[Ed.#113] Adão e Erva: Quem Segrega não Semeia!

Pouco a pouco o debate sobre a maconha está entrando na cabeça das pessoas. Quem antes via maconha somente como droga, hoje já começa a duvidar que algo nascente do chão possa ser do demônio. Aos poucos conversar sobre o tema fica menos espinhoso e Adão pode falar sobre cannabis tanto para o dentista, quanto para amigos, assim como para pessoas recém-conhecidas – sem medo do antigo preconceito avassalador.

 

O preconceito diminui a medida que você se porta diante das suas decisões e sabe defendê-las como gente grande. Muitas vezes jovens dizem ser alvo de preconceito, mas na verdade são vítimas de cuidado dos pais, que se desesperam – infelizmente – e acham que o caminho começa na maconha e termina no crack. O preconceito míngua quando você mostra ser responsável e eficiente, capaz e sagaz naquilo que faz. Adão já não é mais cristão, mas uma coisa que aprendeu principalmente com evangélicos, que pregam isso sempre, “é que nós devemos dar exemplo”. No caso deles é porque tem a missão de levar o evangelho a qualquer canto, mas no nosso, é só porque exigimos, plantamos e queremos colher respeito.

 

 

Tem um verso do Criolo Doido que diz: “Uns preferem morrer a ver um preto vencer”. Transpondo para nosso realidade, saiba que é fato: Uns preferem morrer a ver um maconheiro vencer. Basta ver a raiva com que muitos falam da maconha, um ódio desenvolvido pela raiva inconsequente da intolerância e falta de respeito ao próximo e suas escolhas. Somos marginais desde a contracultura, mas conseguimos menos que a causa negra, menos que os homossexuais e também que o feminismo, todas essas juntas a partir da década de 60 formaram trincheiras de resistência que possibilitam nosso atual quadro de liberdades. Não evoluímos e provamos nosso retrocesso total toda vez que um usuário – que odeia ser chamado de viciado – é capaz de xingar o outro de viado.

 

 

É preciso ter a paciência de Jó, mas a sabedoria de Adão para lidar com tudo isso, pois parece fazer parte do jogo – feito zaga – aqueles que só julgam, mas não fazem nada, impedindo o caminho do gol. Artilharia da seleção da Jamaica é para poucos, mas o nosso time é forte. A cultura da cannabis é rica de expressão e representação plural. Assim como todas as outras frentes de luta, nós temos em mãos a possibilidade histórica de mudança, através da mobilização e frequente criação de formas de expressar a necessidade de revolução.

 

Mas quem é capaz de negar a evolução? Sinceramente, até dois anos atrás eu nunca tinha ouvido falar na expressão “cultura canábica”, pelo menos desta forma tal qual é tratada aqui no hempAdão. A erva fica toda prosa, mesmo que representada em poesia, e pede sempre mais. No parlamento… chegou lá. E Benedita, do PT, política sem lá muito prestígio, mas um exemplo de força negra, feminina e… a favor das mudanças propostas por Paulo Teixeira. Perceba como ela disfarça o discuro pró-legalização em seu pronunciamento:

 

 

Ou melhor ainda, como pediu 500 vezes um anônimo na roda. Nós já demos esse vídeo, nos idos da edição 71, em agosto do ano passado, mas como tiraram o vídeo do ar e a entrevista é fenomenal, vale a pena postar de novo. Veja como a professora consegue acabar com a entrevistadora, em plena rede de TV, para milhões de espectadores assistindo o novo vencer o velho: A razão dar sopapos e por fim em papos de repressão. Nossa mudança chega quando o discurso passa a ser ouvido e para isso, é preciso não gritar nem falar baixo, mas sim debater no tom certo. Parabéns, professora: