sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Medo – Tradução do Neurosoup Trip guide de Krystle Cole [Portas da Percepção 178#]

por Fernando Beserra

Dando continuidade a tradução do Neurosoup Trip guide de Krystle Cole, hoje vamos abordar mais um aspecto da experiência enteogênica: o medo. É muito comum que os defensores da proibição foquem-se neste ponto, isto é, nas Peias ou Bad Trips, nas viagens ruins ou dolorosas. Os defensores da regulamentação ou legalização, muitas vezes, entretanto, evitam o tema. Não será de modo algum nosso caso, como nunca o foi. No próprio Neurosoup a Srta. Cole aborda diversos modos de lidar com as peias que podem ser muito úteis mesmo a usuários experientes. Acredito que o assunto deva ser colocado sobre a mesa e tratado de forma séria. Os enteógenos nem de longe são os únicos catalizadores deste tipo de experiência que, embora possa trazer riscos, especialmente em ambientes inadequados de uso, são muito inferiores que os que encontramos no uso inadequado do álcool. Milhões de trabalhadores brasileiros são expostos a riscos muito superiores no dia-a-dia de seus trabalhos, onde faltam EPI´s (equipamentos de proteção individual) e EPC´s. O serviço público, p.ex, sequer é obrigado a seguir as básicas e simplórias Normas Regulamentadoras (NRs), no entanto, se acha no direito de policiar o que foge ao seu escopo: as condutas privadas de seus cidadãos. Trabalhadores são expostos a condições insalubres e de grande periculosidade e nada ou muito pouco é feito pelo governo. Afinal, o capital é destinado a pagar policiais para perseguir milhares de usuários de drogas absolutamente inofensivos.

 

O caso dos enteógenos exige estudo para que se criem ações de saúde adequadas, formas de circulação de informações confiáveis e legislações convincentes, não proibicionistas. É preciso que o ponto de vista da saúde pública e da legislação sejam pertinentes aos estudos realizados, aos riscos reais e não fictícios, que são normalmente os que estão em jogo quando abrem a boca os moralistas. Sem mais demoras, vamos as experiências relatadas e ao estudo de Cole sobre o Medo em peias com enteógenos.

 

Medo

 

O medo é um aspecto muito comum da experiência entogênica. Durante as viagens, nós temos medo de todo tipo de coisas. Morrer, ficar louco e sobre-dose são apenas alguns poucos exemplos. Começarei essa sessão explanando minha experiência de ter medo da morte. Antes de iniciar minha descrição das várias viagens de LSD onde experienciei isso, eu gostaria de mencionar que eu poderia ter categorizado isso nas categorias de medo e morte/renascimento. Eu escolhi medo porque eu acho que é um componente comum do processo do ego de morte/renascimento.

 

Durante o início de muitas de minhas viagens, eu desenvolvi o sentimento de temor de que eu iria morrer. Então eu comecei a inquietar-me (freak out). Eu pensaria para mim algo como: “Está vindo muito forte! Eu tomei demais! Eu fiz isso desta vez! Eu vou morrer! Eu não quero morrer! Eu nunca vou tomar outro psiquedélico novamente se puder passar através disso!”.

 

No mesmo ponto durante cada uma dessas experiências, eu cresceria cansada de lutar por minha vida e decidi apenas deixar rolar (let go) e morrer. Neste ponto de “deixar rolar” eu normalmente sentia um pouco de tristeza por minha vida terminar. Então eu sentia uma grande paz comigo mesma. E isso é onde sempre ficava interessante. O tempo deixaria de ser parte de minha nova/antiga realidade. Também eu não iria perceber nenhum dos meus sentidos; Eu estaria em uma espécie de fora-do-corpo. Eu instantaneamente conheceria todo o conhecimento do universo ou o inconsciente coletivo. Nós não temos as palavras na linguagem inglesa para adequadamente descrever com o que isso se parece. Experimentar a divindade é uma mudança de vida, para dizer no mínimo. Eventualmente, em direção ao fim de minhas viagens, eu ganharia clareza (awareness) do tempo, meu sentidos e daqueles em torno de mim.

 

Você vê que eu não estava realmente morta, mesmo pensando naquele momento que estava. Meu eu (ego) apenas parou de apegar-se a essa realidade ilusória. Eu acho que é isso que ocorre quando alguém morre. Nós apenas paramos de apegar-nos a ilusão e retornamos ao que nós sempre fomos na profundeza de nós mesmos.

 

O próximo exemplo é uma explanação da experiência de medo da Nave Rotool com DXM e Cannabis. “Eu estava em um hospital por sobredose, eu tive uma visão de mim mesma sendo colocada em uma “detenção temporária” (holding cell), como se eu estivesse em um quebra-cabeças antigo pendurado na parede, ele fluiu e eu parecia como um tipo de calendário Maia, com inumeráveis outros em torno de mim, cada um com sua própria detenção temporária. Pensamentos sobre todas as pessoas que eu sempre vejo, suas vidas dilaceradas por minha morte, toda a culpa e dor passou através de mim e não havia nada que eu pudesse fazer”.

 

Outro exemplo é do Sparks durante uma experiência com Salvia divinorum. “Extremo, medo apavorador além do medo. Trinta segundos depois de tomar um hit de Salvia em um bong, subitamente tornou-se claro de que tudo que eu era, tudo o que eu sabia e toda experiência que eu tive não eram reais. É como se seres gigantes estivessem jogando comigo em um jogo de tabuleiro, eu era uma figura de brinquedo de madeira do jogo e eles tinham decidido dobrar o tabuleiro e colocá-lo para fora.

 

Eu pensei comigo ‘Quem seria tão mesquinho para me fazer pensar que eu era real todo esse tempo quando eu não sou?!’ Em adição ao medo, era a sensação mais forte de desapontamento que já senti. Eu estava chorando e gritando por ajuda. Eu estava completamente dis(associada) e isso causou mais medo do que eu já tinha experienciado em minha vida.

 

Eu fiquei ‘confusa’ por três dias, porque eu não sabia se eu estava realmente de volta ou se esse sentimento iria voltar novamente. Eu geralmente consigo passar por cima disso com a ajuda de um amigo cuidadoso, mas eu nunca fui a mesma desde então. Os efeitos vêm tão subitamente, saltam tão rápido e isso começa o “medo-rápido” que foi a experiência. Não havia nada de bom sobre isso, exceto pelo fato de que eu aprendi apenas quão GRANDE meu eu (ego) é que eu seria petrificada por perdê-lo”.

9 comentários:

  1. Adorei a postagem mano, ja senti que que iria levitar varias vezes, meu coração disparava, parecia que eu pesava uma pena e que o vento iria me levar a qualquer momento para o espaço... Foi muito interessante, amedrontador, e de grande utilidade, pois consegui perceber o quão pequenos nós somos nesse imenso universo... Logo depois veio a paz após a experiencia... ^^

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  2. véi, que fóda isso aí, mas o importante é que o tema seja discutido mesmo, acredito que para amenizar esse sentimento de medo é importante estar em algum lugar tranquilo, com uma boa musica e na companhia de pessoas de confiança... flw

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  3. Pessoal, vcs que estão mais ligados no assunto, tem esperança de que o novo código penal realmente resulte em uma descriminalização da maconha em 2013?
    Eu gostaria que sim, mas quero saber a opinião de vcs. valeu

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  4. o medo é foda msm, achar q vai morrer e aceitar é uma experiencia reveladora mas eu n queria passar por ela dnv kkkkkkkkk

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  5. Esse sentimento do "let go" é mto massa
    em algumas experiencias que eu tive com a cannabis e com a sálvia já passei por bads e elas sempre me ensinaram muito... acho que te a consciencia de que passa pelo medo pode se algo útil faz com que fique mais fácil de passa por uma bad lol

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  6. eae Hempadão, qndo pegarem alguma coisa de outro site COLOQUEM A FONTE !!!!!!!

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  7. Ao anônimo,

    Este post eu traduzi, estando citada a fonte. Aqui no Portas da Percepção, aliás, nunca ocorreu de colocar post de outro site, principalmente sem citar fontes.

    Abraços,
    Fernando Beserra

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