por Fernando Beserra
Nas últimas décadas se produziu muito material no Brasil sobre o uso da ayahuasca, fenômeno em parte determinado pelo crescente número de membros das, assim chamadas, religiões ayahuasqueiras. Especialistas de diversas áreas se colocaram no fronte das discussões sobre a regulamentação do uso religioso da ayahuasca e, finalmente, houve um reconhecimento e regulação deste uso religioso no Brasil.
Para tanto, foram necessários vários estudos, dois deles muito conhecidos. O primeiro foi chamado de Hoasca Project, nascido através das primeiras conferências de saúde da União do Vegetal (UDV)¹ na década de 1990. Neste momento, foi realizado um convite para o famoso etnobotânico Dennis Mckenna, irmão de Terence Mckenna (escritor do clássico: “Alimentos dos Deuses”) para conduzir o projeto: “Hoasca Human Pharmacology Project”. Tendo aceito, a pesquisa contou com a colaboração de nove instituições de pesquisa, assim como nomes do porte de Charles Grob.
Os dados do Hoasca Project foram coletados num núcleo da UDV no Amazonas, sendo os sujeitos pesquisados participantes há mais de 10 anos das suas sessões. Os resultados da pesquisa não revelaram dano orgânico, nenhum dano agudo no sistema nervoso central, e ausência de distúrbios psiquiátricos, incluindo sintomas inclusos na dependência de drogas, tais como abstinência, tolerância, comportamento abusivo e enfraquecimento dos vínculos sociais (social impairment). Em comparação ao grupo de controle os membros da UDV se mostraram mais confiantes, otimistas, relaxados, despreocupados, desinibidos, alertas, energéticos, felizes e com temperamento mais calmo. O estudo mostrou, além disso, melhora em condições psiquiátricas pré-existentes (alguns estudos tem consideração pessoas com pré-condições para quadros psicóticos como exceção)².
De acordo com Beatriz Labate o Huasca Project tem o mérito de ser a primeira investigação biomédica sistemática sobre a ayahuasca. Ainda são necessários mais estudos sobre a temática, tendo em vista que este estudo foi conduzido apenas com homens e não permitiu as considerações sobre os impactos da aderência a doutrina religiosa nos efeitos positivos observados.
Para mais estudos sobre ayahuasca e religiões ayahuasqueiras confiram o site do NEIP. No livro “Drogas e Cultura: novas perspectivas” ainda é possível encontrar um artigo sobre a regulamentação do uso religioso no Brasil e um breve histórico sobre as principais ramificações religiosas que hoje fazem uso ritual do “Daime”, “Vegetal” ou como chamem a ayahuasca. No livro Ayahuasca Religions de Beatriz Labate, Rafael Santos e Isabel Rose, o interessado no assunto ainda encontrará ampla referência bibliográfica para o assunto.
Outro uso também importante na contemporaneidade é o não ritual, ligado a psiconautas não filiados a religiões ayahuasqueiras, que tem produzido suas próprias plantas (não necessariamente a tradicional mistura do banisteriopsis caapi com a psychotria viridis), a exemplo do uso da anahuasca ou, mais difícil, da farmahuasca. De qualquer modo, isso é assunto para outro post...
1 - A União do Vegetal é uma das mais importantes religiões brasileiras onde existe o uso da ayahuasca (Vegetal), sendo internacionalmente conhecida.
2 - Sobre o uso terapêutico da ayahuasca para quadros de farmacodependência cf. o evento “Ayahuasca e o tratamento da dependência” (http://www.neip.info/index.php/content/view/2901.html)
Valeu Fernando Beserra por mais um post sobre enteógenos, de real conteúdo.
ResponderExcluirJá faz alguns anos que venho lendo e pesquisando sobre o ayahuasca e tenho muita vontade de experimentar, porem na minha cidade não há nenhum grupo religioso que faz uso da planta.
http://www.pautaantidrogas.com.br/pages/legislacao2.htm
ResponderExcluirEu queria fazer esse post com mais calma. Foi meio na correria para sair no horário, rs.
ResponderExcluirMas tá valendo. É sempre bom abrir a discussão e trazer informações que facilitem pesquisas mais "refinadas".
Abraços
Faço parte da UDV o efeito do chá é algo incrível, muda a percepção das pessoas. Acho que algum dia, assim como comprovaram o que o Vegetal e inofensivo a saúde, vão fazer o mesmo com a maconha e acabar de vez com essa repressão. Muito bom o post.
ResponderExcluireu sou do santo daime
ResponderExcluirprefiro o papelaozinho *-* kaka
ResponderExcluirbem mais a ganja
ResponderExcluirDurante o efeito (que alias é quanto tempo?) a sensação é boa, ruim ou diferente?
ResponderExcluirAnônimo. A sensação pode, como em qualquer enteogenico, ser ótima, boa, ruim ou mesmo péssima, assim como da cannabis, isso depende de algumas variaveis, como, p.ex, local de uso, contexto do local, contexto pessoal (personalidade, como se encontra no momento, relação com o contexto externo, fatores psicodinâmicos..), mas, eu aconselho ler o Portas da Percepção desde o início e procurar informações em algumas das literaturas indicadas, assim como conversar com pessoas que já utilizaram o chá caso pense em utilizá-lo.
ResponderExcluirO tempo de duração varia, inclusive em relação a quantidade ingerida. Já fui em sessões que a pessoa inicia a tomar pela noite (21, 22h) e só sai no amanhecer do dia seguinte, isso tomando duas doses, uma no início e outro na metade, justamente para sentir o efeito inicial e analisar para saber se deseja outra para intensificar os efeitos.
Abraços
fortíssimo o efeito, quando tomei pela primeira vez aqui em sorocaba foi num pronto socorro espiritual, me deram beeeem mais do que costumam dar nos rituais, fiquei hooraas sentada em um sofá viajando, depois ainda colocaram uma musica, era praticamente impossível controlar o meu corpo, os braços faziam questão de se mexer conforme a musica, meus pais tiveram que me carregar pra poder me tirar de láa, eu estava praticamente desmaiada (a dose foi muito grande) kkk depois fui mais vezes e você vai aprendendo a se controlar melhor muito bom, aconselho a todos ir pelo menos 1 vez, pra conhecer
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