quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Experiência Enteogênica: Como Trabalhar com Experiências Difíceis? (Parte 1) [Portas da Percepção Ed. #185]

por Fernando Beserra

 

Pessoal, estamos nos aproximando do fim da tradução do livro de Krystle Cole Neurosoup Trip Guide. Em duas a três semanas estaremos finalizando a tradução que será fixada no site da Krystle e aqui no Hempadão. Esse é o capítulo que mais gosto, particularmente, do livro de Krystle. Talvez seja o mais importante para os psiconautas. É importante, portanto, a degustação do capítulo.

 

Capítulo 5:

Trabalhar com experiências difíceis

Todos temos temido experiências difíceis ou más viagens em um momento ou outro. É algo que de alguma maneira vêm no pacote da experiência enteogênica. Viajar é como a vida mesma, com seus altos e baixos, seus bons e maus momentos e tudo são expressões de ambas as partes do ying-yang. Podemos sentir que vamos morrer, que nos tornamos loucos ou nos perdemos por completo em nossa própria mente. Amiúde pensa-se se haverá retorno ao estado normal e para a realidade ou pergunta-se inclusive o que é a realidade...

 

Durante a experiência

Existem formas de preparar uma viagem (o vimos no capítulo 2) que evitarão fazê-lo em estados mentais e ambientes pouco adequados, que com muita probabilidade podem levá-lo a atravessar dificuldades. Dito isto, também podem ocorrer más viagens inclusive nas melhores e mais cuidadosas circunstancias. Mas, geralmente estas más viagens nos ensinarão mais sobre nos mesmos que as mais prazerosas e fáceis. Logo, tampouco é sempre tão boa idéia evitá-los por completo.

 

Durante uma viagem difícil, com frequência é o medo que conduz a experiência. Se o permite tomar controle dos pensamentos e de tudo na viagem, sentimos mais e mais temor. A consciência está rompida e se tem medo inclusive de morrer. Se tem medo de haver tomado uma dose excessiva, do que os amigos pensam de nós, podemos não recordar quem somos ou como falar, ter medo de estar perdendo a cabeça, de não sermos capazes de recobrar a normalidade... Se começa a dar voltar a este tipo de pensamento e a pessoa se perde completamente neles uma ou outra vez. Nossa existência se move em um caracol atemporal de medo que se repete sem remissão e eternamente.

 

Quando me encontrei neste tipo de estados mentais procurei distintas coisas para detê-lo ou ao menos fazê-lo remitir ou mais favorável. Tenho descoberto que o que em algumas ocasiões funcionou pode ser que não funcione em outras. Não há nenhuma forma infalível de reconduzir uma má viagem em uma boa ou mais fácil. Cada pessoa é única e singular, o que significa que cada um deve descobrir o que funciona melhor para manejar este tipo de experiências.

 

Reconfortar. As vezes tudo o que se necessita para suavizar uma má viagem é um pouco de serenidade e alento. Falar tranquilamente explicando que tudo vai bem e que se vai superar a viagem sem nenhum problema. Fazer compreender que se está a salvo e seguro de maneira que o medo experimentado possa ir remitindo.

 

Mas, o que ocorre se não temos nada que nos reconforte nestas ocasiões ou não está funcionando a ajuda prestada ou não se quer dizer a ninguém o que está ocorrendo? Podemos intentar fazê-lo nós mesmos. Dizemos a nós mesmos que tudo vai bem, que os efeito passarão, que se está perfeitamente e que não se passa nada.

 

Calma. É importante manter a calma. Talvez seja mais fácil dizê-lo quando na realidade pode ser que o medo nos esteja desestabilizando seriamente. Mas, realmente ajudará relaxarmos e não dar tanto importância aos pensamentos ou emoções negativas. Há muitas coisas práticas que podem gerar este relaxamento. Por exemplo: respirar devagar e profundamente para diminuir o ritmo cardíaco, tentar algumas posturas de yoga ou posicionar-se para meditar.

 

Contato. O contato humano pode ser muito útil nestas situações. Proteger-se (aconchegar-se) com alguém de confiança e querido pode relaxar de imediato. Se algum amigo está tendo dificuldades podemos procurar dar-lhe um abraço, o qual incrementará sua sensação de segurança, relaxamento e o fará sentir-se reconfortado, sereno e parte deste mundo.

 

Caso se viaje sozinho, outra maneira de manter-se em contato com a realidade é ter próximo um animal de companhia. Se tiver um cão ou gato pode ser boa idéia ir acariciá-lo. Percorrer seus pelos com nossos dedos e sentir seu apreço incondicional pode levar a viagem em uma direção completamente distinta.

 

Ambiente. Com efeito, quando alguém está viajando absorve a energia do lugar em que o estão fazendo. Se estiver viajando em um lugar com muita energia, muitas luzes, música alta e gente dançando, provavelmente sentirá essa energia positiva. Pode ser uma experiência maravilhosa, embora também possa aumentar a ansiedade de uma má viagem. Se estiver nesta situação, como em uma festa rave, podemos pedir a algum amigo que nos leve a algum lugar mais tranquilo, com menos gente e menos estímulos. Pode ser uma casa ou uma zona isolada de um parque.

 

O seguinte se refere mais ao caso de quando estamos sozinhos ou em um entorno controlado por nós mesmos. É bom ter uns CDs a mão com música relaxante que se possa escutar durante a experiência. Quando se entra em momentos de ansiedade pode resultar verdadeiramente útil pôr-los e criar um fundo de paz e tranquilidade para a viagem. Sempre me tem parecido que escutar música tribal com tambores, um ritmo marcado e gente cantando bonitas melodias de outras culturas pode levar a viagem até um enfoque mais universal.

 

Também se pode sugerir que se tome uma ducha. A água quente caindo pelo corpo pode ser muito relaxante. Conforme a água nos cai e limpa, podemos imaginar que com ela nos desfazemos de toda a energia e pensamentos negativos que estão nos angustiando. Da mesma maneira que a água se vai pelo escoadouro também vão as más vibrações.

 

Mudança de estado mental. Estaria bem procurar aprender como mudar nosso estado mental ou fio de pensamentos durante a experiência. É mais fácil dizê-lo que fazê-lo; requer algo de prática e também assim pode resultar difícil este resultado sem incluir alguns outros dos métodos sugeridos acima. Dito isto, descreverei dois métodos que a mim tem funcionado.

 

O primeiro consiste em adentrar no medo e permitir que te envolva. Procurar convencer-se de que o pior dos medos já ocorreu e enfrentá-lo de cara. Para por um exemplo, pensemos que se está tendo uma má viagem porque se tem a sensação de que estamos ficando loucos e que nunca tornaremos a recuperar o estado normal. Nesta circunstancia intentamos explorar o assunto e experimentá-lo ao máximo. Digamo-nos: fiquei louco.... E agora? Nunca voltarei.... Que significa isso exatamente? Por que me dá tanto medo? Sigamos rodeando mais e mais o que cria este medo. Finalmente se sairá pelo outro lado, tendo aprendido qual é o motivo principal do medo.

 

O segundo método é intentar recordar uma viagem anterior na qual tivemos uma experiência completamente maravilhosa. Podemos de alguma forma procurar retroceder este caminho na nossa mente para trazer as sensações passadas ao presente. Recordar que o tempo e o espaço não existem da mesma maneira que na realidade normal. Com isso em mente pensemos que trazer experiências prazerosas passadas ao presente é possível, sem mais. Alcancemos e tragamos idéias que queremos incorporar na experiência atual.

 

Uma forma de ver isto talvez mais fácil de entender é comparar o viajar com o sonhar. Quando sonhamos frequentemente sentimos que não podemos controlar nada. As vezes o medo se apodera da situação e temos pesadelos. Normalmente quando se tem um pesadelo nos despertamos e o medo sonho termina, sem mais. Mudar nosso estado mental durante uma viagem é simplesmente despertar de um sonho ruim. Quando aprende como fazê-lo, isso se torna mais natural. O mais difícil é aprender como mudar seu estado mental em primeiro lugar.

 

Intervenção farmacológica. Tomar um medicamento tranquilizante que possa ajudar a sair da experiência é o último recurso antes de ir a um hospital. Eu não posso recomendar que ninguém se auto-medique desta maneira, pois terá que ir ao médico e seguir as instruções farmacológicas apropriadas que ele prescreve. Mas posso explicar o que funcionou em algumas ocasiões para mim. Houve ocasiões nas quais tomei uma benzodiazepina como Valium ou Xanax para sair de alguma má viagem particularmente forte. Em cada ocasião provei todo outro tipo de coisas que me ocorreram para acalmar-me, mas não funcionaram. Quando não me restava nada mais, tomei Valium. O efeito e a sensação de tranquilidade geralmente tem lugar uma meia hora depois de tomá-los. Alguns efeitos do enteógeno diminuem, mas ao mesmo tempo me alegrei de sair e começar a sentir-me sóbrio.

 

Continua na próxima semana…

10 comentários:

  1. Já tive algumas Bad Trips de erva; geralmente são como terapias, expondo questões emocionais e existenciais que precisam ser encaradas de frente e assimiladas de forma menos traumática.
    Acredito que a brisa varia com seu estado de espirito, com a vibe do ambiente e o pólo energético que estamos captando no momento.

    Sugiro à rapaziada na roda que comentem sobre viagens ruins. Alias; seria um bom artigo a postar no Hempada.

    Abraço!

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  2. parabéns!! muito bom!

    GoodTrip ~

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  3. A primeira vez que eu realmente chapei (não a primeira que eu fumei), a briza foi muito forte, nada parecido com as brizas que eu tenho hoje. Foi uma sensação de estar um sonho mesmo mais ao mesmo tempo eu ficava nervoso por que achava que ia ficar louco daquele jeito pra sempre.. Tudo que eu ouvia tinha um tom mais suave, tudo que eu via era em tom de sépia realmente muito lindo, lembrando que era cerca de 4:30 quando eu entrei mesmo na briza.. A briza que mais me alterou na vida e ao mesmo tempo a mais linda. Hoje em dia posso dizer que não sinto nem 10% direito da briza que sentia, isso se deve ao fato de eu consumir excessivamente.

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  4. Já vi amigos terem bad trips terríveis de erva e eu mesmo já tive algumas... no geral a gente aprende muito com elas.

    Dentro dessas sugestões da Krystle, pra mim a melhor é encarar o medo.

    Eu vejo o medo sentido numa bad como algo mais emocional do que racional, por isso o ambiente e o estado mental influenciam muito no surgimento dele, que - pelas minhas conclusões - se dá a partir das relações que a gente faz com a palavra.

    Acho que a razão, ou seja, a reflexão encima do receio que se tem é a melhor forma de superá-lo... Esse exemplo da loucura é perfeito.

    sem bad trip nada me abala ♫ ☼

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  5. Nas minhas primeiras experiencias com a erva tive algumas bad trip.
    mais o mais interessante com o passar do tempo usando a erva é incrivel como tudo que vc faz da certo, EU CONSIGO ME SAIR BEM EM QUALQUER SITUAÇÃO QUANDO ESTOU NO EFEITO DA ERVA

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  6. É ja tive bad trip de 1 ano, com o uso diario de varios tipos de drogas, e estou me recuperando, quando nao se entende fica complicado ai ela te domina my broder

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  7. Tirou palavras de minha boca...

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  8. velho eu tbm na 1 vez que chapei com erva(nao q fumei) tive um této muito forte que nunca mais alcancei! mas tive uma bad muito forte,medo de desapontar pais essas coisas,depois tive medo de nao voltar mais a realidade,tava com a percepção de tempo e a percepção visual alteradas,permaneci assim por umas 2 semanas,achando que nunca mais voltaria,mas depois passou! faz mais de ano ja que isso me aconteceu e eu continuo fumando eventualmente (cerca de 1 a 5 vezes por mes,com os brother),as vezes ainda começo a entrar na bad,mas logo saio dela! Seria legal se o hempa criasse um espaço pra debatermos a bad com MACONHA para que possamos entender melhor o que elas significam,nos ajudar,e termos good trips! abraçoss raça

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. É incrivel, geralmente o pessoal tem a bad na primeira vez em que chapa de verdade... Comigo tbm foi assim... É como se sua consciência falasse mais alto, e costuma falar coisas que dão medo... rsrsrs. Mas depois, com o acúmulo de experiência, as bads são bastante insignificantes, e a gente aprende a aproveitar o melhor da viajem... #goodtripforus !!!

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