domingo, 21 de novembro de 2010

[Ed. #91] Discovery Hemp: O Uso Terapêutico da Maconha, por Cientistas!

por Dr. Moura Verdini

 

Segue abaixo um texto reproduzido a partir do site JornaldaCiência.org, um instrumento da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), publicado em 19 de julho de 2006 e trata sobre a questão da legalização terapêutica e social da maconha.


Para Elisaldo Carlini, professor da Unifesp e diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), não há empecilho de ordem científica para a liberação do uso médico da maconha.

O tema é polêmico e reuniu um grande público na manhã nesta quarta-feira, terceiro dia da Reunião Anual da SBPC, para assistir à conferência de Carlini, que estuda o assunto há 50 anos. Ele defendeu o uso terapêutico do delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), princípio ativo da maconha, especialmente em casos de doenças como a esclerose múltipla.

Identificado em 1964, o THC está atualmente classificado pela Convenção de Psicotrópicos da ONU na lista I (com efeitos psicotrópicos, mas nenhum uso médico) e na lista IV (com propriedades particularmente perigosas). Um potencial de perigo semelhante ao da heroína, considerado um absurdo por Carlini.

“Não há nenhuma razão farmacológica, terapêutica ou médica para isso. Não podemos comparar as propriedades do THC às da heroína, elas não se assemelham”, afirma o diretor do Cebrid.

 

Demonização
Segundo Carlini, existem registros do uso da maconha como medicamento há pelo menos 5 mil anos. No século XIX, a droga passou a ser utilizada na Europa, graças a estudos que descreviam suas propriedades médicas, especialmente no alívio da dor de origem nervosa e na ação de relaxamento muscular.

No Brasil, o Formulário e Guia Médico, de Pedro Napoleão Chernoviz, recomendava em 1888 o uso de cigarrilhas contendo o princípio ativo da maconha para combater bronquite crônica, asma e tuberculose. Em 1930, o Catálogo de Produtos Farmacêuticos foi publicado com indicações da maconha como calmante e anti-espasmódico, em quadros de dispepsia, insônia, nevralgia, perturbações mentais e asma.

Entretanto, a maconha passou a sofrer de uma verdadeira “demonização”. Carlini explicou que o Brasil teve participação fundamental nesse processo, quando defendeu na II Conferência Internacional do Ópio, em 1924, que a substância utilizada como medicamento era mais perigosa que o ópio. Com isso, ao lado do governo do Egito, o Brasil conseguiu a proibição da venda da maconha.

Fibra de Nylon Além disso, houve à época o lobby da indústria da fibra sintética. Segundo Carlini, o representante do Ministério da Saúde dos EUA, que investiu fortemente contra a maconha, era sócio de fábricas produtoras da nova fibra.

A recente retomada de estudos sobre da maconha, com a identificação de seus componentes químicos, contribuiu para melhorar o status social da planta. Além da descrição de 66 canabinóides, entre eles o THC, já se sabe que existem dois endocanabinóides naturais, produzidos pelo cérebro. Os estudos seguintes levaram ao desenvolvimento de um antagonista dos receptores cerebrais para o THC.

O avanço das pesquisas fez com que se comprovassem os efeitos do THC na redução das náuseas e vômitos pós-quimioterapia e o aumento do apetite em pacientes de AIDS e câncer. Estudos mostram ainda a grande eficácia da maconha, mesmo na forma do cigarro, em atenuar as dores neuropáticas entre pacientes com esclerose múltipla.

 

Atualmente, 13 estados dos EUA permitem o uso controlado da substância. Na Holanda, a maconha já é considerada medicamento, sendo cultivada pelo próprio governo e distribuída no sistema de saúde mediante controle. Alemanha, Suíça, Reino Unido e Canadá já têm suas Agências Nacionais da Cannabis, exigência da ONU para a comercialização para fins terapêuticos.

 

Burocracia
No Brasil, apenas a Unifesp e USP/Riberão Preto realizam pesquisas com a maconha na área clínica. Para desenvolvê-las, é preciso aprovar o projeto primeiro na Comissão de Ética da instituição e depois na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

 

Daí, o pesquisador precisa obter a licença para importação do princípio ativo ou para obter a droga no país, o que não é fácil. Carlini reclama da burocracia existente não só para o estudo com a maconha, mas com as plantas medicinais em geral.

 

“Estou profundamente pessimista com o futuro das pesquisas. Aqui o pesquisador não pode trabalhar com plantas medicinais, porque ele vai para a cadeia”, desabafou. Apesar disso, ele não perde as esperanças: “Não passa mais quatro ou cinco anos sem que o uso da maconha para esclerose múltipla seja realidade para nós”.

 

Sobre questões legais, Carlini defende a despenalização do uso de maconha, sob qualquer forma, mas é contra a legalização. “Não podemos repetir os erros cometidos, do ponto de vista social, com o álcool e o cigarro”, disse.”

9 comentários:

  1. A única saída, ao meu modo de ver, ou pelo menos a mais interessante, seria a legalização para fins medicinais. As próximas gerações ja vão começar a receber informações mais corretas e menos demoníacas sobre a maconha. E nós também íriamos aproveitar esse estudo. Não querer investir em pesquisar melhor sobre maconha me parece estranho né? Legaliza pra fins medicinais e depois conversamos sobre o uso social.

    ResponderExcluir
  2. VOCÊS DO HEMPADÃO
    ..vocês tem a missão de nos coordenar nessa jornada
    precisamos de documentos apresentáveis as autoridades pedindo regulamentação para plantar e colher sem repressão!

    ResponderExcluir
  3. é ridiculo, o pesquisador não ter acesso a erva, enquanto os traficantes fazem milhões e matam outros milhões...
    ignorantes estão indo contra o avanço na medicina, cada dia que passa aparecem novas utilidades médicas para a cannabis, com o aprofundamento vai aparecer muito mais...
    não nade contra a corrente, vamos juntos rumo ao futuro!
    PAZ, legalize já!

    ResponderExcluir
  4. Não podemos esquecer dos problemas que a california enfrenta devido a legalização apenas medicinal. Se lá ja é fácil obter a licença médica de modo irregular, pensem como seria aqui no Brasil com toda a nossa corrupção. Alguns podem pensar que seria melhor, mas iria atrapalhar aqueles que realmente precisam para fins medicinais.
    O melhor a se fazer no início é liberar a cultivação além da liberação medicinal.


    @Off
    Sou estudante da Unifesp e nem sabia disso =O

    ResponderExcluir
  5. Não entendi a última parte, como despenalizar se não legalizar?

    Mas enfim, os comentários foram todos muito interessantes, mas em minha opnião, a gente tem que lutar mesmo é pela legalização para os fins sociais/recreativos, tem que ser de forma organizada. Como disseram nos comentários, nossos filhos já estarão recebendo uma informação mais democrática sobre o uso da droga, apesar da demora...isso será interessante e útil.

    Temos que perder a vergonha, e assumir que fumamos maconha, mostrar que muitas pessoas fumam, o probema é que ainda temos medo de nos mostrar e de nos tornarmos exemplos públicos, enquanto isso acontecer seremos para nós mesmos marginais, e da mesma forma permaneceremos para lei...

    Não tenham medo da Babilônia Irmãos!

    Que as bençãos de JAH recaiam sobre nossas cabeças!

    ResponderExcluir
  6. Acredito que o uso medicinal é o primeiro passo para o progresso.
    Aceitando o uso medicinal fica fácil aceitar o industrial do cânhamo e do biodiesel, por exemplo.

    Mas legalizar o consumo acredito que pode haver problemas como um descontrole de consumo abusivo de uma geração inteira.
    A população precisa de melhores explicações sobre o uso de algo que há décadas é ilegal.

    Quem sabe, ao mesmo tempo que for aceito o uso medicinal, deveria ser aceito o consumo próprio, assim como planta-se boldo, macela...

    ResponderExcluir
  7. muito legal a reportagem, e ainda o pensamento sobre a cannabis medicinal do Brasil, mas ultimamente tenho pensado muito sobre isso, e cheguei a uma conclusão que a cannabis medicinal pode nao favorecer a todos, alias, a poucos, poucos aqueles que consiguirem provar algum tipo de dores cronicas ou coisa parecida, que consiga o atestado para o tratamento medicinal com a cannabis. entenderam? abraço, e paz.

    ResponderExcluir
  8. Sofro de nevralgia do trigêmio, a pior dor do mundo. Como obter a maconha para tratamento enquanto o bom senso não vence a hipocrisia para sua legalização?

    ResponderExcluir
  9. Sofro de nevralgia do trigêmio, a pior dor do mundo. Como obter a maconha para tratamento enquanto o bom senso não vence a hipocrisia para sua legalização?
    Agradeço a quem puder me ajudar:
    maurosilvafranca@gmail.com
    Belém/PA

    ResponderExcluir