[Ed. #91] Adão e Erva: A Guerra tá Armada - Vai dizer que a culpa é da Maconha?

Vocês já sabem que o Rio de Janeiro está pegando fogo. O que vocês provavelmente não sabem é que a redação do Hempadão fica muito perto do local onde vários ataques ocorreram. Adão não foi trabalhar, como milhares de cariocas, que tiveram de abandonar empregos ou faculdades, pelo estado de terror que assola a cidade.

 

Ficar em casa é ser bombardeado por notícias tristes e cada vez mais chocantes. É perceber que o nosso país é alvo da mídia internacional. Lidar com o twitter e todas as manifestações pífias de tentar impor culpa ao usuário de drogas por toda a situação. Todos os dias quilos e mais quilos de maconha são apreendidos nas fronteiras, eu vos pergunto: alguém vê apreensão de armas? E munição? Como isso tudo chega nas favelas? Muita gente coloca a culpa na maconha, uma planta. Mas que sentido isso faz?

 

Ver gente comemorando a fuga dos bandidos. Como se a fuga destes bandidos fosse representação da fuga de todos os marginais. Ou como se a morte de qualquer número de traficantes fosse comprar paz em alguma instância. A população do Rio se diz mais segura, enquanto vê passar pelas ruas nada mais que tanques blindados de guerra, fora uma ferramenta da polícia aplaudida por muitos, mas com o nome bizarro de Caveirão. O BOPE, conhecido nacionalmente pela geração Tropa de Elite, está nas ruas.

 

Há centenas de inocentes feridos. Há pânico, medo e muitos boatos. Tudo isso reacende o velho debate. Afinal de contas, além de matar muita gente, a polícia do Rio conseguiu apreender cerca de uma tonelada de maconha, só hoje. Embora a Vila Cruzeiro esteja sob caos, muitos outros pontos do tráfico funcionam de forma normal. Ninguém acredita no fim do tráfico, só se diz combate. E nesse combate, morrem inocentes e culpados, nascendo ódio e desespero, numa relação de causa e efeito.

 

Alternativas precisam ser pensadas. De Marcelo D2, passando por Bruno Mazzeo, o cartunista Latuff, chegando aos políticos como Ale Youssef e Paulo Teixeira, todo mundo matuta através do Twitter. Adão no meio do fogo de opiniões não acredita que o Estado possa ser tão covarde, elegendo e sentando bala numa comunidade em choque, sob choque.

 

Ninguém pensa em legalizar. Até o presidente da Organização Viva Rio, o Rubem César, participou do programa da GloboNews, mas não deixou em nenhum momento claro seu posicionamento em relação à política de drogas, algo que está relacionado diretamente com o que tem acontecido não só no Rio, mas também no México, onde cartéis se fortalecem às custas da proibição.

 

Adão pergunta ao policial e ao traficante: vocês gostariam de ver a maconha legalizada? E os dois dizem não. Há muito tempo atrás o Secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, nesse mesmo contexto de guerra, disse que a culpa era do usuário de drogas. A Hempada respondeu e foi parar em diversas mídias, inclusive no Jornal O Globo. Acho que o som é atual e Adão adora ouvir, apontando a falta de sagacidade do estado na solução deste problema:

 

 

Enquanto novos planos de guerra são traçados por canetas de tinta preta, é sangue que jorra no morro. São os pobres, muitos sem poder voltar para suas casas, que realmente sofrem com toda essa calamidade. O direito de ir e vir do cidadão está desde já castrado. Hoje foi presenciado o ápice da violência e repressão. Adão passou o dia em meditação, orando à Jah por um pouco de paz. E - sobretudo - sabedoria.