Um Comentário sobre a Maconha… [Hempovão 138#]

por Rango Kasha

 

Perto da criminalização, o sustento que o usuário dá ao tráfico é um troco de pão. Fico indignado com o que vejo na mídia sobre a maconha. Vejam só: um antropólogo expõe a seguinte linha de raciocínio: “Com a liberação, aumenta o consumo. Aumentando o consumo, aumentam os problemas”.

 

De onde esse cara tirou tamanha imbecilidade?

 

Enfim, deixe-me explicar, já que os seis anos de pós-graduação não lhe ensinaram nada. Se existe algum problema com a maconha, é só e somente só porque seu uso , cultivo e comércio são proibidos, e o são nós sabemos bem por quê. Com a liberação, o problema simplesmente acaba, e o consumo, de acordo com estudos – inclusive – aumenta num primeiro momento e depois diminui, como foi o caso da Holanda.

 

 

A outra pérola foi solta por um delegado de polícia civil, que disse que foi provado cientificamente (me diga aonde) que a maconha aumenta o déficit de aprendizado e o índice de acidentes automobilísticos. Realmente, meu caro delegado, se seu carro for atingido por outro a uns 200 km por hora, deve ser algum maconheiro mesmo, que devido ao seu déficit, não conseguiu colocar na cabeça as suas idéias, banhadas em coerência, diga-se de passagem.

 

A questão da maconha hoje em dia para mim é um show de horrores. Um conjunto de outdoors estampando a falta de conhecimento sobre o assunto. Além, é claro, da hipocrisia que impregnam, com a eficácia de um perfume de puta, as cabeças do povo. Troca o incenso, delegado, porque a marola é outra.

 

Sinceramente, porque é que nós, que enxergamos a situação com clareza e equilíbrio é que temos que pingar colírio?

 

Se o governo tem cheiro de merda, porque é que nós é que temos que acender incensos?

 

A discussão vai além deste ponto de vista. A proibição garante luxos de todas as ordens, para muitas pessoas. Tem muita gente que manda os filhos para estudar na Europa em troca de uns mortos em comunidades cariocas.

 

Toda sexta-feira, a polícia sobe para pegar o “arrego”, mas quem financia o tráfico somos nós, não é mesmo?

 

Uma coisa que eu percebi (tarde, confesso) é que as políticas que dão certo no Rio são apenas aquelas que dão lucros para o governo. Enxergando por esse prisma, de que o interessante para o governo é a arrecadação, tudo fica mais fácil. Vejamos a Lei Seca:

 

- Cada pessoa autuada é multada em 950 reais. Exatamente o salário dos bombeiros, que o mesmo governo diz que não tem como aumentar.

 

- Por parar em frente à minha casa, fui multado em 100 reais. A multa chegou rapidamente, mesmo com a greve dos correios.

 

- Os pardais (principalmente os de 40 km/h) continuam ligados durante a madrugada, numa das cidades mais violentas do mundo.

 

- E o tráfico gera milhões de reais para o governo em forma de corrupção.

 

Realmente, amigos, tudo está onde deveria estar. Antes de começar a fumar maconha eu já tinha pena de quem alimentava a repressão como forma de resolver qualquer coisa. Hoje, tenho mais pena ainda.

 

Na minha rede, eu escuto minha música e fumo meu pipezinho, sempre imaginando o dia em que a maconha for liberada. Aí eu vou plantar e com o troco de pão, vou comprar uma larica.

 

 

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