[Ed. #91] WeedNews: Da Escravidão às Cadeias – Maconha e Marginalidade!

por Marco Hollanda

O estudo de culturas marginalizadas sofre com a precariedade da preservação de registros que contam sobre o passado. Mas a história da maconha no Brasil, que se encaixa perfeitamente neste contexto, vai aos poucos saindo do abismo provocado pelo processo de criminalização e demonização da maconha.

 

Em um trabalho de campo realizado por arqueólogos da UFRJ foram encontrados em Itaboraí, Região Metropolitana do Rio, 198 cachimbos com resquícios de maconha. O material pertencia a escravos que viviam na região no século 19. Para alegria da comunidade canábica, os cachimbos serão exibidos a partir do dia dois dezembro na mostra "Arqueologia no recôncavo da Baía de Guanabara".

 

Algumas linhas de pesquisa sobre a introdução do hábito de fumar maconha no Brasil relacionam o fato a chegada de escravos das etnias Quicongo e Quimbundo, que trouxeram as sementes de maconha escondidas na roupa. A erva era utilizada por eles em rituais religiosos e nos raros períodos de lazer.

 

Quem são os traficantes de drogas?

Essa pergunta já foi feita pelo delegado Orlando Zaccone em seu livro Acionistas do Nada. Mas é preciso repeti-la diante da continuidade de uma repressão que coloca apenas os autênticos “pés de chinelo” atrás das grades. Enquanto os escravos do século XIX desfrutavam de certa liberdade para o consumo da erva, seus descendentes do presente sofrem com perversa política de criminalização da pobreza. Esta semana um camelô foi preso no morro Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro, por portar 19 trouxinhas, além da impressionante quantia de sete reais.

 

Acusado de tráfico de drogas, Edmilson de Jesus da Silva, de 22 anos, engrossa ainda mais a estatística do perfil básico dos traficantes. Dentre os condenados por esse tipo de crime, a maioria foi detida sem armas, com pequena quantidade de drogas, além de serem réus primários. A prisão de Edmilson pode até servir para enfeitar as estatísticas de combate ao crime apresentadas pelo governo, mas certamente não gerou nenhum prejuízo a estrutura dos verdadeiros traficantes.

 

Caso semelhante aconteceu esta semana no badalado Posto 9 da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Desta vez, a figura do perigoso traficante foi representada por três vendedores de mate detidos com três trouxinhas e um cigarro de maconha. De acordo com a própria polícia, a investigação durou três meses e mobilizou agentes do serviço reservado da corporação. A polícia também afirma que a investigação trabalhava com a ligação de ambulantes com furtos ocorridos na região.

 

Com uma pesada pena de prisão, que pode chegar a 15 anos de reclusão, Edmilson e os três vendedores de mate terão pela frente uma vida semelhante aos presos das masmorras medievais. E assim, a guerra às drogas vai cumprindo seu papel na construção de um mundo melhor.