Desabafo de Leitora sobre a Invasão da USP [ Hempovão Ed. #141]

por Leitora Anônima

 

Esse texto é uma opinião sincera de uma usuária, maconheira, ~ervoafetiva~ que simplesmente vê a possibilidade de lutar pelos nossos direitos indo por água graças aos maconheirinhos de merda da USP (frase essa usada pelo Mathias no filme Tropa de Elite). Espero que entendam meu ponto de vista.

 

Fumo maconha desde os meus 16. Há mais ou menos 3 anos tenho fumado diariamente, ou com uma grande frequência. Fora as "reações adversas" que todos conhecemos (larica, lesera de noite e muita sensação boa) não sofro de nenhum outro problema com a maconha. Quer dizer, tenho que comprar de alguém. Não tenho como plantar. E também tenho que saber onde fumo. Todos nós devemos na verdade.

 

 

São quase oito anos de uso. Nesses oito anos tomei geral apenas uma vez. Sempre tive vontade de fumar em lugares inusitados, públicos, privados. E o fiz. Já fumei na Avenida Paulista, no Masp, em baladas, festas, faculdade, dentro de carro, na rua, praia. Fumei e continuo fumando. Estou completamente errada nas minhas atitudes, direitos e deveres, mas em nenhum momento xinguei PM, reivindiquei meu direito de "ser livre" e fazer o que eu quisesse. Nenhum de nós gostamos da ideia de sermos proibidos de fumar uma erva que não faz mal, mas agimos racionalmente. Não "badernamos" sem nos organizar. E o que rolou nas últimas semanas na USP foi exatamente isso. Uma baderna, orgia, palhaçada.

 

Nunca saberemos exatamente como começou tudo. Quem foi que apertou o botão vermelho do caos e transformou uma propriedade particular (a universidade é pública, mas não significa que é terra de ninguém) numa zona de maconheirinhos de merda. De Che Guevaras de Gap e Nike Shox.

 

A prisão (temporária) dos três alunos deu início a uma manifestação sem nexo por direitos que nós adoraríamos ter do nosso lado. A localização da USP não é das mais seguras. Pessoas são assaltadas e assassinadas em um lugar onde deveria haver segurança. Então o que acontece quando temos um lugar perigoso? Reforçamos o policiamento fazendo então com que esse seja um lugar seguro. O tempo passa, três amigos resolvem fumar um depois da aula. A PM chega, faz o serviço dela. Um arruaceiro vê e acha um absurdo alunos de uma faculdade pública numa área pública com segurança pública serem presos por fumar na rua. Quão crueis podem ser esses reaças. tsc tsc.

 

Quem aqui nunca tomou um enquadro? Nunca foi humilhado, escurraçado e tratado como um lixo por fumar? Onde vocês estavam quando estavam fumando? Na rua? No carro? Ou seja, independente de querermos muito, a maconha continua sendo ilegal. E independente de qualquer ação agressiva ou tratamento (com certeza errado) que a polícia dá a quem fuma maconha, é o trabalho deles.

 

Eu moro com a minha mãe e minhas irmãs. Somos quatro mulheres em uma casa. Minhas duas irmãs mais novas foram diagnosticadas recentemente com o fan positivo para Lupus - E House diria: It's not lupus. It's never lupus - minha mãe passou por uma cirurgia para colocar pinos na coluna cervical anos atrás. Há mais ou menos dois anos passou por outra para colocar pinos na lombar. E ano passado, depois de alguns problemas ela teve que refazer essa mesma cirurgia duas vezes com menos de duas semanas de intervalo entre elas. Minha mãe tem hérnia de disco, glaucoma, fibromialgia, hipotireoidismo, bursite trocantérica nos ombros, joelhos, dedos da mão e por fim, tendinite. Com oito anos de experiência e muita pesquisa para não passar vergonha se alguém me perguntasse por que eu fumava maconha e se eu sabia dos riscos, corri atrás dos benefícios. E pasmén. TODAS as doenças que minha mãe e irmãs tem podem ser amenizadas com maconha medicinal.

 

Imaginem vocês a felicidade de quebrar o tabu da maconha dentro da minha própria casa? Minha mãe descobriu que eu fumo com frequência esse ano. Apesar de ter ficado um pouco chateada acabou por aceitar. Eu ainda não consegui fazê-la fumar para aliviar as dores. Na verdade tenho que procurar uma que seja sem pesticidas etc etc. Principalmente porque eles podem reagir com os remédios que ela usa. Tive a mesma ideia para as minhas irmãs. Uma delas disse que começou a fumar com mais frequência. Hoje descobri que ela não está precisando tomar os remédios (por hora).

 

Então, depois de tanta história o que eu tenho pra dizer? Que esses estudantes da USP são filhinhos de papai mimados, que não fazem ideia nem de como, muito menos porquê começaram uma manifestação estúpida para fumar maconha na universidade. Eu não os apoio. Nunca os apoiarei em motivos fúteis e estúpidos como esse. Que serviram de estopim para reivindicações infelizes que foram criadas por eles mesmos.

 

Todas as atitudes dos Che Guevara de Gap simplesmente fizeram a minha busca pela liberdade, descriminalização e, por fim a legalização (e a sua também) irem por água. Porque agora, todos nós somos maconheirinhos de merda, arruaceiros. E não pessoas que usam porque gostam ou precisam.

 

Parafraseando Sartre (ou ao menos tentando): O homem é livre, e ele acha sua lei na própria liberdade. Sartre também diz que o inferno são os outros.

 

Façam suas conclusões amigos...