[Ed.122#] Adão e Erva: Para onde vai a Marcha da Maconha? “Vem comigo… no caminho eu explico”

Cinco milhões de pessoas na Marcha para Jesus. 4 milhões de pessoas na Parada Gay. Marcha da Maconha no Supremo Tribunal Federal significou centenas de veículos de comunicação falando o nome do nosso movimento. Milhões assistiram e passaram a saber da existência da Marcha da Maconha, mas como fazer com que essas pessoas saiam do armário e passem a ir às ruas defender o direito de fumar seu baseado?

 

Há 15 anos atrás eram apenas duas mil pessoas na Parada Gay de São Paulo, a mesma que hoje é a considerada a maior do mundo. Há números que dizem existir 200 milhões de pessoas que já fumaram maconha e levando em consideração que não são somente essas pessoas que defendem a legalização – nós também temos nossos simpatizantes – então está mais do que provado o potencial milionário do nosso movimento pela legalização. Mas a pergunta persiste, como mexer com a multidão por trás do arbusto canábico?

 

O registro mais antigo que Adão conhece de passeatas é a procissão. É verdade que o ritmo é lento, mas pelo menos todo mundo acendia a vela. A caminhada era cheia de simbolismo, marcada uma vez por ano para ser um dia especial. Se não no mesmo dia, era marcada sempre na mesmo época, para que as pessoas pudessem saber quando o evento se aproximava. Mas algo visível era que o combustível daquela movimentação de gente era a fé. Sim, a fé seja no que for, mas a certeza de que andar e cantar em coro fazia sentido diante do sentimento espiritual. Pela legalização é mais do que isso até, é quase fome – é uma necessidade urgente de parar de tomar tapa na cara por causa de uma portaria que proíbe uma planta.

 

As Marchas para Jesus são lotadas de fiéis – ônibus lotados trazem seguidores de igrejas de tudo que é canto. Eles querem ouvir os líderes falando. A multidão pede por liderança e obedece aos chamados não só de Deus, mas de cada líder militante que comunga o ato de união chamado organização. O lema da nossa bandeira pode não servir para caracterizar perfeitamente o nosso país, mas ao menos parece coeso para nosso contexto: ordem e progresso. Até que provem a possibilidade de se avançar com desordem, ficamos combinados que, tal como disse Chico Science, somente nos organizando podemos desorganizar.

 

Liberada, a Marcha da Maconha escreve sua história de forma bem doidona. Somos muito mais do que espectadores ou meros participantes, somos parte dessa luta e se ignorarem esse direito/dever, talvez um dia a Marcha vire coisa de soldados, como na musiquinha infantil – imaginem, todos de uniforme, por enquanto são só alguns. A Marcha segue sem dono, como deve ser… mas nada existe sem domínio. Nossa caminhada para o sucesso depende de nossa capacidade de comunicar com as multidões, de dialogar com os meios e navegar nas mídias sociais. A Marcha da Maconha só pode crescer e alcançar o topo se ela for conduzida por um coletivo que fale em seu nome – sabe porque?

 

Porque Marchas de Milhões de pessoas costumam se dar em torno de causas gerais, não de indivíduos ou casos específicos. Coletividade é produzir independentemente de pessoas ou mesmo grupos ou interesses pessoais. A luta pela planta deveria fugir da individualidade. A luta pela erva não deveria passar pelas mão de Minerva, deusa grega da estratégia de Guerra, sob pena de dar tiros em seu próprio pé. Adão concorda comigo – a Marcha não deveria ser reduzida de tamanho por falta de divulgação ou organização, sob pena de ser confundida pela imprensa como uma Marcha ré.