[Ed. 92#] Hemportagem: A Rede Globo diz que "Vencemos", mas... Será?

por Tales Henrique Coelho

 

Quem acompanhou os acontecimentos da ultima semana pelos jornais, principalmente a Televisão, em particular a Rede Globo, viu um verdadeiro reality show em tempo real. Nele, os inocentes, a honesta e cumpridora das leis classe média carioca, estavam sendo “atacados” pelo inimigo do mal, que se veste de bermuda e chinelo, mora nas favelas, vende drogas e geralmente é negro. Rapidamente, o herói Beltrame entrou em ação com toda a sua “liga da justiça”, que vai de carniceiros altamente treinados a tanques utilizados em guerras continentais. No fim, venceu o “bem”, e rapidamente foram escolhidos os culpados: os usuários de drogas.

 

Não vou me ater particularmente a nenhuma destas questões. O principal problema de toda esta narrativa formada, esse consenso geral que defende simplesmente a guerra e a repressão, é que ela reduz uma questão extremamente grave da nossa sociedade a uma equação que não só não resolve como agrava o problema.

 

A “libertação” das comunidades cariocas, tão propagada, jamais se dará totalmente enquanto vivermos sob o domínio de uma polícia extremamente corrupta, preconceituosa e assassina. As UPPs são ainda protótipos, que obtiveram êxito mas não podem ser superestimados. A Unidade mais antiga, no morro Santa Marta, tem 2 anos de idade. Ninguém sabe quais serão os efeitos a médio e longo prazo se a ocupação continua sendo feita pela mesma polícia, na mesma lógica de ocupação militar de um território inimigo.

 

Esta guerra maniqueísta entre o “bem” (que neste caso é, ironicamente, representado por uma bandeira preta com uma caveira) e o “mal” só tira o foco da discussão que deve ser travada. É preciso buscar um entendimento mais amplo sobre toda esta situação. Se no Rio traficantes utilizam armamentos de exército para proteger seus territórios, isso tem muito a ver com a história da cidade. Se centenas de fuzis entram na  cidade todos os anos, meses, dias, tem gente ganhando alto com isso. Sempre haverão aquelas “tenebrosas transações”...

 

Há muitos outros interesses envolvidos na política de UPPs além da “libertação” das favelas. Há um projeto de cidade, excludente e autoritário, nascendo junto com esta política de “segurança”.

 

Infelizmente o consenso geral é o de que “os maconheiros são os culpados por tudo isso”. No entanto, é preciso aproveitar este momento para denunciar toda essa hipocrisia. A solução para estes problemas não é simples nem rápida, mas é preciso começar a mudar desde já. E mudar a política de drogas deste país é essencial para este objetivo.