quinta-feira, 19 de abril de 2012

Primeira Parte do Cap. 4 do Neurosoup Trip Guide! [Portas da Percepção Ed. 164#]

por Fernando Beserra

Salve galera. Hoje na tradução do Guia de Viagens de Krytle Cole, vamos começar a abordar os aspectos da experiência enteogênica, sua singularidade, e ao mesmo tempo experiências típicas.  Ao leitor, acreditamos que será útil se tiver (ou acompanhar) experiências com enteógenos, pois facilitará a identificação e, por vezes, transformação positiva de experiências. Além disso, a informação sempre será um catalizador de mudanças que, é claro, é insuficiente por si mesmo, porém, sem a informação adequada permanecemos a mercê da informação degenerada da mídia oficial que, de modo geral, por aderir a perspectiva de Guerra as Drogas, é incapaz de qualquer isenção ao abordar o uso de substâncias psicoativas. Esse espaço, Portas da Percepção, do Hempadão, acredita na necessidade de transformação da consciência coletiva sobre a temática e apoia com urgência transformações radicais na atual Lei das Drogas, não apenas no que concerne a maconha, mas também a regulamentação clara e eficiente de psiquedélicos como o LSD e princípios ativos hoje tornados ilícitos pela atual política falida e fracassada de combate as drogas e, principalmente, aos seus usuários e comerciantes. É injustificável que diante da série de problemas públicos e privados enfrentados neste país, ainda se gaste tempo e dinheiro na perseguição de usuários, bem como de comerciantes desarmados de quaisquer substâncias psicoativas tornadas ilícitas.

 

CAPÍTULO 4:
ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA ENTEOGÊNICA

 

Não há forma de descrever todos os estados mentais distintos induzidos por enteógenos; cada pessoa parte de distintas circunstâncias pessoais e cada viagem o rodeia outras tantas singularidades, de tal maneira que cada experiência é única. Este é o motivo pelo qual se pode tomar a mesma dose de um mesmo enteógenos em duas ocasiões distintas e experimentar sensações completamente diferentes. Dito isso, é importante abordar alguns dos estados mentais mais comuns ou repetidos, experimentados por muita gente. Quando uma só pessoa relata sua experiência, dificilmente se prestará atenção mas quando milhares de pessoas o fazem, tampouco pode-se ignorar.

 

Com isso em mente, comecei o Projeto sobre Relatos de Viagens. É uma seção na página www.Neuro-Soup.com, do qual qualquer um pode enviar de maneira anônima experiências com enteógenos e ler de outras pessoas. O objetivo principal do projeto é começar a traçar um mapa dos estados transcendentais de consciência que nos unem a todos em uma só Grande Existência. Os estados alterados de consciência alcançados ao usar enteógenos podem permitir a alcançar pontos altos, seja qual for seu cenário mental. Estas experiências de pico podem terminar em experiências espirituais ou transcendentais muito similares, para não dizer iguais, que as descritas pelas religiões do mundo.

 

Neste capítulo utilizo uma combinação de minhas próprias experiências junto a de outros, compartilhadas no Projeto sobre Relatos de Viagens, para descrever os diferentes estados mentais que se podem alcançar. É impossível apresentar todos os estados mentais que podem ser experimentados durante uma experiência deste tipo já que as possibilidades são infinitas; assim que nos limitaremos a apresentar as mais habituais. É importante ter em conta que uma pessoa pode atravessar ou experimentar uma multitude de estados mentais ao longo de uma viagem. Estes estados mentais, no entanto, se solapam entre si e se complementam. Por exemplo, alterações visuais ou auditivas podem ser parte do inconsciente coletivo e os medos podem ter a ver com experiências de morte e renascimento.

 

De acordo com Charles Tart (1975), “...a variedade da experiência ao usar psicodélicos potentes é tal que não parece haver um estado particular alterado de consciência como o induzido por nós mesmos. Mas bem pode-se falar de uma condição altamente instável caracterizada por padrões distintos e fugazes de estados alterados de consciência distintos... Há uma mudança contínua entre vários tipos de estados e condições instáveis. A palavra coloquial viajar é apropriada: se está a todo o momento indo para um lugar mas nunca chega nele. Mas ainda que isto seja provavelmente certo na maioria dos casos e experiências em nossa cultura, mas não é universalmente verdadeiro. As narrações de Carlos Castaneda a respeito de seu trabalho com Don Juan indicam que as primeiras reações de Castaneda com os psicodélicos foram deste tipo; mas Don Juan não tinha interesse verdadeiro em sua viagem. Entre outras coisas, Don Juan intentou treinar Castaneda para que estabilizasse os efeitos dos psicodélicos para que pudesse entrar em determinados estados alterados de consciência segundo o desejado ou necessário em diferentes ocasiões".

 

O primeiro passo neste processo é entender que há estados mentais distintos e particulares ou estados alterados de consciência singulares que podem ser ou ter lugar em uma experiência coletiva ou comum. O próximo passo é aprender como usar nossa energia para centrar a atenção e consciência neles. Às vezes, tudo o que necessita para experimentar um estado mental determinado é simplesmente saber que é possível. Este conhecimento pode ajudar a intelectualizar o padrão e forma desse estado mental em nossa mente de tal maneira que quando se está em uma fase de transição durante a viagem, quando os limites de um estado mental começam a se dissolver, talvez possamos visualizar o estado mental desejado e dirigirmos até ele.

 

Alterações visuais e auditivas

 

As alterações visuais e auditivas são geralmente os primeiros efeitos que se notam a começar a experiência. As pessoas descrevem o que ocorre explicando que as paredes se derretem, respiram ou movem. Ao mesmo tempo as cores aumentam em intensidade e se fazem muito mais vívidos que o normal. Os sons são percebidos mais clara e profundamente.

 

Na medida em que a viagem continua com doses maiores, às vezes as visões se fazem tão intensas que a realidade a que estamos acostumados desaparece. O que ocorre é parecido a se remover as viseiras de um cavalo. De repente temos a nossa disposição toda uma nova realidade; esta é a verdadeira realidade e as bases fundamentais do que sempre pensamos que devia ser a verdadeira realidade.

 

Há uma diferença entre o que são alterações visuais e auditivas e uma alucinação; apesar do fato que a maior parte da sociedade pensa que é o mesmo. Alexander e Ann Shulgin (2000) o descreveu perfeitamente em TIHKAL, "a distinção importante é essa: se tomou uma droga psicodélica e está, por exemplo, vendo tudo com cores mais brilhantes e texturas mais ricas, caras interessantes sobre pedras grandes ou imagens caleidoscópicas no teto mas está completamente consciente de que tudo isso responde ao fato de haver tomado uma droga, então NÃO está alucinado. Por outro lado, se tomou uma droga e vê um cavalo azul bonito brincando em sua sala e tem a convicção de que todo o resto do mundo a teu redor também o pode ver, se é incapaz de associar o cavalo azul com haver tomado uma droga e está seguro de que o que vê é a realidade consensual, então está alucinado.

9 comentários:

  1. Aquela distinção entre alucinação e alteração é bem relevante.
    No post anterior do Portas da Percepção li aquele link indicado da entrevista com a Krytle Cole.
    Fantástico. A história dela é realmente do caralho.
    Mais uma vez, valeu pela tradução lol

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  2. sempre top essa coluna.

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  3. LSD = novas percepções...
    Sálvia = alucinações...

    hehehe


    Não que alucinações sejam ruins...

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  4. Muito boa essa coluna, deve dar trabalho, mas continue, amigo, hehehe.

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  5. Discordo, Anonimo....

    LSD = alucinações
    SALVIA = Espiritualidade e terceiro olho ativados/elevados ao extremo = novas percepções!

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  6. Rs,

    Também discordo. Mas não porque um seja isso ou outro aquilo. Isso depende de vários fatores como temos repetido no Portas. Não podemos colocar nossas preferências pessoais na frente dos bois.

    De modo geral o LSD não promove alucinações, mas mirações. A Sally D tem efeitos bem diferentes do LSD e muitos a consideram mesmo um onirógeno. Por experiências pessoais, nunca tive uma verdadeira alucinação com salvia, mas experiências profundamente transformadoras ou meramente divertidas, onde mantive a consciência do uso da substância.

    Forte abraço,
    Fernando Beserra

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  7. Perfeito Fernando, me expressei mal com relação ao LSD, pois quis enfatizar a experiencia também profundamente transformadora e altamente espiritual que tive com Salvia em plena consciencia, porém são substancias diversas e os relatos individuais não podem ser tomados como base cientifica (a menos que se tenha/elabore uma pesquisa quantitativa/qualitativa e a estatística faça parte do espaço amostral de tal trabalho cientifico), enfim...
    ótima coluna para debater a respeito de assuntos tão intocaveis e por vezes (maioria) incompreendidos!

    Abraço

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  8. quais drogas podem causar alucinações?

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  9. Anônimo,

    As substâncias psicoativas que levam comumente a alucinação e representam risco de morte se não houver um absoluto controle de quantidade são, principalmente, as que contém tropano. Ai incluem-se: atropa belladona, datura(s), brugmansia (trombeta), madragora, etc, em suma, muitas plantas da família das solanaceas.

    Vamos depois abordar essas plantas com um post aqui no Portas.

    Abç,
    Fernando Beserra

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