O Último Ano do Velho Mundo – O Primeiro do Novo! [ObsERVAções Ed. 148#]

“Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único"
John Lennon

por Renato Cinco

 

2011 não foi um ano qualquer. Seja para a luta pela legalização da maconha, seja para a política em geral, este ano foi extraordinário. Este foi o ano em que a palavra Revolução voltou a povoar corações e mentes de muitos povos pelo globo a fora.

 

E tudo começou com um verdureiro de uma cidade do interior da Tunísia.

 

Mohamed Bouazizi tinha 26 anos, era camelô e estava cansado de dar propina para a polícia para poder trabalhar. No dia 17 de dezembro de 2010, recusou-se a pagar e teve suas mercadorias apreendidas. Ao se dirigir à sede do governo para reclamar seus direitos foi humilhado por uma funcionária municipal com um tapa e uma cusparada no rosto. Indignado, foi até um posto de gasolina, comprou combustível e no meio da rua tacou fogo em si mesmo. Esta foi a gota d’água para um povo que vivia há 23 anos sob uma ditadura e que vinha sofrendo nos últimos tempos com a inflação decorrente da crise global desde 2008.

 

Infelizmente Mohamed Bouazizi não resistiu aos ferimentos e morreu. Felizmente Zine El Abidine Ben Ali não resistiu à pressão popular e fugiu para a Arábia Saudita. O verdureiro derrubou a ditadura.

 

Era o início da Primavera Árabe e em pouco tempo Hosni Mubarak, o ditador do Egito também foi derrubado depois de 30 anos no poder. Houve protestos ainda no Bahrein, Síria, Iêmen, Argélia, Djibouti, Iraque, Jordânia e Omã. Na Líbia, as coisas foram um pouco diferentes, já que a revolta e a derrubada de um antigo rival do Ocidente, Muamar Kadafi, foi estimulada pelos serviços secretos ocidentais e de Israel. Antes dos bombardeios da OTAN, a Líbia possuía o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região e maior que o brasileiro.

 

A revolta contra o sistema econômico mundial, que privilegia 1% da população enquanto explora 99%, se espalhou por muitos países. Nascido na Europa o movimento dos indignados alcançou até mesmo o centro nervoso do capitalismo mundial. Wall Street foi ocupada e centenas de cidades estadunidenses viveram grandes e belos momentos de mobilização popular. Também aconteceram grandes mobilizações no Chile e muitos outros países.

 

É impossível saber como será nosso futuro. Diante da crise provocada pela desregulamentação do mercado financeiro, os governos do mundo seguem sacrificando os povos, enquanto garantem os lucros dos banqueiros. No Brasil, mais de 40% do orçamento público é gasto com o pagamento de juros e amortizações da dívida pública e, enquanto os países ricos ganham dinheiro vendendo tecnologia, nosso governo gasta centenas de bilhões de reais em investimentos para sermos cada vez mais exportadores de alimentos e minérios. Tentam nos convencer que o futuro do Brasil é o nosso passado.

 

Alguns acreditam que em 2012 o mundo vai acabar. Tomara que sim, que este mundo hipócrita, violento, capitalista e destruidor de sonhos venha a baixo e que dos seus escombros nasça um mundo novo onde a humanidade possa realmente viver em paz e onde a felicidade seja possível para todos os homens e mulheres. Imaginem...

 

Que 2012 seja um ano repleto de lutas e vitórias. Nossos sonhos são lindos e temos a obrigação de lutar por eles.

 

Viva os 99%!"