por Fernando Beserra
Os leitores desta coluna do Hempadão já leram sobre diferentes perspectivas da psicoterapia com enteógenos. Desde as mais políticas como a de Timothy Leary, até as engajadas na vizinhança da ciência tradicional, como as de Charles Grob e Roland Griffiths. Hoje vamos visualizar dois grandes mestres que trabalham com enteógenos: Stanislav Grof e Salvador Roquet. Richard Yensen, um dos grandes nomes da psicoterapia com enteógenos, que trabalhou com ambos – além de ter estudado com o controverso Carlos Castañeda e realizado sessões com a sábia dos cogumelos, Maria Sabina[1] – classifica o primeiro como o gênio teórico do movimento da terapia com psiquedélicos e o segundo como o gênio prático.
Em primeiro lugar, é preciso considerar que no trabalho de Grof com psiquedélicos, assim como no de Roquet, nunca poderemos fabricar uma harmonia com o modelo clássico de ciência, já que este parte de um paradigma[2] inadequado para lidar com o tipo de realidade proporcionada pela experiência psicodélica. Assim como a realidade hoje conhecida pela física quântica não pode ser explicada pelo modelo newtoniano de física, também a experiência com enteógenos não poderia ser explicada pela ciência positivista. O ridículo de se trabalhar com enteógenos a partir do paradigma positivista é a nomeação de experiências que mudam, em determinadas circunstâncias, para melhor a vidas de milhares de pessoas, como se fossem simplesmente alucinações[3], tal como foi feito com a patologização[4] da experiência religiosa. Esta patologização é inaceitável após as longas contribuições de pessoas como o psicólogo suíço Carl Gustav Jung e o humanista Abraham Maslow, que iluminaram nossa compreensão dos estados não ordinários de consciência, desfazendo nosso típico etnocentrismo: razão acima de tudo, imaginação como esgoto.
Para muitos psicólogos, a saúde mental está relacionada à possibilidade de um sujeito se transformar em suas relações consigo mesmo e com o mundo. O problema não estaria tanto numa experiência obsessiva, histérica, maníaca ou depressiva, mas na fixação nestes estados. Logo, um dos principais fatores que permite que os enteógenos sejam utilizados em psicoterapia é que eles levam a uma profunda alteração da consciência, ou seja, na forma pela qual um sujeito percebe a si (memória, identidade, percepção corporal..), os outros, a sociedade e mesmo o cosmos. As psicanálises trabalharam muitas vezes pensando nesta possibilidade de re-significação de conteúdos mnemônicos (relativos a memória), muitas vezes a partir da revivescência de afetos associados a representações psíquicas traumáticas ou que balizariam determinada organização psíquica sintomática. Albert Hoffman e Schultes pensavam que o Ego (Eu) dá lugar a outra espécie de Ego na experiência psicodélica, resultando numa perda de percepção habitual do mundo. É esta experiência, esta possibilidade de re-ver o significado habitual dado as coisas que permite um enorme potencial terapêutico aos psiquedélicos. O filósofo alemão Friederich Nietzsche em “Assim falou Zarastustra” fazia as seguintes metáforas sobre as metamorfoses do espírito: o espírito transita pelo camelo, leão e finalmente devir criança. É a criança que permite, após tantas lutas e carregamento de peso, a liberdade criativa, a recriação. Isso, queridos hempadeiros, nenhuma tecnologia ou anabolizante no mundo nos dará.
Voltemos aos enteogenicos. O modelo da aplicação da psicoterapia com enteógenos difere significativamente entre ambos: Grof trabalhava com seus pacientes individualmente[5] e com poucas substâncias diferentes, como o LSD, DPT (N, N-dipropropiltriptamina) e MDA (3,4 metileno dioxianfetamina). O uso das substâncias era feito num local o mais aconchegante possível, sem o uso de jalecos brancos ou caracterizações hospitalares (todo cuidado com a ambientação!). Grof trabalhou especialmente com as experiências perinatais ou transpessoais, embora procurasse integrar a diversidade das realidades humanas – desde as mais básicas – em sua visão de mundo e terapêutica. Na sua perspectiva é dado muito valor a substância e a experiência psiquedélica, mais do que ao manejo do terapeuta durante a experiência. Tanto é assim que Grof costumava a dizer que se uma pessoa não conseguiu resolver alguma questão durante a experiência que lhe desse outra.
Já Salvador Roquet trabalhava no México com seus pacientes em grupo (o que Grof achava inviável, e não funcionou quanto tentou, na Checoslováquia), utilizando as mais diversas substâncias, tais como: psilocibina, mescalina, datura, ketamina, etc, etc... (Yensen diz que deveria se perguntar para Roquet, afinal, com quais substâncias ele não trabalhava). Roquet usava bata branca durante os trabalhos terapêuticos e usava uma série de recursos (inclusive áudio-visuais), além da própria intuição e sabedoria pessoal, para conduzir a sessão em grupo através de uma confrontação no momento inicial até uma integração no final do trabalho.
O professor Roquet chega a sugerir, numa entrevista disponível no site Onírogenos que os “alucinógenos” poderiam vir mesmo a tratar a esquizofrenia, já que haveriam casos onde pacientes após o uso não tiveram mais recaídas. Com o uso dos psiquedélicos, muitos pesquisadores desejaram encurtar os longos períodos necessários para uma psicanálise, embora, o próprio Roquet diz que o que ele faz no México não pode ser considerado uma psicoanálise, mas um enfrentamento a psicanálise: a psicosíntese.
Sem dúvida as posturas são muito diferentes e merecem nossa consideração para estudos e experiências vindouras. Mas, perguntamo-nos, vindouras quando? Afinal, quando vamos começar a estudar e praticar a psicoterapia com enteógenos no Brasil? Ou será que estes ficarão restritos à religião, como no caso da ayahuasca?
[1] - Um livro sobre a venerada xamã, é o de Álvaro Estrada: Maria Sabina, a sábia dos cogumelos.
[2] - Embora o termo paradigma tenha uma longa história, tendo sido utilizado de diferentes formas por Platão e Aristóteles, ele é comumente usado hoje a partir do historiador ou filósofo das ciências Thomas Kuhn, que o entende como: “realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”. Já Edgar Morin o define da seguinte forma: “princípio de distinções/ ligações /oposições fundamentais entre algumas noções mestras que comandam e controlam o pensamento, isto é, a constituição das teorias e a produção dos discursos”.
[3] - O que é incongruente mesmo pela definição de alucinação, que não comporta a manutenção que ocorre na experiência psicodélica da memória do sujeito de quem ele é, de que usou uma substância, de onde está, mesmo que, paradoxalmente, esteja em outro lugar e se identifique como sendo outra pessoa ou coisa.
[4] - Tornar patológico, como se fosse uma doença.
[5] - Grof e um grupo de pesquisadores tentaram trabalhos em grupo com psiquedélicos, mas sem sucesso, considerando que o trabalho individual era mais adequado.
Tenho a primeira fotin da materia cmo wallpaper do meu pc...
ResponderExcluirAOIHEOIAJeoihae
muuuuuitoooo booom, eu quero um cogumelo :D
ResponderExcluirass: rafinha
Legalize jáh
paaaaaaaz.
wow bom demais hempadão!
ResponderExcluircogumelo te mostra realmente quem você é!
paz e luz!
Classe A! Muito F###,Jah Disse E Vou Repetir,Estou Pagando Pau Pro Portas Da Percepção,O Uso De Certas Substâncias Vai Muito Além Do Explicar Ou Tentar Entender,Vc Só Entende Por Completo(Ou Quase por Completo)Quando Experimenta.Show de Bola Fernando Beserra!,Acredito q o Preconceito é uma Coisa tão Ruim,mas tão Ruim q apesar de sabermos Atualmente o quão é ruim,Ainda não temos A Verdadeira Noção DO Estrago q ele faz,em todos os Sentidos,um bom e fácil exemplo é a Maconha,Apesar Da Quantidade de Mitos e Tabus Quebrados Hoje em Dia,Ainda Há Quem Pense q ela Só traga malefícios,COmparando a mesma com outras Drogas q Comprovadamente de Longe são Bemmmmmm Piores,inclusive ás legalizadas,e quando se fala em Enteógenos e Psicodélicos...Piora ainda +, aí o Buraco Ainda é + embaixo,Nego Já Pensa q Isso é Negócio de Doido,de Pertubado,de Louco....
ResponderExcluirBomConheiro é por isso que Einsten ja dizia: É MAIS FACIL DESINTEGRAR UM ÁTOMO DO QUE SE DESFAZER DE UM PRECONCEITO!!
ResponderExcluirfazer o que né se tudo isso ainda é muito rejeitado pela sociedade, de que as drogas em geral nao valem nada, agente sabe que isso nao é verdade, que as drogas principalmente as enteogenas quando usadas com sabedoria, conhecimento e consciencia do que vc está fazendo e aonde voce quer chegar com isso, tudo pode ser visto de outra maneira, até mesmo resolver conflitos internos, como problemas psicologicos, esquizofrenia,depressao e uma serie de coisas que agente já sabe!
Agente abre as portas da percepção, agente descobre o que é bom pra gente, e queremos passar isso adiante, mais nao adianta as pessoas ainda nao estao preparadas para receber isso, lamento muito é uma pena, pq poderiam ser melhores, e mais produtivas aqui na terra...mais preferem manter as portas da percepção fechadas e jogar a chave fora! Uma pena realmente.
Eai Camila e bomconheiro,
ResponderExcluirEstou de acordo com o que vocês disseram. O preconceito realmente é um dos maiores inimigos de usos sensatos dos enteógenos, incluindo a cannabis.
Parece, porém, que quando uma substância é regularizada diminui o preconceito quanto a ela, a exemplo ca cannabis medicinal, mas também pensando no caso do peyote nos EUA e da ayahuasca no Brasil.
O problema é que temos mais do que preconceitos, mas estes se articulam a outros atravessamentos, como questões politicas, economicas (como no caso da maconha) e mesmo psicológico-culturais. E cada questão vai se entrelaçando com outras formando este círculo proibicionista que morde o próprio rabo e não consegue ver para além do próprio umbigo (omphalos).
Existem pelo menos dois campos importantes de atuação para superação deste estado de coisas, sendo um uma luta no campo da informação, cultura, política, o que fazemos aqui no Hempadão, leitores e escritores, leitores-escritores e escritores-leitores, e outros vem fazendo também. Pois se trata de um jogo de forças, já dizia Foucault sobre a relação saber-poder.
Do outro lado, as transformações pessoais que rompem com o que condicionamentos e aprendizagens que visam modelar não só nossos valores em direção a submissão a autoridade, mas também nossa senso-percepção e limitar nossas possibilidades de ver, ouvir, sentir o mundo, vem em confronto a enteogenia. O exercício da enteogenia, seja com ou sem enteógenos, deve ser um exercício de autonomia e liberdade, que nos permite de modo radical abrir os portais para outros tipos de realidade, antes negados, reprimidos, ou ainda tornados invisíveis por mecanismos de poder e opressão.
hempadão poderia flar um pouco de gnoose tb, pq as respostas só vem qdo vc se percebe fora do corpo e tem seu sonho lucido , projeção astral libertação da sua verdadeira essencia, qm ja teve sabe oq eu to dizendo..
ResponderExcluirPaz e Cultura
q lhoucura
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