quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Prefácio–Guia de Viagens do Psiconauta! [Portas da Percepção Ed. #153]

por Fernando Beserra

 

Hoje vamos começar nossa tradução do “Neurosoup Trip guide” de Krystle Cole, conforme falamos semana passada. O leitor observará que o prefácio do livro utiliza uma estratégia interessante. Começa apresentando alguns riscos no uso de enteógenos ou cuidados para o uso. Alguns deles merecem estudos mais pormenorizados. Por exemplo, não vi ainda nenhum grande autor neste campo abordar a co-relação entre problemas fetais e uso de cactos mescalinicos. A discussão do “TTPA” também merece novos Portas da Percepção, com discussões de outras perspectivas, pois sabemos que a própria concepção deste transtorno, que falaremos a seguir, é baseado em critérios da psicopatologia americana que é bastante reacionária. Pois, sem mais delongas, vamos adentrar neste belo livro. Depois das precauções vamos a uma discussão não apenas sobre termos: empatógenos, enteógenos, mas também abordar uma substância ainda ausente no Portas da Percepção, o MDMA – Metilenodioximetaanfetamina, também conhecido como Ecstasy.

 

 

Prefácio

Precauções, reações adversas e efeitos colaterais do uso de alucinógenos.

Toda substância, tanto legal como ilegal, tem farmacologia única e é difícil descrever em linhas gerais as precauções, reações adversas e efeitos secundários de cada droga classificada como alucinógeno. Portanto, faremos somente uma passada superficial, descreveremos alguns destes efeitos; os mais amplamente associados aos alucinógenos. Cabe sugerir, antes de tomar qualquer substância, informar-se sobre as interações, efeitos secundários e possíveis reações adversas específicas dessa droga.

 

 

Enfermidade mental ou desestabilidade preexistente

Caso tenha uma enfermidade pré-existente como um transtorno de ansiedade, o uso de enteógenos poderia exacerbar este problema. Isto é, poderia agravar condições pré-existentes, fazendo que se convertam em problemas mentais mais severos. Há quem diz que o uso destas substâncias poderia desencadear alguma enfermidade mental em idades mais jovens ou provocar uma recaída em uma pessoa que havia sofrido de uma desordem psicótica ou uma forte depressão (Inaba, 2000). Mas desde já isto não quer dizer que ocorra com todo mundo ou com todo alucinógeno, mas é algo a se considerar antes de qualquer viagem.

 

Interação com medicamentos:

É importante entender como podem afetar e interatuar os medicamente que estejam tomando (medicamentos de tipo psiquiátrico, por exemplo) com os alucinógenos que irão tomar. É difícil descrever com precisão todas as possíveis interações, já que será necessário informar-se caso por caso. (Ayahuasca, alimentação, IMAO1 e interação com cada droga).

 

Efeitos secundários:

Há muitos possíveis efeitos secundários dependendo do alucinógeno que se tome, tais como aumento da pressão sanguínea, aumento do ritmo cardíaco, náuseas, ataques de ansiedade, bruxismo e movimentos da mandíbula, espasmos musculares, descoordenação, perda de peso, sonolência, etc. (NIDA2 2008). De acordo com a NIDA (2008):

 

Os efeitos adversos desagradáveis resultado do uso de alucinógenos não são pouco comuns. Uma das razões é que ocorrem um grande número de substâncias psicoativas diferentes em um só alucinógeno.

 

LSD. Os efeitos do LSD dependem em grande medida da quantidade que se toma. O LSD produz midríase (dilatação das pupilas), pode elevar a temperatura corporal, aumentar a pressão sanguínea, aumentar o ritmo cardíaco, produzir maior sudorese, perda de apetite, ressecar a boca, sonolência e tremores.

 

Peiote. Seus efeitos podem ser similares aos do LSD, incluídos o incremento da temperatura corporal e do ritmo cardíaco, descoordenação nos movimentos (ataxia), sudorese excessiva e rubor. O ingrediente ativo mescalina já foi também associado, no mínimo em um caso, a anormalidades fetais.

 

Psilocibina. Pode produzir relaxamento ou debilidade muscular, ataxia, midríase, náuseas, vômitos e sonolência. Quem abusa dos fungos psilocibes aumenta a possibilidade de envenenamento, se esta confunde alguma das muitas variedades de fungos venenosos com alguma variedade de fungo psilocibe.

 

Assim como a interação de medicamentos, é difícil descrever superficialmente todos os possíveis efeitos secundários que poderiam ter lugar, derivados do uso de alucinógenos. Se necessita fazer um estudo caso por caso.

 

 

Transtornos de percepção persistentes por uso de alucinógenos (TPPA) e flashbacks:

A Associação Americana de Psiquiatria (2000), no DSM-IV-TR3, explicava que a “característica principal” do transtorno de percepção persistente por uso de alucinógenos (TPPA) é “...a recorrência de alterações passageiras da percepção, reminescentes de experiências vividas durante intoxicações com alucinógenos.” Halpern (em comunicação pessoal, 14 de Julho de 2007) explicava que o termo flashback se utiliza com frequência indistintamente do de TPPA, mas que um flashback “...somente descreve a reminescência da experiência, enquanto que o TPPA se refere não somente ao que é flashback em si, senão a uma constelação e sintomas e sensações desconfortáveis associadas a ele.”

 

Halpen (comunicação pessoal, 14 de julho de 2007) explicava também que, “tipicamente em sua maioria, é o LSD que pode causar a TPPA depois de só um uso. É claro que todos (mas nem todos) os sujeitos com TPPA informam que os sintomas começaram depois do LSD. Assim, pode haver perfeitamente alguma relação particular entre o LSD e o TPPA, mas entendo que também pode ocorrer que exista alguma característica diferencial no córtex visual destas pessoas, anterior ao uso de algum alucinógeno. Uma cuidadosa avaliação neurológica seria importante porque poderia existir outro tipo de alterações que explicaram o que pode estar errado. Com certa frequência, existem pessoas que informam ver “coisas flutuando” em sua infância ou de alterações visuais (tais como micrópsia ou fotosensibilidade extremada), também anteriores ao primeiro uso de alucinógenos. De tal maneira que pode ser que exista efetivamente alguma relação entre o LSD ou os TPPA, também é possível que seja algo limitado a um conjunto de determinados usuários. Entendo igualmente que pessoas mal preparadas, com preocupações exageradas sobre o controle de sua personalidade e que tiveram uma bad trip repleta de ansiedade, que posteriormente deixaram a pessoa convencidas de que elas danificaram sua personalidade/ seu cérebro permanentemente - mesmo sem nenhum tipo de histórico de alterações visuais anterior ao uso de alucinógenos -, tais pessoas, digo, poderiam bem cair dentro da definição de TPPA”. Então, quer dizer que a preparação da viagem e a sua posterior integração são muito importantes ao combate do TPPA. Halpern também explicava que estatisticamente o normal é que “somente uma pessoa de cada 50.000” desenvolva TPPA sendo a causa mais habitual o uso de LSD.

 

Notas:

1. Inibidores da mono-amino-oxidase.

2. National Institute for Drug Abuse.

3. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders-IV-Text Revision

9 comentários:

  1. ja tive essa bad ai com papel

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  2. To loko pra ve qual é essa brisa ai .

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  3. esperando o proximo post! legalize ja!

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  4. o foda é q no brasil é raro achar lsd,alguem discorda? tens indicaçoes?

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  5. Anônimo, não é muito difícil encontrar LSD no Brasil, ele é popularmente conhecido como ácido, doce ou papel.
    Infelizmente, é uma substância ilegal, e por isso, é provável que só se encontre com um traficante.
    Se quiser evitar problemas com a lei, pode procurar por alternativas como as plantas Argyreia nervosa, Ipomoea violacea, Ipomoea tricolor ou Rivea corymbosa. Essas plantas contém lisergamidas, substâncias semelhantes ao LSD.

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  6. Fernando, é sempre bom que informações sejam espalhadas, o Brasil é muito pobre nessa questão, quase não existem fontes boas de informação sobre drogas.
    Muito obrigado pela tradução.

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  7. Eu diria que esses são caminhos perigosos, mesmo para alguém que entende o que está fazendo.
    Esses tipos de substancias ALTERAM o organismo humano e, algumas vezes, também mudam a personalidade.
    Eu me preocupo em NÃO tornar o mito 'maconha é a porta de entrada para outras drogas' verdadeiro.
    Mas apesar disso, qualquer informação verdadeira e bem passada só tende a contribuir, portanto, parabéns Fernando Beserra!!

    PS: na minha opinião, algumas personalidades PRECISAM dessa transformação!

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  8. Valeu pessoal.

    Todo mundo pode ajudar com as traduções também. Existem alguns projetos ai, mesmo sem ser tradutor profissional.

    Quem tiver interesse pode entrar em contato: fernando.beserra@hotmail.com

    Em breve vai rolar um email também do hempadão para o Portas. Então fiquem ligados.

    Abraços e Aloha!

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  9. DOOOOOOOOCE BAAAAAAAAAALAAAAAA *-----------* ADOOOOOOOOOOOOORO
    VAMO QE VAMO GREMIOOOOOOOOOOOOOOO

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