo exemplo foi uma espécie de espetáculo com luzes, cores, sons, que simulava uma experiência de LSD e poderia levar o espectador, mesmo sem o uso de substância, a explorar novos circuitos cerebrais.

Após toda esta aventura e militância, nem um pouco formal, e bastante típica dos anos 60, Leary foi pego, na verdade sua filha Susan Leary, com uma pequena quantidade de maconha na fronteira com o México. Através de guardas, juízes, e outras autoridades negligentes o dr.Leary seria condenado por 10 anos. O carcerário ao aplicar um teste psicológico para saber para qual prisão Leary iria ainda ficou constrangido por ter que aplicar um teste de personalidade que Leary havia aplicado nele mesmo.

Bem, fechando a novela learyana destes 3 posts, podemos lembrar que Leary ainda fugiria da cadeia com os weatherman, iria para a África encontrar com lideres dos panteras negras, mas isso fica para outra discussão. O mais importante destes 3 posts é lembrar aos leitores que mesmo um aventureiro, ativista, intelectual visionário, como Leary tinha um enorme cuidado para planejar as sessões e transformações na experiência com os enteógenos.

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