[Ed.120#] bONG: Dura Federal de 12 horas por Conta de 2 Baseados!

 

Esta semana contamos um caso recente que foi resolvido ajuda da militância antiproibicionista do Rio de Janeiro. Um flagrante de consumo de maconha feito pela polícia federal dentro da UFRJ resultou em uma detenção de quase 10h para oito jovens. Foi necessária a intervenção do advogado André Barros para acabar com os abusos e humilhações oficiais. Leia abaixo o relato de uma das vítimas.

 

"Era um dia normal no IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) da UFRJ, que fica no Centro do Rio de Janeiro. Faltando cerca de 20 minutos para o início das aulas estávamos dentro de um espaço quase “canabicamente institucionalizado” do prédio, onde era possível abrir as portas da percepção.

Na roda encontravam-se 8 pessoas, dos cursos de filosofia, ciências sociais, história, biologia e um conhecido que não era da UFRJ. Os policiais, dois deles a paisana, passaram umas 2 vezes por nós e na terceira chegaram já com a carteira da Polícia Federal aberta e mandando ninguém correr. Todos permaneceram sentados.

Ninguém tentou esconder o flagrante e, mesmo com a revista, a polícia encontrou apenas um beck aceso e outro que estava sendo preparado. Um dichavador também foi apreendido como prova do crime. Fomos levados à direção onde a negociação não rendeu. O máximo que o Diretor conseguiu foi que não saíssemos algemados do prédio. Mesmo assim, saímos de lá com a escolta de Tiras vestindo coletes a prova de bala e segurando metralhadoras. Por um instante me senti como um verdadeiro narcotraficante internacional. Ainda não consegui entender como alguns alunos puderam aplaudir a nossa prisão.

De lá fomos dirigidos à 4ª DP, na Central do Brasil, onde categoricamente o delegado negou-se a receber os oficiais da PF. O detalhe é que do lado de fora da delegacia havia um ônibus lotado de pessoas que haviam sido presas em um arrastão. Sem conseguir uma resposta positiva, os policiais federais nos colocaram em outros 4 carros (dessa vez 2 eram da polícia militar mesmo) e nos dirigiram à 1ª DP, na Praça Mauá, onde fomos “esquecidos” por umas algumas horas.

Durante esse tempo, os oficiais da PF foram almoçar e nós acabamos pro trocar uma idéia com os policiais civis da delegacia. Alguns já se achavam tão íntimos ao ponto de fazer piadinhas sobre a larica e a boca seca. Descobrimos que o delegado não queria essa dor de cabeça e torcia para que a PF deixasse todos sob a sua supervisão para que o caso fosse encerrado nenhuma complicação para a galera. Para nossa infelicidade, ele avisou também que os dois oficiais da PF - os mesmo que haviam feito a prisão - estavam com más intenções.

Na volta do almoço os policiais federais exigiram os telefones dos nossos pais ou responsáveis. Todos os detidos tinham mais de 18 anos e, mesmo sabendo que minha família já tinha conhecimento dos meus hábitos, não era nada confortável receber uma ligação da polícia. Então optei por fornecer o meu próprio telefone e ainda avisei sobre a escolha. Diante deste fato o policial me segurou pela nuca e gritou que “Maconheiro não tem direito não! Coloca agora o telefone dos teus pais! Coloca também os nomes deles e o endereço porque se não conseguirmos falar com eles, a gente vai pessoalmente agora de viatura buscar.”

 

Não tendo conseguido uma resposta positiva na segunda delegacia, já que o flagrante se deu dentro de um terreno federal, fomos levados de camburão para o prédio da polícia federal na Praça Mauá. Lá permanecemos um bom tempo (totalizando 12h de detenção) sem nenhuma alimentação. A liberdade só foi conquistada às 22h, depois de assinarmos o Termo Circunstanciado e contar a ajuda do advogado André Barros. Na audiência por conta do crime de portar dois baseados a punição ficou apenas na advertência verbal."