quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Fazendo Arte da Vida - Feliz Sol Invictus! [Portas da Percepção Ed. #147]

por Fernando Beserra

A nossa necessidade interior de transcendência aflora quando o Eu abre as portas para o que não pode ser transmitido pela linguagem. Alguns chamam este mistério de numinoso, revelador da alma, abertura das portas da percepção. O inconsciente se manifesta, os arquétipos se constelam, e levam a vivencias plenas de sentido ou avassaladoras.  Na pintura este processo está intimamente ligado ao impulso criativo, já que antes de se tornar manifesta, a obra já existe no abstrato (Kandinsky). É no processo de reunir aquilo que já se conhece, a técnica, o mundo visível, solar, consciente, com o nebuloso mundo onírico, lunar, do inconsciente, que se concebe a criação dos símbolos. Símbolos vivos, que ao serem vistos, sentidos, estremecem a alma e a fazem cantar, amar, odiar, gemer, enfim, viver. Abrem portas para recôndidos inexplorados, intocados pela consciência rotineira, habitual, do ciclo estudo-trabalho-aposentadoria-morte.

 

Neste processo o artista é afetado pela arte, transmutado, e ascende ao mundo de forma nova, diversa. O objetivo de nosso caminho, de nossa individuação, é encontrar esta excentricidade única, particular, que nos torna significativos diante de nossa insignificância. Como diz o mestre da literatura James Joyce: “O Estado é concêntrico, o indivíduo é excêntrico”. A vida toda se torna obra de arte, realizando nossa vontade de potência, nossa plenitude de abertura a novas possibilidades. Re-imaginamos e trazemos a sacralidade da existência a cada raio luminoso que toca nossos rostos e daqueles que nos cercam. As formas se elegem, por vezes, de forma intempestiva e o artista as abriga e as traz ao mundo. Belíssima é a dádiva da arte que vem da visão, do olho invulgar. No Manifesto da Arte Visionária (Manifesto of Visionary Art) lê-se a importância dos sonhos, dos enteógenos, dos estados de transe para o encontro com este quantum da alma do mundo que, através do espírito da arte, corrompe o espaço da permanência e coloca o horror de nossa decadência ou o incorruptível de nossa ascendência a nu. 

 

A imaginação é vibrante, afirmativa. Ela não se move apenas por causas passadas, brincadeiras de criancinhas e repetições infinitas de complexos edípicos. O imaginal é tudo, menos inócuo, conforme afirma o espírito do misticismo islâmico, Sufi. Mas, guerreiros da legalização, não falamos simplesmente de arte, falamos DE VIDA! “Tudo que está morto palpita. Não apenas o que pertence a poesia, às estrelas, à lua, aos bosques e às flores, mas também um simples botão branco de calça a cintilar na alma da rua. Tudo possui uma alma secreta, que se cala mais que fala” (Kandinsky). Os gnósticos, antigos cristãos, que foram perseguidos por suas heresias maravilhosas, já afirmavam a existência de uma alma do mundo (anima mundi) que falava pelas coisas vivas, por um mundo que respira (tem anima, tem ruah). É este mundo que nos toca em seus fenômenos acausais, sincrônicos, onde não existe causa ou efeito, apenas paralelismo entre dois eventos que se encontram em seu significado, sentido, presença. Os estados alternativos de consciência, por vezes, nos colocam neste mundo que antecede o mundo da representação, onde, como crianças, podemos re-inventar as cores de cinzentas histórias cotidianas e olhar através, depassar, ultrapassar a mera materialidade dos objetivos, e ver os sentidos que nos tocam, que nos fazem vacilar de nossas certezas e convicções.

 

Por fim, cabe DESEJAR um FELIZ dia do Sol Invictus para cada um! Que possamos escutar um pouco mais este zumbido que não se cala e que era tão bem conhecido por nossos ancestrais.

3 comentários:

  1. a arte é a mais ancestral das manifestações pensantes... e o sol nem se fala... é a vida!


    abraços e continuem cultivando
    []

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  2. Toca da Guaxana presente no Hempadão!!! LEGALIZE GANJA!!!!!!!!

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  3. OLha essa notícia hempadão: http://www.jb.com.br/pais/noticias/2011/12/22/stf-porte-de-drogas-para-consumo-proprio-tem-prioridade/

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