quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Inconsciente Coletivo - Cap. 4 Neurosoup Trip Guide! [Portas da Percepção 182#]

por Fernando Beserra

 

Carl Gustav Jung (1981) cunhou o termo inconsciente coletivo. Ele teorizou que, “em adição a nossa consciência imediata, que é de natureza completamente pessoal e a qual acreditamos ser a única psique empírica (mesmo se nós entendermos o inconsciente pessoal como um apêndice), existe um segundo sistema psíquico de uma natureza coletiva, universal e impessoal que é idêntica em todos os indivíduos. Esse inconsciente coletivo não se desenvolve individualmente, mas é herdado. Ele consiste em formas pré-existentes, os arquétipos, os quais podem tornar-se conscientes apenas secundariamente e que dão forma definitiva a certos conteúdos psíquicos”.


De muitas formas, os enteógenos têm ajudado a provar que a teoria do inconsciente coletivo de Jung é correta. Nós descobrimos que essa consciência compartilhada é extremamente multi-facetada. Experiências dessa natureza podem ser especificamente ancestrais e contém muitos temas histórico-culturais pertencentes ao seu patrimônio. Ao mesmo tempo, eles não são limitados a isso; eles muitas vezes englobam um grupo muito mais amplo de pessoas ou contém temas de outras culturas que você pode nunca ter sequer escutado antes.


Muitas dessas experiências são, normalmente, profundamente espirituais e preenchidas com muitos fatos reais e verificáveis sobre as religiões das quais são relativas. Às vezes parece como se você estivesse apenas lá observando os eventos tomaram forma antes de você; enquanto outras vezes, parece que você está realmente lá re-vivendo eles. Esse tipo de experiência pode ajudar seu desenvolver um grande entendimento das práticas espirituais de outras culturas, bem como de sua própria. Também pode ajudá-lo a empatizar com outros grupos culturais existentes ao longo da história.


Durante muitas sessões de psicoterapia com LSD assistida, doutores observaram pacientes assumirem posturas complexas (asanas), realizar gestos (mudras) e até mesmo falar línguas que eram obviamente de culturais antigas. Os sujeitos muitas vezes não tinham conhecimento prévio das práticas espirituais dessas culturas. No entanto, durante suas “viagens” eles foram capazes de aproveitar as memórias compartilhadas e re-viver muitas das experiências espirituais coletivas de antigos povos.


Stanislav Grof (1993) relatou que “sem prévio conhecimento ou treinamento eles se engajaram em movimentos característico da dança em trase !King Bushman, o rodopio dos dervishes da tradição Sufi, danças rituais realizadas em Java ou Bali e gestos simbólicos do indiano Kathakali que expressam temas da mitologia Hindu, como realizados ao longo da costa de Malabar. Na ocasião, pessoas experienciando outras vidas falando em linguagens, as vezes, obscuras, arcaicas, as quais não tinham conhecimento em suas vidas comuns. Em alguns casos, a autenticidade das linguagens utilizadas foram confirmadas através das gravações de áudio realizadas nas sessões onde esse fenômeno ocorreu. Em outros casos, as performances vocais tiveram todos os elementos de uma linguagem, mas não foi possível decifrar o que estava sendo dito.”


Sempre que eu experienciei esse tipo de espaço mental, ele tem sido muito profundo e significativo para mim. Não há melhor meio de aprender sobre outra religião ou tradição espiritual do que realmente revivendo-lo você mesmo. É difícil até mesmo começar a descrever a beleza e a magnitude desse tipo de experiência; as palavras não existem na nossa língua. No entanto, eu vou em frente e tento explicar como me senti pela primeira vez:


Depois de uma sucessão de viagens guiadas de medo, eu senti como pudesse não ter mais uma viagem fácil e feliz novamente. As viagens ruins (bad trips) apenas permaneceram acontecendo, uma após outra. Em um dos momentos mais assustadores eu comecei a sentir uma nova linguagem aparecendo em minha cabeça e então involuntariamente derramar de minha boca. Eu não tinha ideia do que era no início. As palavras eram diferentes de tudo que eu já tinha ouvido. No entanto, quando eu cantei-as meu espaço mental acalmou-se e tornou-se mais centrado. Nas profundezas dentro de mim eu senti que as palavras eram a linguagem divina que deu nascimento a todas as linguagens que existem hoje. Era a base para todas as raízes das palavras de todas as línguas. Eu estava imediatamente em casa quando eu estava entoando ou cantando elas. Eu sabia que as tinha falado em outra encarnação. Minhas viagens imediatamente começaram a ficar mais fáceis de navegar. Eu descobri rapidamente que as entoações e sons poderiam alterar minha consciência e mover minhas visões em direção de suas heranças/legados (heritage). Depois de pesquisar as religiões do mundo, eu descobri que minha nova linguagem era muito similar aos mantras do hinduísmo e budismo, assim como a forma de falar em línguas do cristianismo.


Outro exemplo do inconsciente coletivo é a experiência de uma amiga minha. Sarah era mais nova que eu. Entretanto, começo nos “viajamos” juntas ela normalmente transformava-se em o que parecia uma mulher velha de oitenta anos de idade. Sua postura transformava-se, de modo que ela andava com uma corcunda. Sua voz podia até soar mais velha e mais grave.


Quando isso acontecia a ela, ela ia e pegava um livro que nos tínhamos sobre hinduísmo. Ele não tinha muito escrito, mas era cheia de imagens coloridas das deidades. E ela então se avançava para nos contar histórias muito profundas sobre quem eram estas deidades, quais eram seus significados e como elas relacionavam-se entre si. Haviam muitos detalhes em suas histórias;  quando isso aconteceu pela primeira vez, ela pegou aqueles de nós que estavam viajando com ela desprevenidos.


Depois da primeira viagem que isso ocorreu, ela me explicou que tinha uma educação muito limitada no hinduísmo. Ela estava tão surpresa sobre seu conhecimento como o resto de nós. Então, eu fiz alguma pesquisa e fui capaz de verificar a validade e precisão dos seus contos. De fato, ela adicionou mais detalhes de que em qualquer das fontes que eu pude encontrar.


Essas experiências são moldadas pelos conceitos compartilhados por toda humanidade e, por causa disso, eles são normalmente muito diversos. Muitas vezes, eles envolvem práticas espirituais ao longo da história e de todo o mundo, como descrito acima. No entanto, eles podem abranger muitos outros conceitos; eles também podem estar relacionados a criaturas míticas, aliens e outras forças cósmicas que, de novo, nós como humanos temos todos co-conceitualizado.


Stanislav Grof (1993) explicou que “muitos anos de pesquisa tem demonstraram que em estado não-ordinários de consciência nós podemos não apenas testemunhar realidades míticas e arquetípicas, nós podemos realmente tornar-nos estes arquétipos. Nós podemos identificar-nos completamente com Sísifo rolando sua pedra na subida íngreme das profundezas do Hades. Podemos nos tornar Teseu matando o Minotauro no labirinto escuro. Podemos irradiar com a beleza de Afrodite ou brilhar na glória de Helio ou Apolo. Podemos assumir a imagem corporal e as experiências internas de criaturas míticas como Cérbero, Cyclopse ou Centauro... Ocasionalmente, mesmo o mundo dos contos de fadas ganha vida e nós encontramos ou identificamo-nos com sereias, elfos, fadas, gnomos ou trolls”.

9 comentários:

  1. Nossa Que louco .. Gosteei de mais

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  2. Legal,mas acredito que quanto as lembranças, isso vem das nossas reencarnações, experiencias de vidas anteriores relembradas, e não do coletivo...

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  3. Os dois posts sobre inconsciente coletivo daqui do hempa são demais!!

    Isso tudo é louco pra caralho... principalmente as ideias desses dois últimos parágrafos.

    Pelo que eu entendi os conceitos são a única coisa a se compartilhada... é possível que memórias e sensações entrem no inconsciente coletivo tmbm?

    Curti muito a explicação do Stanislav Grof. A ideia de que a onisciência(?) universal fique disponível durante algum tipo de experiência de inconsciente coletivo é realmente louca... e demaaaaaaais!!!

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  4. gosto desses textos... me despertam curiosidade. mas gostaria de saber se ha uma co-relaçao entre enteogenos e maçonaria... me parece q sim

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  5. Sem palavras kra, totalmente dimais...Por que o sistema naum quer q experimentemos esse tipo de consciência ? Porque isso vai nos revelar o q realmente somos, divinos !!! Além de nos revelar toda a podridão desse mundo...

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  6. A natureza por si só já tem sua consciência supra existencial: vide tdas as formas de vida interdependentes e a forma como elas se desenvolvem, as plantas, que supostamente não tem uma consciência individual, mas que interagem com o meio

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  7. Olha, eu tava pensando aqui o seguinte e se essas danças do hinduísmo e budismo foram inventadas sobre o efeito de ácido ou cogumelos então pode ser que sejam movimentos mais "confortáveis" por causa do estado mental.
    Sei lá mas interessante o texto legal!!!

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  8. É possível interpretar sob um ponto de vista desconectado da própria realidade. Ou seja
    Uma vez eu pude sentir o verdadeiro significado dos deuses gregos. Ou entender como as civilizações morrem e outras completamente diferentes aparecem no decorrer do tempo na terra. Os enteogenos são usados a milênios. Apenas agora no mundo moderno não podemos mais ter acesso. O autor falou de reviver experiências coletivas ou seja, sentir como o mundo era verdadeiramente visto pelos antigos. De forma certa civilização encarava a vida. Mas tudo sempre relacionado ao sub consciente da pessoa. O que não está relacionado dificilmente poderá ser "traduzido".

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